“A humanidade não merece a vida” . Com esta manchete, a Folha de São Paulo, em 20.11.08, publicou uma entrevista com o prêmio Nobel José Saramago, com o seguinte registro: “O desastre da humanidade – A história da humanidade é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz. Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar... mas não é só isso. Esta raiva que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. Se fizermos um cálculo de quantos delinqüentes vivem no mundo, deve ser um número fabuloso. Vivemos na violência. Não usamos a razão para defender a vida. Usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras – no plano privado e no plano público.” No momento em que líamos, achamos muito pessimista, mas logo a mídia alardeava situações de violência urbana, ou contra a Natureza, provocadas pelo homem, no País e no Mundo, que aparentemente lhe davam razão. Vendo tanta coisa ruim em volta, quando coisas más acontecem a pessoas boas, enquanto ímpios prosperam, ficamos intimamente revoltados, e pela impotência, muitas vezes perplexos.
Também o filosofo Schopenhauer ponderava que “O mundo e a vida são injustos e dolorosos. O prazer é somente um placebo momentâneo . Dor, desejos insatisfeitos, aborrecimentos, lutas intermináveis, morte. O mundo e nossa vida nele é isto e nada mais.” Aqui também reagimos contestando, para já na primeira irritação voltar atrás.
Mas, verdadeiramente, há momentos na vida em que o aborrecimento e a insatisfação quase(?) nos dominam. São as situações adversas, ruídos na comunicação com pessoas próximas, nossas próprias limitações (crescentes na terceira idade), ensejando que assimilemos bombardeios diários à nossa auto-estima, que acabam nos deprimindo. Esta face, ora mais, ora menos, desagradável, também faz parte da nossa personalidade, e não raro a projetamos no próximo; e por aí vai.
Como cristãos nossa tendência é relegar tais momentos, considerando-os como ilegítimos. Certamente que seria impensável vivermos eternamente nesta gangorra. Tampouco encontraremos respostas prontas que, de antemão, pacifiquem nossa mente, que solucionem de vez estes problemas, pois estão além de nossos esforços de racionalização. Aqui entra a fé que proclama que o homem não é um fim em si mesmo! Que existe Alguém no controle, e que a Paz é o nosso destino final.