sábado, 22 de setembro de 2012

POR MÉRITO ou POR GRAÇA




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Em nossos dias, em que a democracia é uma unanimidade, pelo menos como alvo quanto à melhor forma de governo, o mérito se destaca como um valor fundamental. Do dicionário popular, “o termo “mérito” designa, em geral, a retribuição devida, e, se relaciona com a virtude da justiça, em conformidade com o princípio da igualdade, que a rege. A Meritocracia (do latim “meritu”, mérito, e “cracia”, poder) é um sistema que considera o mérito (aptidão) a razão para se atingir determinada posição. O principal argumento em favor da meritocracia é que ela proporciona maior justiça do que outros sistemas hierárquicos, uma vez que as distinções não se dão por sexo ou raça, nem por riqueza ou posição social, entre outros fatores biológicos ou culturais. Além disso, em teoria, a meritocracia, através da competição entre os indivíduos, estimula o aumento da produtividade e eficiência” no conjunto da sociedade.”
Uma pessoa pode até mesmo ser invejada, mas não se questiona o sucesso e a prosperidade em quem se reconhece méritos, ao ensejo em que condenamos quem não os tem. O mérito nos proporciona assim, uma base aceita por todos, comumente considerada nos mais diversos processos seletivos. É como se conferisse ao seu portador um atestado de valor justo e inquestionável.
Desejamos, também, merecer tudo que temos, como sendo o fruto legítimo de nosso esforço; de outra parte, não valorizamos tanto aquilo que recebemos gratuitamente, assim como o ar que respiramos. É como se só tivesse real valor aquilo que por direito conquistamos com esforço próprio; ou não acreditássemos em um outro sistema de valor que não envolvesse a retribuição devida.
A meritocracia levada ao extremo, além de estimular a competitividade, acentua a individualidade, o valor pessoal, em detrimento da solidariedade; exarceba a autosuficiencia, e não raro enseja a soberba e a vaidade pessoal; afinal, aqui tudo se compra, e nada se dá.
Uma outra ordem das coisas, a Graça, põe o foco no “outro" de cuja ação primeira, nos beneficiamos, até mesmo sem contrapartida. É a esfera do favor imerecido, e aponta para nossa dependência uns dos outros, enfatizando nossa fragilidade, e vulnerabilidade. É o combustível da amizade verdadeira, da doação sem pedido prévio, e nada tendo em troca. Estimula a gratidão e tira o foco do ego. Aqui, de graça se recebe, e de graça se dá; dá sem olhar para trás ou para frente, na busca de compensação.
Na economia divina, “Graça é um conceito teológico fortemente enraizado no Judaísmo e no Cristianismo, definido como um dom gratuito e sobrenatural dado por Deus para conceder à humanidade todos os bens necessários à sua existência e à sua salvação. Esta dádiva é motivada, unicamente, pela misericórdia e amor de Deus à humanidade, logo, movida por Sua iniciativa própria, ainda que seja em resposta a algum pedido a Ele dirigido. E também por esta razão, a Graça é um favor imerecido pelo Homem, mas sim fruto da misericórdia e amor divinos”. A Biblia registra como uma aplicação indevida do sistema da meritocracia, transformou uma lei santa, enquanto expressão da vontade de um Deus amoroso, em um código rígido, cuja obediência era necessária para se obter o direito à salvação. A lei, então distorcida como intermediário entre Deus e o homem, ensejou um ensino legalista, que resultou em soberba e confiança em si mesmo, concomitantemente com a busca, sem saída, de alcançar justiça pelos méritos próprios, através da realização de boas obras, que seriam então, finalmente, recompensadas por Deus no além. Mas, na verdade, a Bíblia também nos ensina, que é somente pela fé, - nos méritos da grande obra salvífica de Jesus Cristo - que podemos alcançar justiça. Ocorre que, nesta esfera, nada merecemos, e tudo nos foi oferecido gratuitamente. É a lei da graça, e, não propriamente, da meritocracia, aquela que nos dá uma dimensão mais profunda da nossa posição na economia divina.