domingo, 19 de outubro de 2014

BABEL COM MUITAS VOZES E MEDO DO SILENCIO




“O homem é um ser essencialmente social. Sozinho não pode vir a este mundo, não pode crescer, não pode educar-se; sozinho não pode nem ao menos satisfazer suas necessidades mais elementares nem realizar as suas aspirações mais elevadas. Ele pode obter tudo isso apenas em companhia dos outros.” Com os outros, temos, desde relações estreitas e pessoais, que o filosofo chama de “Eu-Tu” (por oposição à relação objetivante “Eu-Isso),  até relações impessoais, dinamizadas através da mídia. Neste interim, “os modernos meios de comunicação colocaram cada um de nós em contato com os acontecimentos (importantes ou insignificantes) que ocorrem em qualquer parte do mundo. A vida de cada um de nós, hoje pode ser abalada de alto a baixo por causa de fatos que acontecem em qualquer parte do mundo, parte onde não colocamos nunca o pé e de onde, talvez, façamos uma idéia muito vaga. O menor ato humano e, qualquer realidade, por menor que seja, são co-envoltas em um regime social, que os dirige e compenetra em cada parte”. (Batista Mondim).
Babel na atualidade !  Como um sinal dos tempos, vivemos como que inundados em meio a uma avalanche de vozes, muitas desencontradas,  disputando nossa atenção.  Muitas dessas vozes vão influindo na formação da nossa personalidade, e, passam a ter o peso e a força da autoridade e da experiência, razão pela qual nos deixamos conformar por elas.  Fontes dessas vozes são por exemplo, nossos parentes, amigos, professores, estranhos, imprensa, opinião popular, e,  o burburinho da rua.
O fato novo, na sociedade contemporânea, é a explosão da comunicação de massa, capaz de nos deixar desorientados, em meio a esta comunicação impessoal, pautada pela mídia, que tem o poder de transformar seus aditos, em meras estações repetidoras, de noticiários, refrãos, e, slogans de mercado. Alguém já disse mesmo que, na maior parte do tempo, a maior parte das pessoas, está apenas repetindo o que viu na mídia. Corremos mesmo o risco de sucumbir como meros objetos de interesses alheios, sendo manipulados dentro de uma relação impessoal, simulacro da comunicação proativa, “única que poderá elevar a raça humana para além do medo, da ignorância e do isolamento que atualmente a cercam”.
Sob o título Neurônios em modo padrão - nome que se dá a uma atividade neurológica caracterizada por oscilações neurológicas que ocorrem sempre que alguém fica sozinho consigo mesmo - Rubem Amorese comenta na revista Ultimato (set/out- 2014), uma pesquisa em que pessoas foram deixadas sozinhas, numa sala por 15 minutos, para meditar sobre qualquer assunto de sua escolha. O resultado foi que ficar sem fazer nada por apenas 15 minutos, é insuportável para a maioria das pessoas. Elas relataram que preferiam receber pequenos choques do que ficar sem fazer nada! Estamos tão acostumados com as muitas vozes que nos chegam desde um celular ligado, e, com ele a TV ou o rádio, que objetivamente levamos multidões para onde quer que estejamos, e, desta forma evitamos o temível “modo padrão”.
O medo de ficar em silêncio é um fator motivador dessa comunicação impessoal. “O medo de ficarem sozinhas petrifica as pessoas, e as impulsiona para o barulho e para as multidões. Conservamos uma constante torrente de palavras mesmo que sejam ocas. Compramos rádios que prendemos ao nosso pulso, ou ajustamos aos nossos ouvidos de sorte que, se não houver ninguém por perto, pelo menos não estamos condenados ao silêncio. Outro motivo de quase não aguentarmos permanecer em silêncio é que ele também nos faz sentir desamparados. Estamos muito acostumados a depender das palavras para manobrar e controlar os outros. Se estivermos em silêncio, quem assumirá o controle? O silêncio está intimamente relacionado com a confiança. A língua é nossa mais poderosa arma de manipulação. Uma frenética torrente de palavras flui de nós porque estamos num constante processo de ajustar nossa imagem pública. Tememos muito o que pensamos que as outras pessoas vêm em nós, de modo que falamos a fim de corrigir o entendimento delas. Se fiz alguma coisa errada e descubro que você sabe disso, serei muito tentado a ajudá-lo a entender minha ação!”
Para além do tumulto de muitas vozes, e, do medo do silêncio. Finalmente, considerando que não podemos simplesmente ignorar, ou modificar o ambiente saturado de comunicação, fazer o que?  
Usar filtros para selecionar dentre as muitas vozes que nos assediam , e, ter foco, para onde dirigir precipuamente a atenção, parece ser uma saída mais ou menos óbvia. Diz respeito à uma ocupação seletiva da mente, dentre as muitas vozes que nos chegam espontaneamente. No contexto tem a ver, por exemplo, com quantas vezes podemos perder tempo com atividades como de telespectador compulsivo, com ligações, e-mails, acesso a blogs de personalidades famosas, redes sociais e vídeos, que nada tem a ver com nossa atividade ou foco? Um exemplo: “Hoje ninguém pode se desgrudar da TV”, diz um conhecido apresentador de realities. Mas, é exatamente o contrário: precisamos manter a TV desligada, e, só ligar para ver algum programa previamente escolhido.
Steve Jobs, gênio da computação, e, ícone contemporâneo de prosperidade, que desenvolveu e comercializou uma das primeiras linhas de computadores pessoais de sucesso, pondera: “Algumas pessoas acham que foco significa dizer sim para as coisas em que você irá focar. Mas não é nada disso. Significa dizer não às centenas de outras boas idéias que existem. Você precisa selecionar cuidadosamente”.
Conselho de um sábio: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. (Apostolo Paulo). Eis aí quatro filtros de primeira linha: só deve se tornar objeto de nossa atenção, o que passar nestes, a saber, o que é justo, puro, amável, e de boa fama.
Um paradigma: o foco e os filtros de Jesus Cristo. “Seu foco era unicamente conhecer e cumprir a vontade de Deus. Ele buscava transmitir esse princípio aos seus seguidores e lhes dizia: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, e sim a vontade daquele que me enviou”. Seu grande conhecimento das Escrituras era o bastante para fornecer o conteúdo de seu foco; mas como Jesus foi capaz de evitar as distrações e se ater à vontade De Deus? Jesus passava tempo a só com Deus. Em busca de solidão e para ouvir a voz do Pai celestial. Ele jejuava para se lembrar de que seu foco era Deus. Ele se identificava com sua missão divina, promovia-a e tinha-a como a prioridade de sua vida. Jesus orava continuamente em busca de direção. Também Jesus tomou decisões bem diferentes do padrão porque filtrava informações por meio de um sistema de diretrizes mentais, emocionais e espirituais. Seu filtro eliminava suposições e expectativas em favor de uma análise precisa dos fatos e dos princípios das Escrituras. O sermão do monte contém um exemplo-chave de seu modo singular de pensar”. (George Barna).