segunda-feira, 5 de novembro de 2012

ARIDEZ DA ALMA



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Buscamos uma vida prazerosa mas experimentamos, pelo caminho, sensações como de aridez, como num deserto, para a alma. É quando nossos melhores propósitos parecem inúteis, os relacionamentos parecem perder qualquer encanto, e, o tempo parece se arrastar. Esta experiência é bem conhecida por alguns, que noutras circunstâncias são de espírito alegre e ativo. É como se tivessem gasto todo o combustível capaz de despertar algum entusiasmo. É quando o outro é visto como competidor, quando não adversário, ou, no mínimo, um estranho, remanescendo em qualquer caso, a sensação de carência de afinidade. Foi aqui que se cunhou o termo “queimado” a fim de descrever-se a condição da pessoa que se tornou mental e emocionalmente exaurida na luta pelo sucesso em sua profissão. Quando relacionados com a vida religiosa, estes momentos são conhecidos como esgotamento espiritual.
A experiência é também avaliada por alguns, como o caminho para passar da superfície de uma vida no nível dos sentidos para uma vida  de maior  profundidade. Neste contexto os sentidos são as nossas janelas, onde temos a visão sobre o mundo: pessoas, coisas, situações. Muitos passam a vida olhando pelas janelas: estamos tão voltados para fora que freqüentemente estamos sem contato com a dimensão mais profunda, espiritual do nosso ser. Exatamente a passagem da superfície de uma vida no nível dos sentidos, para uma vida  em maior profundidade, pode ser o fato gerador destes estados de desconforto. O termo “Noite Escura (da alma)” é originalmente usado no cristianismo para referir-se à crise espiritual na jornada rumo à união com Deus, como a que é descrita pelo místico cristão São João da Cruz. O ponto de partida é marcado pelo desejo das coisas deste mundo, a que a alma deve renunciar. A renuncia a coloca numa escuridão espessa, e é por isso que lhe é dado o nome de noite. Por meio da noite dos sentidos Deus obscurece a parte exterior, e a vida que aí se desenvolvia. Agora já não há mais interesse em olhar pelas janelas. O que antes dava alegria agora produz sensação de vazio. Tem-se a impressão de que se perdeu tempo, de que se perdeu o essencial. Qualquer reflexão não levará a nada. Mesmo fazendo todo esforço, sente-se apenas aridez. Ocorre que, enquanto, no nível dos sentidos tudo vai bem, não existe uma procura mais profunda, e você se acomoda. Você pode ganhar muito tempo, se compreender que a aridez não é mais sinal, e sim convite para transpor os limiares do campo dos sentimentos em direção a uma vida de maior profundidade.
E, finalmente, chegam os tempos de refrigério. Em meio à crise, súbito, e de maneira singular, flui uma corrente de ocorrências favoráveis, ensejando regozijo para a alma. Súbito identificamos respostas personalizadas que só nós discernimos como tal, ensejando inclusive solução para eventuais conflitos relacionados. Contrapondo-se ao deserto temos agora a imagem das fontes de águas cristalinas, que dessedentam e que são um refrigério para a alma esgotada.
Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe” foi a súplica do rei Davi, enquanto passava por uma destas experiências opressoras. O Neguebe não é um rio, mas a denominação de uma região desértica que fica no Sul da Palestina, uma grande extensão de terra improdutiva, na maior parte do ano. Durante a estação das chuvas ocorria algo muito especial com o Neguebe. Com estas chuvas caindo na Palestina, as águas, gradativamente, vinham escorrendo pelos montes até atingirem o deserto do Neguebe que ficava na região mais baixa. As águas abundantes formavam então vários riachos que regavam o deserto, e, em poucos dias, o lugar que antes era tão feio, solitário e sem vida, ganhava outro aspecto. Quando o rio desaparece pela evaporação, o deserto se transforma em um manancial com as mais belas flores e um verde onde somente no Neguebe se pode encontrar .  Os campos tornavam-se lindos, úmidos e floridos, coberto pelo verde da vegetação que ali era desenvolvida. A vida do lugar era restaurada. Os animais retornavam e a paisagem do ambiente tornava-se linda. A oração de Davi, pedindo ao Senhor para restaurar a sua sorte como as torrentes no Neguebe, acontece provavelmente em um momento em que ele se julga queimado, mas ele sabia que, tal como o Neguebe, restaurado pelas águas da Palestina, a sua sorte também seria restaurada pelo Senhor.
(adaptado de portais cristãos).