sábado, 20 de outubro de 2012

REMINDO NOSSO TEMPO



Abro a minha caixa de e.mails, e encontro uma mensagem tocante , numa embalagem sonora e visual idem, intitulada “Relógio do coração”, do poeta Mario Quintana. Inicia pela sabedoria do Eclesiastes: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do Céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de abraçar e tempo de afastar-se; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz”. E, segue enumerando a magia das horas:  Há tempos em nossa vida que contam de forma diferente. Há semanas que duraram anos, como há anos que não contaram um dia... há amigos que passaram céleres, apesar do calendário mostrar que eles ficaram por anos em nossas agendas... Há tristezas que nos paralisaram por meses, mas que hoje, passados os dias difíceis, mal guardamos lembranças de horas. Há eventos que marcaram, e que duram para sempre,o nascimento do filho, a morte do pai, a viagem inesquecível, um sonho realizado... O relógio do coração – hoje eu descubro – bate noutra freqüência daquele que carrego no pulso. Marca um tempo diferente, de emoções que perduram e que mostram o verdadeiro tempo da gente.”
O poema traz a marca da sabedoria de quem vislumbrou a magia da vida. Anteriormente, já estivera buscando na literatura, inclusive abordagens da Ciência, textos que explorassem a questão do tempo, todavia sem uma conclusão prática, talvez, porque seja mais um dos mistérios da vida, a ser vivenciado, antes que decodificado.
Também Henri Boulad, em seu titulo “Deus e o mistério do tempo”, destaca que “O tempo passa em uma velocidade relativa à intensidade da vida vivida e da qualidade de vida experimentada. Não é a duração, mas a qualidade, que dá significado à vida. O tempo verdadeiro não é o do relógio ou do calendário, mas o tempo da consciência. A concentração do tempo relaciona-se com uma intensidade de emoção, de vida, de sensação e de interesse. O tempo que sentimos estar passando é tempo perdido. Não fugimos ao tempo pela evasão, e sim pela atenção.“
A este respeito trago ainda à memória outro poema muito popular, de autor desconhecido, “Sobre Tempo e Jabuticabas, do qual destaco:Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades ... Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa. Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.O essencial faz a vida valer a pena.”
Fecho esta postagem, com a imagem do peregrino, que, em meio à voracidade do tempo, caminha sempre, com o olhar admirado,  sem muita pressa, e posse para carregar, mas, antes, agradecido quando encontra companhia no jornadear, e, que vão sendo complementadas, com o passar dos anos, pela  lembrança daqueles que fizeram parte dos encontros passados, e, que, doravante, encontram-se, mais ou menos, sem chances de a ela retornarem. Peregrinos, destaca também a nossa condição de transitoriedade, com um destino sempre à frente, ao ensejo em que a vida não pode se circunscrever ao tempo presente, sendo que o passado já nos escapou, e o futuro somente pode ser alcançado por um ato de fé.
Na Biblia somos orientados “... vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo (usando bem, ou, aproveitando ao máximo, cada oportunidade)...”. Remir é adquirir de novo, e, que  é o oposto de perder, desperdiçar o tempo.