domingo, 19 de abril de 2015

“ENSINA-NOS A CONTAR OS NOSSOS DIAS”





“MEMENTO MORI” é um pensamento cristão, usado como saudação entre os monges trapistas, e significa, “lembra-te que hás de morrer”; também empregado em inscrições tumulares” tais como “Memento homo qui a pulvis est et in pulvere revertere” (lembra-te homem, que és pó, e ao pó retornarás), longe de ser um pensamento mórbido ou depressivo, trata-se de uma expressão de sabedoria conforme empregada pelo salmista no título acima.
A imprevisibilidade e a brevidade, são duas características inerentes à vida, e, que esporadicamente são acentuadas em determinadas circunstâncias críticas: como em cada parente e amigo que “se vai”, é como que um eloquente sinal de atenção, para se parar e refletir sobre o dom (presente) da vida. Assim vamos acumulando lembranças bem guardadas, com muito carinho, de pais e outros familiares, e, de amigos, que hoje já encerraram suas jornadas neste lado da vida (saudades da minha turma de engenharia de 1970, o primeiro passo para uma vida que se anunciava plena de desafios e vitórias no campo profissional; quantos sonhos foram realizados, quantos interrompidos ?). E o pensamento recorrente de que poderia também não estar mais deste lado da vida! E o que estaria (estariam) fazendo  agora? Por oportuno, considerar a “aposta de Pascal” (1). É quando na imaginação, ultrapassamos as barreiras do tempo e do espaço, para vislumbrar um instante da eternidade, trazendo de volta à vida, lembranças adormecidas com o sabor de emoções vividas. Também nas tragédias, como a ocorrida com o voo da Lufthansa, em um passado recente (dentre as vítimas, uma jovem doutora que era nossa amiga), e mais recente com o avião da Germanwings (2), de grande comoção mundial, são como que outdoors iluminados, com “Memento Mori”. Noticias de terríveis catástrofes, massacres, assassinatos nos chegam todos os dias, e, aparentemente, já não mais nos abalam mais, pois de tão continuados virou quase uma rotina trágica.
“Calcula-se que, desde seu aparecimento no planeta Terra, cerca de 80 bilhões de seres humanos já viveram em sua superfície. A Revolução Industrial melhorou as condições sanitárias nas cidades e permitiu o desenvolvimento de novos remédios, vacinas e anestesias. A descoberta da penicilina (1928), a vacina contra a poliomielite, contra a rubéola, contra o sarampo, contra a hepatite aprimoraram a medicina. Os estudos do genoma humano fez com que os males genéticos passassem a ser combatidos antes mesmo do aparecimento dos sintomas. Vacinas contra a malária, e contra a aids, a medicina genética, pode aprimorar tratamentos contra o câncer. Uma pesquisa da consultoria americana Pew Research mostrou que 69% das pessoas dizem preferir morrer entre 79 e 100 anos, a sobreviver até mais de 120 anos,  mas, decrépitos e descrentes, desesperados, e, inevitavelmente chegariam a um estágio em que prefeririam a morte. (Reportagem da Veja)
As perdas nos dão a exata dimensão dos ganhos, sendo a morte, a perda maior que podemos sofrer, que nos faz valorizar a vida. “As perdas que se acumulam ao longo da vida podem ser distribuídas em : doenças crônicas e limitações físicas em si próprio;  morte de parentes e amigos; morte de um animal de estimação; perdas materiais significativas. Tendo em vista que a vida é o dom maior que recebemos, não devemos pensar que a morte deva ser procurada. Devemos, sim, viver a vida em plenitude, no tempo que nos for dado viver. Devemos respeitar a vida, desde a concepção até a morte, cuidando dela, tornando-a a melhor possível, para nós e para todos os seres vivos ao redor de nós, enquanto vida tivermos. Qualquer pessoa de bom senso com certeza gostará de deixar uma recordação, por menor que seja, de alguém que deu bons frutos, que justificou sua passagem por esta vida. Não necessariamente por grandes obras, quase sempre de importância duvidosa, mas essencialmente pelas pequeninas coisas boas que fez no dia a dia, pelo comportamento ético e respeitoso. “
O medo de morrer é inerente a nossa vida. “É por causa dele que nos encontramos vivos até hoje. Trata-se de uma reação instintiva que nos  afasta das situações de perigo. É pelo medo de morrer que não pulamos no mar, se não sabemos nadar. Enquanto dentro de certos limites, este medo é saudável e desejável. Contudo, se ele os ultrapassa, pode tornar-se um entrave para a qualidade de vida, impedindo a pessoa de realizar coisas normais. Temos medo da dor, do sofrimento, da dependência de terceiros, de situações degradantes que possamos enfrentar, enfim, de qualquer desconforto mais acentuado. Com o avanço dos conhecimentos e, sobretudo da tecnologia, o ser humano foi se tornando a cada dia, mais distante do ciclo vital universal da vida e da morte, que para ele se tornou um terror”.
Destaques do Manual do Fabricante (DEUS mesmo):
- “porque tu és pó e ao pó tornarás”(Gênesis 3:19)
- Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite (Salmos 90:4)
Tu os levas como uma corrente de água; são como um sono; de manhã são como a erva que cresce. De madrugada floresce e cresce; à tarde corta-se e seca (Salmos 90:5-6)
...passamos os nossos anos como um conto que se conta (Salmos 90:9)
Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando (Salmos 90:10)
Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios (Salmos 90:12)
Comentando este Salmos 90, o Rabbi Joshua Haberman, pondera: “A vida é cheia de contradições: é um presente – que é tomado à frente. É crescimento – e declínio; oferece prazeres – e pânico. Entre os muitos bilhões de pessoas, não existem dois iguais, mas todos compartilham o mesmo fim. Tudo que nós somos desaparece na morte, ou pelo menos assim parece para nós. Dois mistérios envolvem a vida: onde estávamos antes de nascer e o que seremos depois da morte. O salmo fala para nós acerca de realidades da vida. Nossa breve manhã da vida começa com um espantoso poder para crescer (v 6). Mas breve nós começamos a declinar (v 6). O salmista dimensiona nosso período curto normal de vida normal (v 10). Mas mesmo quando vivemos até seus limites, a vida é um mero lampejo da eternidade (v 10). Porque nosso tempo é tão curto, não podemos nesciamente desperdiçá-lo. Para fazer uso próprio de nosso tempo de vida, nós precisamos de sabedoria (v 12). Mas independentemente de como vivemos nossas vidas, sábia ou nesciamente, o que permanece quando tudo se foi é como sem substancia (v 9). Isto, todavia, não é a história completa. O homem tem um lugar com o Eterno. Na presença de Deus, tempo não tem significado. (v 4).  
- “Tragada foi a morte na vitória”.1 Coríntios 15:54. A boa noticia da Páscoa, e que é o suporte de todo o Evangelho, é a morte da própria morte. Doravante é vida eterna, com a promessa de ressurreição envolvendo corpo e alma. “A ressurreição de Jesus Cristo (no passado) e a ressurreição de nosso corpo (que ainda é futuro), estão ambas relacionadas, por Jesus Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”. Filipenses 3:21. Isto é fantástico ! muito além do que poderíamos imaginar !

P. S.
(1)A Aposta de Pascal “é uma proposta argumentativa de filosofia criada pelo filósofomatemático e físico francês do século XVII Blaise Pascal. Ela postula que há mais a ser ganho pela suposição da existência de Deus do que pelo ateísmo, e que uma pessoa racional deveria pautar sua existência como se Deus existisse, mesmo que a veracidade da questão não possa ser conhecida de fato. Historicamente, foi um trabalho pioneiro no campo da teoria das probabilidades, marcou o primeiro uso formal da teoria da decisão, e antecipou filosofias futuras como existencialismopragmatismo e voluntarismo.
Este argumento tem o formato que se segue:
  • se você acredita em Deus e estiver certo, você terá um ganho infinito;
  • se você acredita em Deus e estiver errado, você terá uma perda finita;
  • se você não acredita em Deus e estiver certo, você terá um ganho finito;
  • se você não acredita em Deus e estiver errado, você terá uma perda infinita.
Pascal referenciou a dificuldade da razão posta para a crença genuína propondo que "agir como se acreditar" pudesse "curar da descrença". (Wikipédia)


(2)“Entre os 150 mortos do vôo da Germanwings havia 16 adolescentes de 15 a 16 anos de um mesmo colégio da cidade ... de apenas 38.000 habitantes... Os estudantes alemães eram vistos na escola como privilegiados. Eles haviam sido sorteados, entre 40 alunos, para um intercâmbio de uma semana em Barcelona, na Espanha, com o intuito de aprender espanhol morando em casas de família. Duas professoras acompanhavam o grupo na viagem sem volta. Uma das alunas por pouco não escapou. Ela havia esquecido seu passaporte e, evidentemente, não poderia embarcar. Mas a família que a acolheu em Barcelona percorreu os 50 km até o aeroporto para lhe entregar o documento, e ela finalmente embarcou com os companheiros de estudo e sorrisos. O desastre nos Alpes matou cidadãos de 18 países, incluindo outros adolescentes, uma criança e 2 bebês, um de apenas 7 meses.” (Reportagem da Veja).