sábado, 20 de dezembro de 2014

O QUE JESUS PEDIU AO PAI



O que Jesus quer neste Natal?  Segundo John Piper, nós podemos ver a resposta em Suas orações. O que Ele pedia a Deus? A sua mais longa oração está em João capitulo 17. Vejamos o clímax do Seu desejo:
“Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim”.(João 17:20-23).
Mais do que uma relação do tipo “Eu-Tu”, entre duas pessoas, “A perfeita unidade ... inclui a comunhão mística especial com Deus Filho (... eu neles...), o que, ao mesmo tempo, é a comunhão mística com Deus Pai (... tu em mim...). Disso resulta uma comunhão perfeita, bem com uma unidade perfeita, tal como a união entre Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo é perfeita. Eles possuem a mesma natureza, os mesmos desígnios, os mesmos propósitos, os mesmos padrões morais e os mesmos alvos. Os cristãos estão sendo dirigidos por essa mesma natureza divina, para o exercício dos mesmos propósitos, para que sigam a mesma expressão moral, para que busquem os mesmos alvos, para que conheçam o mesmo amor”. (Novo Testamento interpretado, versículo a versículo).
“Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo”. Existem aqueles que Deus “deu para Jesus”. Esses são aqueles que o Pai atraiu para o Filho (Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. João 6:44); pessoas que “receberam” Jesus como o crucificado e ressurreto Salvador e Senhor e Tesouro de suas vidas (Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. João 3:17 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;João 1:12) .
Jesus pediu ao Pai que eles estejam com Ele. Noutra ocasião, ele já havia dito que Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também” (João 14:2-3).
“ …para que vejam a minha glória que me [o Pai] deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” Ele e o Pai e o Espírito são profundamente satisfeitos na comunhão da Trindade... E o que Jesus deseja para o Natal é que nós experimentemos aquilo para a qual nós realmente fomos feitos – contemplar e experimentar [saborear] sua glória. Isso é o que Jesus pede por nós neste Natal: Pai, mostre a eles a minha glória e dê-lhes o mesmo deleite em mim que Tu tens por mim”. Que nós não apenas vejamos Sua glória, mas a experimentemos, nos satisfaçamos nela, nos deleitemos nela, façamos dela o nosso tesouro, e a amemos !
E eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, ...” Esse é o final da oração. ... que nós O amemos com o mesmo amor que o Pai tem por Ele: “para que o amor com que me [o Pai] tens amado esteja neles.” O anseio e propósito de Jesus é que nós vejamos Sua glória, e, então, que nós sejamos capazes de amar o que vemos, com o mesmo amor que o Pai tem pelo Filho. Ele quer dizer que o próprio Amor do Pai se torne o nosso amor pelo Filho; que nós amemos o Filho com o amor do Pai pelo Filho. Isso é o que o Espírito se torna, e derrama em nossas vidas: Amor ao Filho pelo Pai através do Espírito. O que Jesus mais quer para o Natal é que Seus eleitos estejam reunidos para contemplar Sua glória e então experimentá-la com o mesmo gosto do Pai pelo Filho.






quarta-feira, 19 de novembro de 2014

RELAÇÕES NOTÁVEIS


Ter e Ser como dois modos diferentes de existir, juntamente com “Eu-Tu e Eu-Isso como duas formas de relacionamentos entre duas pessoas, e entre uma pessoa e uma coisa, respectivamente, são relações notáveis, pelo poder de síntese em expressar aspectos vitais da condição humana.
O psicanalista, sociólogo, e filosofo, Erich Fromm em seu livro “Ter e Ser” apresenta estas, como duas formas fundamentais de existência; são duas maneiras diversas de orientação de si mesmo, e, em relação ao mundo que nos rodeia; são duas diferentes espécies de estrutura de caráter cujas respectivas predominâncias determinam a totalidade do pensar, sentir e agir de uma pessoa.
No modo ser de existência domina a experiência viva que é inefável, e indefinivel. Esta não pode ser consumida, comprada ou adquirida como os objetos do ter, mas apenas praticada, exercitada, feita.
No modo ter de existência, meu relacionamento com o mundo é de pertença e posse, e quero ter cada vez mais; minha inclinação é voltada egoísticamente só para mim mesmo, meus interesses, meus desejos e necessidades, mesmo que se realizem em detrimento dos outros. Ter é uma função normal de nossa vida, e, a questão deixa de ser se a pessoa tem algo, mas se ela é dominada pelo desejo de posse, e se, se dedica de corpo e alma ao que tem ou não. E, não há quase nada que não possa vir a ser objeto do desejo de posse: coisas materiais, mas, também fixamos nossa vivência no modo ter, relacionado a virtudes e valores, como em ter honra, ter prestígio, ter determinada imagem, etc.
A diferença entre os modos ter e ser, pode ser ilustrada, por exemplo, em relação ao conhecimento, e, expressa-se em duas formulações: tenho conhecimento (substantivo, que indica algo perfeitamente definido) e conheço (verbo, que indica ação). Ter conhecimento é tomar e conservar posse de conhecimento disponível (informação); conhecer pelo contrário, significa penetrar através da superfície a fim de chegar às causas, significa ver a realidade em sua nudez. O conhecimento ideal no modo ser é conhecer mais profundamente; no modo ter é ter mais conhecimento. Diferentemente dos objetos do ter, cuja quantidade diminui quando utilizados, as realidades do modo ser, como o amor, crescem e aumentam quanto mais repartidos e empregados.
A inclinação dominante ao modo ter, em detrimento do ser, é característica da sociedade industrial ocidental, na qual a avidez por dinheiro, fama, e poder tornou-se o tema dominante da vida. Os consumidores modernos podem identificar-se pela fórmula: eu sou = o que tenho e o que consumo. É neste contexto atual, que o dinheiro, símbolo máximo de sucesso no modo ter de existir, assume as proporções de um deus, isto é, o foco onde  se põe o coração, e, que é a forma de idolatria mais comum na atualidade.
Outro filosofo, e rabino Martim Buber, deu ênfase à ideia de que não há existência sem comunicação e diálogo. “As palavras-princípio, Eu-Tu, Eu-Isso, demonstram as duas dimensões da filosofia do diálogo que, segundo Buber, dizem respeito à própria existência.
Eu-tu é um encontro de pessoas vivas se relacionando de modo a se conhecerem melhor, umas às outras; eu me deixo influenciar através do diálogo; ela se torna um tu. Minhas próprias mudanças dependem deste relacionamento.
Por outro lado, há diversos modos de existência caracterizada pela atitude Eu-Isso, que se resumem em dois conceitos: experiência  e a utilização ou uso. A experiência estabelece um contato na estrutura do relacionamento, de certo modo unidirecional entre um Eu, e um objeto manipulável; ao tomar a atitude Eu-Isso o Eu não se volta para o outro, mas encerra em si toda a iniciativa da ação. Por exemplo, "Eu considero uma árvore", diz Buber. Ela é meu objeto, um Isso. O relacionamento Eu-Isso, é indispensável para a vida humana. Sem ele, seria inviabilizada a possibilidade de se assegurar a continuidade da vida humana, suprindo as necessidades vitais por meio de toda uma variada gama de atividades técnicas, econômicas, institucionais, jurídicas, etc. A relação Eu-Isso não é nunca, em sí, um mal. Mas o mal pode residir na escravidão humana a essa atitude, apagando da face do homem a resposta responsável, a disponibilidade para o encontro com o outro. O homem precisa do mundo do Isso para viver, mas quem vive somente a relação Eu-Isso se desumaniza. Se analiso outra pessoa, ou a utilizo como objeto, para mim ela é um simples isso. Passo a querer manipulá-la como um objeto para o meu prazer. Em nossa época a relação eu/isso sobrepujou e dominou, de modo praticamente incontestado, a vida e as suas normas. Portanto, não existe mais dialogo. É este silêncio do dialogo eu-tu que constitui a tragédia do nosso mundo, a causa do fracasso da sociedade e da personalidade humana.”
Para Martim Buber, a relação Eu-Tu, deveria ser, a rigor, o relacionamento privilegiado, não só entre homem e homem, mas também, entre o homem e Deus: “O homem deve encontrá-Lo existencialmente, e não apenas intelectualmente...“. E, Santo Agostinho  pontifica:Tu me fizestes para ti mesmo e nossos corações não encontram paz até que descansem em Ti”.
Nós cristãos, cremos que fomos criados como imagem e semelhança de Deus, para sermos companheiros de Deus, numa jornada de vida, que é eterna, e, nesta condição, desfrutar de um relacionamento pessoal com Deus, do tipo Eu-Tu (a quem, reverentemente, chamamos, de Nosso Senhor e Pai Nosso), marcado pelo amor, que transborda para os outros, e, bem assim, empenhar-se pelo Reino de Deus.

Fontes: “Ter ou Ser”, de Erich Fromm, e, “Eu e Tu”, de Martin Buber.

domingo, 19 de outubro de 2014

BABEL COM MUITAS VOZES E MEDO DO SILENCIO




“O homem é um ser essencialmente social. Sozinho não pode vir a este mundo, não pode crescer, não pode educar-se; sozinho não pode nem ao menos satisfazer suas necessidades mais elementares nem realizar as suas aspirações mais elevadas. Ele pode obter tudo isso apenas em companhia dos outros.” Com os outros, temos, desde relações estreitas e pessoais, que o filosofo chama de “Eu-Tu” (por oposição à relação objetivante “Eu-Isso),  até relações impessoais, dinamizadas através da mídia. Neste interim, “os modernos meios de comunicação colocaram cada um de nós em contato com os acontecimentos (importantes ou insignificantes) que ocorrem em qualquer parte do mundo. A vida de cada um de nós, hoje pode ser abalada de alto a baixo por causa de fatos que acontecem em qualquer parte do mundo, parte onde não colocamos nunca o pé e de onde, talvez, façamos uma idéia muito vaga. O menor ato humano e, qualquer realidade, por menor que seja, são co-envoltas em um regime social, que os dirige e compenetra em cada parte”. (Batista Mondim).
Babel na atualidade !  Como um sinal dos tempos, vivemos como que inundados em meio a uma avalanche de vozes, muitas desencontradas,  disputando nossa atenção.  Muitas dessas vozes vão influindo na formação da nossa personalidade, e, passam a ter o peso e a força da autoridade e da experiência, razão pela qual nos deixamos conformar por elas.  Fontes dessas vozes são por exemplo, nossos parentes, amigos, professores, estranhos, imprensa, opinião popular, e,  o burburinho da rua.
O fato novo, na sociedade contemporânea, é a explosão da comunicação de massa, capaz de nos deixar desorientados, em meio a esta comunicação impessoal, pautada pela mídia, que tem o poder de transformar seus aditos, em meras estações repetidoras, de noticiários, refrãos, e, slogans de mercado. Alguém já disse mesmo que, na maior parte do tempo, a maior parte das pessoas, está apenas repetindo o que viu na mídia. Corremos mesmo o risco de sucumbir como meros objetos de interesses alheios, sendo manipulados dentro de uma relação impessoal, simulacro da comunicação proativa, “única que poderá elevar a raça humana para além do medo, da ignorância e do isolamento que atualmente a cercam”.
Sob o título Neurônios em modo padrão - nome que se dá a uma atividade neurológica caracterizada por oscilações neurológicas que ocorrem sempre que alguém fica sozinho consigo mesmo - Rubem Amorese comenta na revista Ultimato (set/out- 2014), uma pesquisa em que pessoas foram deixadas sozinhas, numa sala por 15 minutos, para meditar sobre qualquer assunto de sua escolha. O resultado foi que ficar sem fazer nada por apenas 15 minutos, é insuportável para a maioria das pessoas. Elas relataram que preferiam receber pequenos choques do que ficar sem fazer nada! Estamos tão acostumados com as muitas vozes que nos chegam desde um celular ligado, e, com ele a TV ou o rádio, que objetivamente levamos multidões para onde quer que estejamos, e, desta forma evitamos o temível “modo padrão”.
O medo de ficar em silêncio é um fator motivador dessa comunicação impessoal. “O medo de ficarem sozinhas petrifica as pessoas, e as impulsiona para o barulho e para as multidões. Conservamos uma constante torrente de palavras mesmo que sejam ocas. Compramos rádios que prendemos ao nosso pulso, ou ajustamos aos nossos ouvidos de sorte que, se não houver ninguém por perto, pelo menos não estamos condenados ao silêncio. Outro motivo de quase não aguentarmos permanecer em silêncio é que ele também nos faz sentir desamparados. Estamos muito acostumados a depender das palavras para manobrar e controlar os outros. Se estivermos em silêncio, quem assumirá o controle? O silêncio está intimamente relacionado com a confiança. A língua é nossa mais poderosa arma de manipulação. Uma frenética torrente de palavras flui de nós porque estamos num constante processo de ajustar nossa imagem pública. Tememos muito o que pensamos que as outras pessoas vêm em nós, de modo que falamos a fim de corrigir o entendimento delas. Se fiz alguma coisa errada e descubro que você sabe disso, serei muito tentado a ajudá-lo a entender minha ação!”
Para além do tumulto de muitas vozes, e, do medo do silêncio. Finalmente, considerando que não podemos simplesmente ignorar, ou modificar o ambiente saturado de comunicação, fazer o que?  
Usar filtros para selecionar dentre as muitas vozes que nos assediam , e, ter foco, para onde dirigir precipuamente a atenção, parece ser uma saída mais ou menos óbvia. Diz respeito à uma ocupação seletiva da mente, dentre as muitas vozes que nos chegam espontaneamente. No contexto tem a ver, por exemplo, com quantas vezes podemos perder tempo com atividades como de telespectador compulsivo, com ligações, e-mails, acesso a blogs de personalidades famosas, redes sociais e vídeos, que nada tem a ver com nossa atividade ou foco? Um exemplo: “Hoje ninguém pode se desgrudar da TV”, diz um conhecido apresentador de realities. Mas, é exatamente o contrário: precisamos manter a TV desligada, e, só ligar para ver algum programa previamente escolhido.
Steve Jobs, gênio da computação, e, ícone contemporâneo de prosperidade, que desenvolveu e comercializou uma das primeiras linhas de computadores pessoais de sucesso, pondera: “Algumas pessoas acham que foco significa dizer sim para as coisas em que você irá focar. Mas não é nada disso. Significa dizer não às centenas de outras boas idéias que existem. Você precisa selecionar cuidadosamente”.
Conselho de um sábio: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. (Apostolo Paulo). Eis aí quatro filtros de primeira linha: só deve se tornar objeto de nossa atenção, o que passar nestes, a saber, o que é justo, puro, amável, e de boa fama.
Um paradigma: o foco e os filtros de Jesus Cristo. “Seu foco era unicamente conhecer e cumprir a vontade de Deus. Ele buscava transmitir esse princípio aos seus seguidores e lhes dizia: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, e sim a vontade daquele que me enviou”. Seu grande conhecimento das Escrituras era o bastante para fornecer o conteúdo de seu foco; mas como Jesus foi capaz de evitar as distrações e se ater à vontade De Deus? Jesus passava tempo a só com Deus. Em busca de solidão e para ouvir a voz do Pai celestial. Ele jejuava para se lembrar de que seu foco era Deus. Ele se identificava com sua missão divina, promovia-a e tinha-a como a prioridade de sua vida. Jesus orava continuamente em busca de direção. Também Jesus tomou decisões bem diferentes do padrão porque filtrava informações por meio de um sistema de diretrizes mentais, emocionais e espirituais. Seu filtro eliminava suposições e expectativas em favor de uma análise precisa dos fatos e dos princípios das Escrituras. O sermão do monte contém um exemplo-chave de seu modo singular de pensar”. (George Barna).

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

SAL E LUZ NO MUNDO DA POLITICA




Marina Silva, e, o desafio de viver a mensagem de Jesus – ser sal da Terra e luz do Mundo - no controvertido mundo da politica partidária brasileira:

“Política é serviço. A visão republicana da política é servir ao bem comum. E a Biblia orienta para que façamos isso com integridade, pois o sal evita a degradação, e com justiça, que é respeitar e defender direitos de todos. É defender o que traz luz para as trevas da injustiça. Às vezes, ser sal e luz significa nos posicionar em defesa dos interesses dos pobres, dos que não têm voz como os índios ou os negros, os que perambulam pelas ruas sem moradia. Às vezes, significa defender a integridade dos biomas, os “jardins” citados em Genesis, na Biblia. Às vezes, é lutar por uma ideia mais do que por coisas práticas.”
“Meu entendimento sobre a política como um serviço de natureza republicana e meus princípios pessoais, orientados pela fé que professo, me ensinam que devo procurar, nas ações políticas, o benefício de todas as pessoas, independentemente de suas diferenças politicas, socioculturais e religiosas. Para isso, procuro atuar sempre além dos contornos do saleiro.”
“Ao longo de minha vida pública, tenho tido o cuidado de não fazer púlpitos de palanques e nem falar em palanques como se fossem púlpitos, por mais que essa mistura possa parecer pragmaticamente vantajosa em termos eleitorais. Se marcharmos para Jesus, num ato confessional, que esse não seja um ato com outro sentido utilitário. Precisa haver ética e respeito mútuo entre esses dois universos.”

Da entrevista publicada pela revista Impacto.

sábado, 16 de agosto de 2014

CONHECER DEUS EM 1º LUGAR


Um propósito que se renova a cada manhã: Conhecer a Deus, mais e mais, em uma caminhada diária, desfrutando dos prazeres da Sua companhia.
Criados com um propósito: não fomos criados apenas para viver por viver, mas, antes viver para conhecer Aquele que nos criou. (Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. Porque foi para isto que morreu Cristo, e ressurgiu, e tornou a viver, para ser Senhor, tanto dos mortos, como os vivos”, Romanos 14:6-9). O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus ao gozar de Sua companhia plena e eternamente. (“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém”. Romanos 11:36).
Alguém já destacou que a coisa mais importante a fazer, é fazer aquilo que é  mais importante, aquilo para o que somos feitos? para conhecer Deus. Que alvo deveríamos estabelecer para nós na vida? conhecer Deus. Qual é a melhor coisa na vida, que poderia trazer mais alegria, prazer e satisfação do que qualquer outra coisa? o conhecimento de Deus. (Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma”, Salmo 42:1). Isto oferece ao mesmo tempo um fundamento, uma forma e uma meta para nossa vida, e também um princípio de prioridades e uma escala de valores.
Conhecer Deus, pessoalmente, é muito diferente de conhecer apenas sobre Deus, que claramente é insuficiente num conhecimento entre pessoas.  A regra para transformar nosso conhecimento sobre Deus em conhecimento de Deus manda que transformemos cada verdade aprendida sobre Deus em assunto de meditação diante de Deus, conduzindo-nos à oração e ao louvor a Deus. Meditação é o ato de trazer à mente as várias coisas que se conhece sobre as atividades, os modos, os propósitos e as promessas de Deus; pensar em tudo isso, refletir sobre essas coisas e aplica-las à própria vida.
O conhecimento de Deus é por conaturalidade, uma forma de conhecimento que somente é alcançado através de um relacionamento pessoal. Naturalmente nos envolvemos em diferentes graus de relacionamentos: pessoa → coisa inanimada (Eu – isso), é impessoal, e envolve manipulação; pessoa → animal irracional, envolve analisar hábitos, comumente repetitivos, e, alguma manipulação; pessoa → pessoa (Eu – Tu), é pessoal, e envolve mudanças não repetitivas; é um encontro de pessoas vivas se relacionando de modo a se conhecerem melhor, umas às outras ; eu me deixo influenciar através do dialogo; ela se torna um tu. Minhas próprias mudanças dependem deste relacionamento. Assim também o relacionamento com Deus é de pessoa a pessoa.
Conhecer  Deus envolve uma relação emocional, bem como intelectual e volitiva e, de fato se não for assim, é impossível haver um relacionamento profundo entre duas pessoas. Um conhecimento de coração a coração, pautado pelo amor. (“E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento”, Mateus 22:37). Porque o que ama conhece Deus. O que não ama não conhece Deus. E nosso amor é uma resposta a Deus que nos amou primeiro; o amor de Deus é então derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. Este amor é ao mesmo tempo humano e divino; é muito distinto do que normalmente entendemos por amor; na verdade o chamamos de amor por analogia. É um estado dinâmico que origina e conforma todos nossos pensamentos e sentimentos, todos nossos juízos e decisões. Assim como a capacidade de transcender se faz efetiva quando nos enamoramos - então nosso ser se converte em ser enamorado – ficamos  completamente possuídos por um amor que tudo envolve.
Neste conhecimento algo muito maior está implícito – Deus me conhece. Eu estou gravado nas palmas de Suas mãos. Nunca sou esquecido por Ele. Ele me conhece como meu melhor amigo, alguém que me ama. Não há um único momento em que Ele tira seus olhos de mim ou que se distrai e me esquece; portanto, não há um momento sequer em que Ele deixa de cuidar de mim. Este é um conhecimento extremamente significativo. Há um indizível conforto – o tipo de conforto que nos dá poder, isto e, não nos enfraquece – em conhecer este Deus que está constantemente consciente de mim em amor e cuidando de mim para o meu bem.
Observadores e caminhantes, conformam  dois tipos de pessoas em relação ao conhecimento de Deus. Uns são aqueles que se sentam na sacada e apenas olham para aqueles que passam diante dele. Eles podem escutar a conversa dos caminhantes e até falar com eles, mas são apenas observadores. Os caminhantes, ao contrário, enfrentam problemas que, embora tenham sua dimensão teórica, são essencialmente práticos – problemas do tipo “qual caminho seguir” ou “como fazer isto”, problemas que não requerem apenas compreensão, mas decisão e ação”. Com relação a Deus, enquanto os observadores da sacada estão tendo um conhecimento apenas superficial sobre como pode ser Deus, os caminhantes estão dia a dia aumentando o conhecimento pessoal, e, que decorre de um relacionamento entre duas pessoas, mesmo que uma destas seja o próprio Deus. Remanesce a pergunta: em relação ao conhecimento de Deus, estou na sacada ou no caminho? Sou apenas um observador ou um caminhante?.
Uma constatação, e, um propósito, que se renova a cada fim de dia: Senhor meu Deus, conheço-te hoje mais do que ontem, e menos do que amanhã.

P.S. Fontes: Biblia e “O Conhecimento de Deus”, de J.I. Packer

quarta-feira, 23 de julho de 2014

DO DEVER AO PRAZER


Muitas motivações nos impelem às ações, e, dentre estas, o hábito, a necessidade, o interesse, o dever, e o prazer; destacamos aqui estas duas últimas, com as quais fazemos as seguintes associações imediatas: com o dever, o trabalho, e de uma forma geral todas as atividades ditas produtivas; e, com o prazer, o sexo, o lazer, e de uma forma geral as atividades lúdicas. Se buscarmos no dicionário popular, encontramos que dever é ter de..., estar obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, imposta por lei, pela moral, pelos usos e costumes ou pela própria consciência. “Na vida cotidiana, a palavra dever geralmente significa uma obrigação pouco bem-vinda, como pagar impostos; logo, o nosso deleite é, comumente, encontrado em algo diferente daquilo em que pensamos como sendo o cumprimento do nosso dever.” Já prazer é uma sensação de bem-estar; e, que, normalmente ensejam que as pessoas demonstrem alegria ao sentir prazer. Comumente julgamos, não obstante, que o dever é uma motivação maior, e o prazer conquanto naturalmente desejado, alguma coisa menos digna. Mas isto nem sempre é assim.
John Piper em seu livro “Teologia da Alegria”, discorrendo sobre o prazer, ilustra situações comuns, quando o dever como motivação pode ser até uma afronta, e o prazer o motivo acertado, e, que faz toda a diferença: “Pense na analogia do aniversário de casamento. Imagine que nesse dia eu traga para casa uma dúzia de rosas vermelhas de cabos longos para a esposa. Quando ela abre a porta para mim, eu lhe estendo as rosas, e ela diz: Oh, amor, são tão lindas. Obrigada!, e me dá um forte abraço. Imagine que eu levante minha mão e diga, como quem não quer nada: não foi nada. É minha obrigação. Qual é o problema aqui? O exercício do dever não é algo nobre? Não honramos aqueles que são fiéis cumpridores do dever? Não muito. Não se não estiverem com o coração na coisa. Rosas por obrigação são uma contradição de termos. Se eu não for movido por um afeto espontâneo por ela como pessoa, as flores não a honram. Na verdade, a diminuem. São uma tentativa inútil de encobrir o fato de que ela não tem valor ou beleza aos meus olhos para despertar afeto. Tudo o que eu consigo produzir é uma expressão calculada de dever matrimonial. Ou imagine um marido perguntando à sua esposa se tem de beijá-la antes de ir dormir. Ela responderá: você tem, mas não por obrigação. O que ela quer dizer é isto: - se não for motivado por um afeto espontâneo por mim, suas propostas estarão despidas de qualquer valor moral”. Como terceiro exemplo, se eu levo a minha esposa para jantar fora no dia do nosso aniversário de casamento, e ela me pergunta: por que você está fazendo isso? A resposta que mais a honra será esta: porque nada me deixaria mais feliz esta noite do que estar com você. É minha obrigação é uma desonra para ela. É meu prazer é para ela uma honra. É exatamente isso como devemos honrar a Deus na adoração? Dizendo é minha obrigação ou é meu prazer?” O que estas situações têm em comum é o prazer de dar prazer, que vai muito além do prazer egoísta, e, como tal deseja ser considerado.
A religião também costumamos associar com o dever, nem sempre prazeroso, o que é um grave equívoco. A obra de Deus até pode ser encarada por alguns como um dever, pois de fato somos mesmos devedores a Deus, e neste sentido jamais poderíamos pagar a nossa dívida que levou Jesus Cristo ao sacrifício vicário na cruz, símbolo maior de vergonha e dor; mas esse ainda não é o real motivo que o Senhor almeja encontrar no nosso coração. Gratidão seria o termo mais adequado para caracterizar qual deveria ser nossa resposta ao amor com que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito para que todo aquele que nEle crê não pereça mais tenha a vida eterna.” Gratidão que desperta o maior prazer. O prazer cristão, não quer dizer que Deus se torna um meio de ajudar-nos a conseguir prazeres mundanos. O prazer cristão é o próprio Deus. O objetivo do prazer cristão é ter o maior prazer no único Deus, evitando assim o pecado da cobiça, que é idolatria. Esse é o sentimento que Deus procura em nós, que nos faz concluir com excelência e convicção a nossa chamada para sermos seguidores de Jesus Cristo, o que respondemos alegremente por prazer em o ser. Deus também espera que tenhamos prazer em servir uns aos outros, situação que é quase um lugar comum na vida dos santos.
Gratidão que desperta o prazer na adoração a Deus. Prossegue John Piper: “Sim, temos de adorá-lo, e, o principal propósito do ser humano é mesmo glorificar a Deus, ao alegrar-se nEle para sempre. Mas não por obrigação”.  O verdadeiro adorador é aquele que atendeu ao convite do salmista: “Alegrai-vos no Senhor e regozijai-vos”. A razão de esse ser o verdadeiro ato de adoração é que ele honra a Deus, o que não acontece com a realização vazia de um ritual... Eu não digo que amar a Deus é bom porque traz alegria. Eu digo que Deus ordena que encontremos alegria amando a Deus (“Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração”). Eu não digo que amar as pessoas é bom porque traz alegria; eu digo que Deus nos ordena que encontremos alegria em amar as pessoas.
Prazer que qualifica a fé que agrada a Deus, a saber, a certeza de que, se nos voltamos para ele, encontramos a pérola de grande valor pela qual damos tudo que temos. A fé salvadora é a convicção sentida pelo coração de que Cristo não é somente confiável, mas também desejável. Na conversão encontramos o tesouro oculto do Reino de Deus. Arriscamos tudo nele. E, ano após ano, nas lutas da vida, comprovamos repetidamente o valor do tesouro e descobrimos novas profundidades de riquezas que não conhecíamos. Assim, a alegria da fé cresce. Quando Cristo nos chama para um novo ato de obediência que nos custe algum prazer temporal, lembramo-nos do valor insuperável que é segui-Lo e, pela fé no seu valor provado, esquecemos o prazer mundano. E assim avançamos de alegria em alegria, de fé em fé. Por trás do arrependimento que dá as costas ao pecado e por trás da fé que se entrega a Cristo, está o nascimento de um novo gosto, de um novo anseio, de uma nova paixão pelo prazer da presença de Deus. Essa é a raiz da conversão. Achamos o prazer eterno do nosso coração. Implica que sob e por trás do ato de fé que agrada a Deus foi criado um novo gosto. Um gosto pela glória de Deus e pela beleza de Cristo. Antes não tínhamos prazer em Deus e Cristo era apenas uma vaga personagem histórica. O que apreciávamos era comida, amizades, produtividade, investimentos, férias, lazer, jogos, leituras, compras, sexo, esportes, arte, tv, viagens, mas não Deus. Ele era uma idéia; mas não era um tesouro de prazer.
Poderíamos concluir, acrescentando, que a intensidade e a regularidade do prazer com que seguimos a Cristo poderia ser um indicador da verdadeira religião, isto é, daquela que agrada a Deus.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

CANDURA, UM SEGREDO PARA REENCANTAR A VIDA


Nossos relacionamentos, correntemente, são mais pautados pelo pragmatismo, restando pouco espaço para gestos de candura, de pureza, de inocência, de absoluta transparência, quase como pertencendo a um mundo encantado, hoje em dia, cada vez mais restrito, talvez, ao convívio das crianças. Candura, assim entendemos, é diferente de ser meramente bonzinhos; é mais do que sinceridade, tem a ver com pureza, com simplicidade de propósito. Candura se assemelha com lhaneza, diferente de fraqueza. Candura está mais ligado com a capacidade de admirar-se e, de se envolver. Candura é oposto de grosseria, cinismo, hipocrisia e malícia. Certamente é um artigo em falta na maioria dos relacionamentos humanos atuais, mais orientados pela praticidade, pelo jogo de interesses, pela dissimulação.
Destaco aqui, as vivências integradas da verdade e da bondade, que consubstanciam um gesto de candura. Com o passar do tempo, cada vez mais observa-se não obstante, a falta de uma ou outra destas, reduzindo-se ora a um transbordar de sinceridade desapiedada, ora, a um ser bonzinho  inconsequente, que são, respectivamente,  simulacros da verdade e da bondade. Neste interim, a cada dia, esgotados pela luta incessante movida mais pelo  oportunismo, muitos se ressentem da falta de candura, e, buscam, sem sucesso, fórmulas mágicas e exóticas de autoajuda, numa tentativa de reencantar a vida.
Na ficção a candura foi retratada no best-seller “O Pequeno Príncipe. O conto gira em torno de um principezinho de contos de fadas, que se encontra com um aviador em pleno deserto, após uma aterrissagem de emergência deste último. Nos contatos subsequentes, o aviador é surpreendido pelas perguntas do pequeno principe, que revelam uma candura estonteante, que desarmava todo seu modo de ver pragmático, e, que é um retrato de cada um de nós, já na fase dita adulta.  No referido texto, o narrador compartilha que desde o tempo de sua infância, carregava um ‘trauma’ causado pelos adultos, por não compreenderem suas idéias de quando criança, e, critica os adultos por só pensarem em cálculos, esquecendo certas essências da vida. E aquela criança vai transmitindo as mais sábias, questionadoras e interessantes lições de vida, como no seguinte diálogo com a raposa: “ Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste....- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.- Ah! desculpa, disse o principezinho. Após uma reflexão, acrescentou:- Que quer dizer "cativar"? - Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras? - Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"? - Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas? - Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."- Criar laços? - Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." (de Antoine de Saint Exupéry). O livro é uma fábula moderna, e contém a mensagem da criança, da infância, da simplicidade, e, da candura perdida.
Na vida real, JESUS foi  o exemplo de candura por excelência, assim destacada pelo autor Oto Borchert, em seu livro “O Jesus Histórico”: “Uma nuvem negra de formas mentirosas de polidez sempre obscurece a nossa veracidade. Estamos acostumados a ser circunspectos, afirmamos que “certas coisas não se dizem”. Mas Jesus era cândido de maneira quase desapiedada, enfrentando com a verdade e a bondade, a hipocrisia, a falsidade e a injustiça, sem medo de ser verdadeiro. Dentre os muitos registros de seus relacionamentos, destacamos por oportuno aqui, quatro de Seus encontros de pura candura:
1. Com o jovem rico, a quem expôs a superficialidade de sua empolgação em segui-Lo, não obstante muito amá-Lo, deixou-o seguir sozinho seu caminho. Não alimentou as falsas esperanças daquele jovem barateando o custo de segui-Lo em detrimento do peso da verdade do que este caminho implicaria.
2. Com Nicodemos, uma respeitável autoridade religiosa, com fama de ter um grande conhecimento, e, membro de uma elite poderosa, ao compartilhar “que até então ele falhara em viver”; que ele não obstante toda sua erudição e imagem pública, estava no caminho errado, e, que assim, mais radical do que voltar a ser como uma criança, tornava-se necessário, como que “nascer de novo”. 
3. Noutra oportunidade Jesus, vendo uma pobre viúva ofertando umas  moedinhas, e ao lado dela os fariseus ricos e avarentos, ousadamente destacou a pequena oferta dela em detrimento das quiçá polpudas contribuições exibidas pelos ricos; aquela deu do pouco que lhe fazia falta, estes outros, se exibiam com a oferta de um pouco do muito que lhes abundava. Estes ofertavam sob a luz dos holofotes para serem enaltecidos, aquela o fazia discretamente, talvez até com vergonha pelo seu reduzido valor, debaixo do anonimato que normalmente encobre os pobrezinhos.
4. Também quando Jesus confronta seus ouvintes, e destaca como paradigma a ser imitado, os samaritanos, um povo vizinho, de outra forma discriminado, ao ponderar como creram em Suas palavras por si só, sem requererem ver milagres; outra vez, quando contou a parábola do bom samaritano, para responder à pergunta de um doutor da Lei sobre “quem era o meu próximo”, e,  a quem devo amar; e, ainda, para ilustrar a gratidão de apenas um entre dez que haviam sido milagrosamente curados por Jesus.
Sim, Ele era sincero em tudo, falando em voz alta de coisas que o mundo concorda em encobrir com o silêncio.” E, neste interím, “Ele contava parábolas, histórias tão bonitas, ricas de sabedoria divina. Acolhia as crianças, os marginalizados, os pobres, os doentes e os pecadores. Admirava as aves do céu, as campinas, as flores do campo, as montanhas, os rios e lagos”. Este é o outro lado da candura que pode reencantar o mundo, e, cuja falta no nosso quotidiano, pode ser melhor avaliada se nos permitirmos, em nossos relacionamentos diários, sair da superficialidade, para logo constatar o peso que nosso próximo carrega, em volta, levando em alguns casos a resultados trágicos só diagnosticados muito tardiamente, e, a diferença que um toque de candura, de verdade com bondade, ainda pode fazer. 

terça-feira, 20 de maio de 2014

RAIVA QUE MATA E A DÁDIVA DA IRA


Por ira, neste texto, fazemos referência especificamente à emoção, puro sentimento, de desprazer, indignação, ou, exasperação, para com alguém, ou alguma coisa. Por raiva, circunscrevemos as manifestações de índole negativa, que consubstanciam as explosões de raiva, crises de fúria, expressões de cólera, etc. A raiva já foi descrita como “um sentimento de protesto, insegurança, ou frustração, contra alguém ou alguma coisa, que se exterioriza, quando o ego se sente ferido ou ameaçado; ou, como um sentimento de desprazer, hostilidade, indignação, ou exasperação extrema para com alguém ou alguma coisa”. Para o filósofo romano Sêneca, a ira e as frustrações ocorrem porque criamos uma expectativa de uma vida quase perfeita e nos surpreendemos tendo essas reações irracionais aos revezes. Ficaríamos mais tranquilos e preparados para a vida se fôssemos mais pessimistas, aceitando o mundo como ele é (com suas dificuldades inevitáveis), e não como gostaríamos que ele fosse”.
A praga da raiva. A raiva e o medo, que, frequentemente estão associadas, são, conjuntamente, responsáveis por grande parte daqueles momentos indesejáveis, que azedam o dia, ao se instalarem na consciência, monopolizando nossa atenção, levando cativo os pensamentos e as emoções, e obscurecendo a capacidade de julgamento da vontade. São momentos de agitação da alma, com a imaginação correndo solta, e, carregando nas tintas, fatos e fotos, ainda que distorcidos, que evocam situações de constrangimento. Especialistas “comparam com uma doença que vai corroendo de dentro para fora, e que causa diversos prejuízos físicos, mentais e espirituais para o próprio enfermo e para as pessoas que a este acompanham”. Também “a ira reprimida e conservada é uma emoção destrutiva e negativa que pode causar doenças físicas”. A duração da raiva, varia de uma irritação passageira, a um rancor prolongado; num termômetro imaginário da raiva, a temperatura vai num crescendo, de expressões como incomodado →  irritado → frustrado → exasperado →  desgostoso → ressentido → amargurado → oprimido. Os conflitos interpessoais e um ego inflado e contrariado, são os combustíveis mais comuns de uma crise de raiva, e, que pode ser provocada até por um amigo que nos contraria circunstancialmente. Ficamos também com raiva de nós mesmos, quando nossas expectativas se frustram. Ficamos com raiva da injustiça social à nossa volta, como também com as manifestações de violência da Natureza, como tsunamis, etc. Enfim, ficamos com raiva de Deus. Toda estas facetas caracterizam o que aqui chamamos  raiva (ira, cólera, e sentimentos afins) que mata.
A ira é essencialmente uma emoção, um sentimento, e, enquanto tal, não é  intrinsecamente nem má, nem boa. O que ocorre, é que esta emoção, frequentemente, é obscurecida e distorcida por causa da nossa velha natureza corrompida, ensejando desejos, exigências e expectativas egoístas (o que a Biblia chama de pecado). Também influem no modo como lidamos com a ira, os modelos de família que tivemos, os exemplos assimilados com outros, particularmente aqueles que estão mais próximos, e bem assim, nosso temperamento. Alimentadas e conformadas por este conjunto de influências, temos então  a gênese da raiva que mata, sendo a ira, a cólera e a fúria modulações desta raiva. Na Biblia usam-se três palavras para descrever a ira: thymos, orgé e parogismo. Thymos é um estado de grande agitação, uma explosão de indignação interior. Vem à tona rapidamente. Seu nome deriva do enfurecer-se e ferver da alma. O aspecto característico de thymos é que é muito violento, porém breve. Não é ira acumulada há muito tempo; é como fogo de palha, rapidamente aparece e rapidamente se vai. Thymos é uma palavra com potencial quase ilimitado para o bem e para o mal. Pode descrever uma qualidade sem a qual nenhum bom caráter pode florescer. Está também relacionado com a justa indignação diante do erro. É como a dinamite que pode ser bem usada para abrir caminho através de obstáculos por meio de explosões, ou para reduzir uma cidade a ruínas. Orgé é um estado mental definido ou permanente; aparece lentamente. Tem tendência vingativa e natureza duradoura, acalentando a lembrança do mal. Parogismo é uma forma mais forte de orgé. Traz a idéia de ressentimento justo e “tremer com forte emoção”. Irritação e exasperação.
A dádiva da ira. Nem toda ira é maligna, conforme evidencia-se da ira de Deus  que sempre é santa e pura, controlada e com um propósito justo, servindo antes para corrigir um erro, e que a Biblia também chama de pecado. Assim, podemos vislumbrar a ira santa de Jesus expulsando os vendilhões do Templo, ou, chamando os fariseus e seu discípulos de tolos. Nós também podemos sentir a ira justa. Expressões de ira santa na Biblia podemos encontrar no confronto entre Davi e Golias (Quem é, pois, este incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?); ou, quando Moisés quebra as tábuas da Lei, em protesto contra a idolatria que se instalara entre o povo, enquanto o aguardavam; ou  Elias desafiando os falsos profetas de Baal. Este são alguns exemplos consubstanciando a dádiva da ira. Contudo, a Biblia nos adverte que, até mesmo a ira justa seja tardia em aparecer e rápida em desaparecer .
Todas nossa emoções, até mesmo a  ira, são dadas por Deus. Neste sentido, Ele nos deu a capacidade emocional para a ira. Mas, Deus não é responsável por nossas explosões de ira. Podemos escolher o que fazer com ela. Veja a pessoa que grita: você me deixa com tanta raiva que eu podia estrangulá-la!. Ela jamais diz: eu deixo a mim mesmo com tanta raiva que eu poderia estrangulá-la. Deus nos deu nossas emoções. Podemos usá-las para ajudar a nós mesmos e aos outros, ou, para magoar a nós mesmos e aos outros.
A necessidade de diferenciar entre ira (um sentimento) e raiva que mata (hostilidade, agressão, comportamento que se origina do sentimento). A Biblia nos adverte: Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”(Efesios 4.26). A ira tem o potencial para levar-nos a pecar. O ponto crítico ocorre quando transformamos os sentimentos de ira, em atos agressivos e hostis, o que nos leva ao pecado. A segunda parte nos adverte que a ira, quando vem, deve ir logo.
A gravidade da ira. O senso comum julga sem maior gravidade pensamentos e as palavras proferidas, reservando a condenação apenas para os atos. Mas não assim Jesus, que nos adverte Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo.Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno” (Mateus 5.21-26).A referência de Jesus é à ira injusta, à ira do orgulho, da vaidade, do ódio, da malícia e da vingança. Os escribas e fariseus estavam procurando restringir a aplicação do 6º Mandamento (Não matarás) apenas ao ato do homicídio. Mas Jesus discordou deles. A verdadeira aplicação incluía pensamentos e palavras, além de atos; cólera e insultos, além de homicídio. Quem disser a seu irmão, você raca (= tolo, imprestável, miserável, insensato) seu estúpido! você não vale nada... quem chamar seu irmão de idiota, imbecil. Estas coisa, pensamentos coléricos e palavras insultuosas talvez não levem nunca à consumação do ato homicida. Mas, diante de Deus, são equivalentes ao homicídio”. Jesus não advoga que a ira seja punida com a morte, mas ilustra, com essas palavras, quão sério era para ele esse pecado. A presença da ira indica a falta de amor. O amor ao próximo foi classificado como 2º Mandamento na ordem de importância. E, sendo a ira e o insulto tão sérios e tão perigosos, então devemos fugir deles como se fossem praga e tomar precauções o mais rapidamente possível.
A praticidade disto é destacada por Jesus, que, na sequência, apresentou uma ilustração com a pessoa que vai ao templo oferecer sacrifícios a Deus. Traduzindo em palavras atuais: “Se você estiver na igreja, no meio de um culto de adoração, e de repente se lembrar de que seu irmão tem um ressentimento contra você, saia da igreja imediatamente e vá fazer as pazes com ele. Não espere que o culto termine. Procure seu irmão e peça-lhe perdão. Primeiro vá reconciliar-se com o seu irmão, depois venha e ofereça sua adoração a Deus”. Esta é a ordem certa das coisas, mas,” com que raridade atendemos à chamada de Cristo para a ação imediata! “


Fonte: A ira, uma opção, Tim LaHaye; As obras da carne e o fruto do Espírito, William Barclay; Contracultura cristã, John Stott

segunda-feira, 21 de abril de 2014

CULTIVANDO A EXCELÊNCIA NOS RELACIONAMENTOS PESSOAIS


Nenhum homem é uma ilha” (John Donne). “O homem é por natureza um animal social”  (Marx).  Pensamentos como estes põem em destaque a importância dos relacionamentos. “Os vínculos com os outros constituem fonte de satisfação de necessidades fundamentais, como ser querido, bem cuidado e atendido. A sociabilidade é a propensão do homem para viver junto com os outros e comunicar-se com eles, torná-los participantes das próprias experiências e dos próprios desejos, conviver com eles as mesmas visões. Temos mesmo fome por relacionamentos; é como se nós tivéssemos sido feitos para encontrar nosso propósito e significado não simplesmente em nossas vidas interiores, mas no outro e nos significados e propósitos compartilhados”.
Viver não é tão difícil; conviver é que é”. Ocorre que, juntamente com a alegria num relacionamento, é comum ocorrerem conflitos. O conflito é muitas vezes inevitável nos relacionamentos humanos. O fator agravante, é caminhar na  seqüência mortal que vai de discordância → discussão → contenda → confronto → mágoa. Cinco são as formas de lidar com conflitos: afastamento (fugir do conflito, que não o elimina); acomodação (me submeto, mas não concordo); competição (um ganha e outro perde); colaboração e acordo (todos ganham). E, a sabedoria da ponderação: conflitos, se não podem ser evitados, mas podem ser administrados. 
Um dos fatores que muito influenciam nos relacionamentos, e, podem concorrer para os conflitos, é a realidade dos temperamentos. Assim o Criador, em sua infinita sabedoria, cuidou para que não fossemos uma uniformidade monótona, e sem graça, acrescentando então uma pitada de sabor que faz a riqueza dos relacionamentos. Neste sentido, o renomado psicólogo Jung identificou duas atitudes básicas no comportamento do homem que estão intrinsecamente ligadas ao temperamento. Estas atitudes são: Introversão e Extroversão. Na Introversão incluem-se os melancólicos e fleumáticos. Na extroversão incluem-se os sanguíneos e coléricos. Uma caricatura destes temperamentos conta-se na seguinte historinha: “Os quatro temperamentos foram amarrados dentro de um saco. Depois de tanta luta conseguiram sair. O primeiro foi o colérico cheio de ira, querendo saber quem tinha feito isso com ele (todo cheio de razão); o segundo foi o melancólico todo cabisbaixo achando que o culpado de todos estarem presos era ele (sempre se culpando); logo atrás vem o sanguíneo, todo serelepe, cantando e dançando dando graças a Deus por estar solto (todo feliz); e, por último o fleumático, quando saiu, logo que viu o saco no chão pensou com ele mesmo: por que não? Ajeitou o saco e dormiu”.  (autor desconhecido). O temperamento explica nosso comportamento, mas não deve servir de desculpas para ele. Sendo parte de nossa natureza humana, pode e deve ser controlado por nosso espírito, e , seus pontos negativos podem ser disciplinados, reorientados e até corrigidos, contando com o auxílio do Espírito Santo.
Como forma distorcida de relacionamentos, é triste observar que muitos preferem amar coisas e usar pessoas, quando deveriam amar as pessoas e usufruírem das coisas. Este comportamento foi estudado com profundidade pelo rabino e teólogo Martin Buber, que  identificou que o relacionamento homem-homem segue uma das duas possibilidades, que ele chamou de “eu/tu” e “eu/isso”. “Eu/tu é um encontro existencial, de pessoas vivas se relacionando de modo a se conhecerem melhor, umas às outras.; eu me deixo influenciar através do dialogo, e, assim, ela se torna um tu. No relacionamento do tipo eu-isso, o eu é um sujeito que se defronta com um objeto. Se analiso outra pessoa, ou a utilizo como objeto, para mim ela é um simples isso. Passo a querer manipulá-la como um objeto para o meu prazer. A relação eu-isso não é nunca, em si, um mal. Mas o mal pode residir na escravidão humana a essa atitude, apagando da face do homem a resposta responsável, a disponibilidade para o encontro com o outro. O homem precisa do mundo do Isso para viver, mas quem vive somente a relação eu-isso se desumaniza.”
Sinais de atenção, facilmente percebíveis, de iminência de conflitos: em algum momento, poderá ser necessário admitir que o outro está certo. Logicamente, não devemos aceitar o erro, mas muitas vezes não é isso que está em jogo. Comumente, em um conflito cada parte envolvida tem uma parcela de verdade: há uma parte no conflito que eu experimentei que é verdadeira, mas meu oponente tem sua perspectiva de como ele experimentou o conflito e ela também é verdadeira. Também, nossas discussões devem ser pautadas pelo respeito, e, pela cortesia. Palavras mansas e sadias podem desarmar o ânimo agressivo da outra parte. Podemos expor nossas opiniões, por mais divergentes que sejam, sem usar de agressividade. Todos perdemos com o uso de expressões de negatividade, que inclui desde um elogio interesseiro, quando não hipócrita, com gosto de fel, quando não, nos atingem como um sôco. Por outro lado que bálsamo que é, quando, somos tocados por alguma palavra ou gesto de cordialidade, como um reconhecimento, um elogio espontâneo, e, até mesmo num mero sorriso de reconhecimento.
O apostolo Paulo vai além, e orienta como os irmãos deveriam conviver uns com os outros, através de  relacionamentos fraternais, com a marca da excelência, e cujos traços dominantes incluem, dentre outras qualidades/virtudes: Autenticidade - sinceridade e verdade devem ser a marca da nosssa conviência (devendo ser sinceros em suas palavras e atitudes  sem dissimular sentimentos, se necessário, revelando o desconforto por algo que não havia ficado bem esclarecido). Cordialidade - nossa opção sempre será exaltar outrem e jamais diminui-lo (que de nossos lábios sempre saia uma palavra para trazer incentivo, para a edificação, e nunca uma mensagem derrotista, negativista e, acima de tudo, que a torpeza não saia de nossos lábios). Solidariedade - horas difíceis são oportunas para estreitar relacionamentos. Humildade - é importante resistir à nossa própria soberba. Sensibilidade (inclui polidez, delicadeza; é o oposto de grosseria, brutalidade, palavra ferina, e gesto que machuca) é bom saber discernir bem em quais momentos nos encontramos. Bondade e Benignidade - ser benigno significa ser bondoso, amável, gentil, atencioso; são expressões afins, a misericórdia e a generosidade. Aquele que possui essas qualidades é gracioso, e gentil para com seus semelhantes, não se mostrando inflexível e exigente. Tem doçura de temperamento, presdispondo-o a uma atitude afável e cortês. Benignidade é o pensamento de fazer o bem, e, a bondade é ação de fazer o bem. Benignidade é uma qualidade do coração e emoção. Bondade é uma qualidade da conduta e ação. Sentimentos e expressões afins de benignidade e bondade, ainda incluem cordialidade, gentileza. Seus opostos envolvem: crueldade , maldade, descortesiadeselegância,  indelicadeza, cinismo, hipocrisia, malícia, arrogância, aspereza, brutalidade. 
Concluindo, da família para as demais instâncias da sociedade, em toda parte, não podemos pensar que representamos uma ilha isolada, inacessível, no meio do oceano; o tempo todo estamos tangenciando uns nos outros. A questão é como isto se dá? O convívio é salutar? O relacionamento interpessoal é edificante? A convivência é benéfica? Se a resposta não é positiva é sinal de que estamos vivendo abaixo da linha de excelência.



De boletins da Igreja Presbiteriana de Curitiba