segunda-feira, 19 de outubro de 2015

PESSOAS INESQUECÍVEIS



Sobre pessoas inesquecíveis, compartilho o pensamento do meu caro amigo e médico, Dr. José Luiz Pires (*): Penso que cada ser humano é uma síntese constituída de milhares de pessoas que passam a fazer parte dele. Desses milhares, um certo número tem uma parte mais significativa nesse universo-síntese. Entre os que são contados nesse certo número, estão alguns que, por uma razão ou outra, nos alcançaram de modo mais direto. E nestes, que nos alcançaram de um modo mais direto, estão os que atuaram em diferentes áreas, épocas e aspectos da nossa vida.”
Somos em grande parte, moldados pelas interações com outras pessoas, desde a família, amigos, colegas de trabalho, professores, líderes espirituais, etc. isto sem contar de que desfrutamos crescentemente dos avanços tecnológicos propiciados por muitos outros, ao longo da história; em resumo nossa interdependência, mostra o quanto somos devedores a tantos,  em meios aos quais naturalmente destacamos aquelas pessoas inesquecíveis, que nos tocaram de forma diferenciada e marcante.
Esta multiplicidade de influências converge então para uma singularidade, que é a vida de cada ser humano consciente. Na composição de cada um entram ingredientes comuns, mas que, em medidas e condições diferenciadas, em função de circunstancias e do próprio desenvolvimento de cada um, no seu conjunto enseja um ser único; ninguém é exatamente igual ao outro. “Cada homem traz algo de novo ao mundo, algo que ainda não existia, algo sério e único. A obrigação de cada homem... é saber refletir sobre seu caráter único em seu modo de ser e sobre o fato de nunca ter existido ninguém igual sobre a terra. Se alguém igual já tivesse habitado a terra, não precisaria estar aqui.” Para Viktor Frankl, sábio criador da Logoterapia (corrente da Psicologia centrado na busca de sentido, põe ainda em evidência a importancia de cada um: “O ser humano é um acontecimento único em todo o cosmo, por esse motivo ele mesmo se constituiria como um valor em si mesmo e também seria portador de uma dignidade inalienável. Como um ser irrepetível, nescessita encontrar e realizar um sentido para a sua vida.”
Por sua vez, a singularidade desenvolve-se não de forma autocentrada, mas antes pela orientação para o outro: ainda Viktor Frankl,compreeende que a meta mais nobre do ser humano seria a autotranscedência, fenômeno especificamente humano que significa que quanto mais a pessoa encontra-se voltada para algo ou alguém, mais humana será”.  Frankl cita os ensinamentos de Hillel, que sintetizou uma profunda sabedoria de vida por meio de três perguntas: se eu não o faço, quem o fará? e se eu não o faço agora, quando se fará? e se só para mim o faço, o que é que eu sou afinal? Para ele, a primeira pergunta se remeteria à unicidade do sentido e da pessoa humana. Assim o sentido é intransferível, pois seria dado para um determinado sujeito. Já a segunda pergunta se relacionaria com a transitoriedade do sentido; se o ser o humano o realiza, realiza para sempre, salvando na perenidade do passado. Por fim, a última pergunta despertaria a autotranscedência do ser humano, desviando o olhar de qualquer vantagem pessoal”.
Isto destaca a insensatez do egoísta, que se imagina no centro de tudo, em detrimento dos demais, como um poço que só recebesse água. É típico do egoísta, o pensamento de que “tudo que tenho é meu, me pertence por direito, e, afinal não devo nada a ninguém.
Ser, ou, tornar-se também inesquecível para outros, faz parte afinal de nossa vocação comum, aquilo para o qual fomos feitos. Aponta para a transcendência de nossas ações, onde tudo afinal se resume no amor: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” Marcos 12:30,31. Neste resumo do próprio Deus, criador de tudo, podemos encontrar aqueles para os quais devemos nos tornar pessoas inesquecíveis: Deus, em primeiro lugar; em seguida, para com o nosso próximo, na mesma medida de nós mesmos.

(*) escreveu “Sob a Mão de Deus”, “um relato de casos vividos por um médico numa região pioneira do País. Tabalhando em condições precaríssimas, esse cristão no seu labor profissional, foi levado a experimentar, de modo muito real, a mão de Deus – sábia, poderosa e cheia de amor, repousando sobre a sua”.


Fonte: A presença não ignorada de Deus na obra de Viktor Frankl, de Thiago Antonio Avellar de Aquino.