sexta-feira, 20 de setembro de 2013

EM BUSCA DA SIMPLICIDADE PERDIDA


Simplicidade é uma marca registrada da infância, da inocência, da integridade ,  quando ainda não se tem pensamentos divididos,  e, o que se diz, normalmente,   é o que se pensa, o que se intenciona é autoevidente, sem dubiedades, segundas intenções, ou mesmo hipocrisia. Esta simplicidade foi destacada por Jesus, quando em meio a um auditório amplo, com diversos representantes da sociedade a seu tempo, inclusive muitos sábios, autoridades religiosas, e homens do povo, Ele toma uma criança nos braços para ilustrar a natureza dos habitantes do Reino de Deus, que veio anunciar. Nosso processo de crescimento não obstante, comumente implica a perda de boa parte destas características, que ficam na memória como um horizonte perdido.
A FALTA QUE A SIMPLICIDADE FAZ. A simplicidade traz alegria e equilíbrio. A sua falta, traduz-se na duplicidade, que traz ansiedade e medo. “Internamente o homem moderno está fraturado e fragmentado. Encontra-se perdido num labirinto de realizações competidoras. Num momento ele toma decisões com base na razão, e no momento seguinte o faz por medo do que outros venham a pensar dele. Ele não tem unidade ou foco em torno do qual a vida se oriente. Estamos tentando ser vários “eus” ao mesmo tempo, sem que todos estes “eus” estejam organizados por uma única e dominante vida dentro de nós. Cada um de nós tende a ser, não um simples eu, mas todo um comitê de eus: o eu familia, o eu provedor financeiro, o eu religioso, o eu social, o eu literário, ... E cada um de nossos eus é, por sua vez, um extremado individualista, que grita a plenos pulmões em beneficio próprio, quando chega o tempo  da votação. E estamos infelizes, inquietos, estressados, oprimidos e com medo de sermos superficiais, pois, às margens da vida, chega um sussurro, um chamado enfraquecido, uma premonição de um viver mais rico pelo qual sabemos que estamos passando à margem. Estressados pelo ritmo alucinante de nossos fardos diários externos, estamos também estressados por uma inquietação interior, porque temos pistas de que há um modo de vida muito mais rico e profundo que toda essa existência apressada, uma vida de serenidade, de paz e de poder sem pressa.”
EM BUSCA DA SIMPLICIDADE. O significado da simplicidade na vida atual:
Em nosso relacionamento com as coisas, o desapego. Alguns princípios que consubstanciam a simplicidade: Desacumule - quantidades de coisas que não são necessárias complicam a vida. Recuse ser dominado pela propaganda mercantilista - ansiamos possuir coisas de que não necessitamos nem desfrutamos, e, compramos coisas que realmente não desejamos, para impressionar pessoas e das quais até não gostamos. Recuse tudo quanto gere a opressão de outros (p. ex. produtos de trabalho escravo). Aprenda a desfrutar das coisas sem possuí-la. Crie o hábito de dar coisas. Temos então como beneficio da simplicidade: Se recebemos o que temos como um dom, se o que temos recebe o cuidado de Deus, e, se o que temos está disponível aos outros, então seremos livres de ansiedade”. Conselho de John Wesley para se livrar da ganância: “fazer todo o bem possível, usando de todos os meios possíveis, de todas as maneiras possíveis, em todos os lugares possíveis, em todo o tempo possível, a todas as pessoas possíveis, enquanto for possível.”
Em nosso relacionamento com as pessoas, a linguagem clara e honesta. Devemos seguir as instruções de Jesus: “Seja porém a tua palavra: sim, sim; não, não”. Esta atitude de simplicidade, natural na infância, foi se perdendo, ao longo dos anos, como um custo para se obter sucesso na vida. Nesse ínterim nossa linguagem tornou-se dúbia, para adaptar-se ao vão desejo de controlar a realidade, na intenção de assegurar o sucesso.
A simplicidade começa no foco e na unidade interior. A vida deve ser vivida a partir de um centro. Só existem dois centros absolutos possíveis: eu ou Deus; e eles são mutuamente exclusivos. Quando a vida com Deus é o centro da existência, tudo o mais é remodelado e integrado por ela. “Ela dá a simplicidade dos olhos. Nosso verdadeiro problema na falha em nos centralizarmos, não é falta de tempo, é antes, falta de prazer alegre e entusiasmado na Sua presença. A partir desse centro santo vem as comissões da  vida. Nossa comunhão com Deus também se manifesta em nosso interesse pelo mundo. Ela nos faz ver as necessidades do mundo de um modo novo”. É pelo fato de não colocarmos Deus como centro absoluto, em torno do qual deve girar nossas vidas que nossa necessidade de segurança nos tem induzido a um apego insano às coisas, assim como ao dinheiro, coisas que passam, então, a desempenhar o papel de deuses (falsos), e, que consubstanciam formas de idolatria na atualidade. Além disso, quando o “eu” é o centro absoluto, as faculdades da alma – mente, afetividade, vontade – costumam ficar divididas, cada uma puxando numa direção, fomentando a duplicidade, que traz ansiedade e medo. A centralização em Deus, entretanto, mantém todas as faculdades da alma polarizadas numa só direção, semelhante a um estado de enamoramento, que é o distintivo da simplicidade. Talvez aí resida o segredo buscado para reencantar a vida, redescobrir o horizonte perdido.
“A simplicidade é o último degrau da sabedoria”. Khalil Gibran
“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo, e de modo particular convosco”. Apostolo Paulo

Fontes:  Um testamento de devoção, Thomas Kelly
    Celebração da disciplina, Richard Foster