segunda-feira, 21 de abril de 2014

CULTIVANDO A EXCELÊNCIA NOS RELACIONAMENTOS PESSOAIS


Nenhum homem é uma ilha” (John Donne). “O homem é por natureza um animal social”  (Marx).  Pensamentos como estes põem em destaque a importância dos relacionamentos. “Os vínculos com os outros constituem fonte de satisfação de necessidades fundamentais, como ser querido, bem cuidado e atendido. A sociabilidade é a propensão do homem para viver junto com os outros e comunicar-se com eles, torná-los participantes das próprias experiências e dos próprios desejos, conviver com eles as mesmas visões. Temos mesmo fome por relacionamentos; é como se nós tivéssemos sido feitos para encontrar nosso propósito e significado não simplesmente em nossas vidas interiores, mas no outro e nos significados e propósitos compartilhados”.
Viver não é tão difícil; conviver é que é”. Ocorre que, juntamente com a alegria num relacionamento, é comum ocorrerem conflitos. O conflito é muitas vezes inevitável nos relacionamentos humanos. O fator agravante, é caminhar na  seqüência mortal que vai de discordância → discussão → contenda → confronto → mágoa. Cinco são as formas de lidar com conflitos: afastamento (fugir do conflito, que não o elimina); acomodação (me submeto, mas não concordo); competição (um ganha e outro perde); colaboração e acordo (todos ganham). E, a sabedoria da ponderação: conflitos, se não podem ser evitados, mas podem ser administrados. 
Um dos fatores que muito influenciam nos relacionamentos, e, podem concorrer para os conflitos, é a realidade dos temperamentos. Assim o Criador, em sua infinita sabedoria, cuidou para que não fossemos uma uniformidade monótona, e sem graça, acrescentando então uma pitada de sabor que faz a riqueza dos relacionamentos. Neste sentido, o renomado psicólogo Jung identificou duas atitudes básicas no comportamento do homem que estão intrinsecamente ligadas ao temperamento. Estas atitudes são: Introversão e Extroversão. Na Introversão incluem-se os melancólicos e fleumáticos. Na extroversão incluem-se os sanguíneos e coléricos. Uma caricatura destes temperamentos conta-se na seguinte historinha: “Os quatro temperamentos foram amarrados dentro de um saco. Depois de tanta luta conseguiram sair. O primeiro foi o colérico cheio de ira, querendo saber quem tinha feito isso com ele (todo cheio de razão); o segundo foi o melancólico todo cabisbaixo achando que o culpado de todos estarem presos era ele (sempre se culpando); logo atrás vem o sanguíneo, todo serelepe, cantando e dançando dando graças a Deus por estar solto (todo feliz); e, por último o fleumático, quando saiu, logo que viu o saco no chão pensou com ele mesmo: por que não? Ajeitou o saco e dormiu”.  (autor desconhecido). O temperamento explica nosso comportamento, mas não deve servir de desculpas para ele. Sendo parte de nossa natureza humana, pode e deve ser controlado por nosso espírito, e , seus pontos negativos podem ser disciplinados, reorientados e até corrigidos, contando com o auxílio do Espírito Santo.
Como forma distorcida de relacionamentos, é triste observar que muitos preferem amar coisas e usar pessoas, quando deveriam amar as pessoas e usufruírem das coisas. Este comportamento foi estudado com profundidade pelo rabino e teólogo Martin Buber, que  identificou que o relacionamento homem-homem segue uma das duas possibilidades, que ele chamou de “eu/tu” e “eu/isso”. “Eu/tu é um encontro existencial, de pessoas vivas se relacionando de modo a se conhecerem melhor, umas às outras.; eu me deixo influenciar através do dialogo, e, assim, ela se torna um tu. No relacionamento do tipo eu-isso, o eu é um sujeito que se defronta com um objeto. Se analiso outra pessoa, ou a utilizo como objeto, para mim ela é um simples isso. Passo a querer manipulá-la como um objeto para o meu prazer. A relação eu-isso não é nunca, em si, um mal. Mas o mal pode residir na escravidão humana a essa atitude, apagando da face do homem a resposta responsável, a disponibilidade para o encontro com o outro. O homem precisa do mundo do Isso para viver, mas quem vive somente a relação eu-isso se desumaniza.”
Sinais de atenção, facilmente percebíveis, de iminência de conflitos: em algum momento, poderá ser necessário admitir que o outro está certo. Logicamente, não devemos aceitar o erro, mas muitas vezes não é isso que está em jogo. Comumente, em um conflito cada parte envolvida tem uma parcela de verdade: há uma parte no conflito que eu experimentei que é verdadeira, mas meu oponente tem sua perspectiva de como ele experimentou o conflito e ela também é verdadeira. Também, nossas discussões devem ser pautadas pelo respeito, e, pela cortesia. Palavras mansas e sadias podem desarmar o ânimo agressivo da outra parte. Podemos expor nossas opiniões, por mais divergentes que sejam, sem usar de agressividade. Todos perdemos com o uso de expressões de negatividade, que inclui desde um elogio interesseiro, quando não hipócrita, com gosto de fel, quando não, nos atingem como um sôco. Por outro lado que bálsamo que é, quando, somos tocados por alguma palavra ou gesto de cordialidade, como um reconhecimento, um elogio espontâneo, e, até mesmo num mero sorriso de reconhecimento.
O apostolo Paulo vai além, e orienta como os irmãos deveriam conviver uns com os outros, através de  relacionamentos fraternais, com a marca da excelência, e cujos traços dominantes incluem, dentre outras qualidades/virtudes: Autenticidade - sinceridade e verdade devem ser a marca da nosssa conviência (devendo ser sinceros em suas palavras e atitudes  sem dissimular sentimentos, se necessário, revelando o desconforto por algo que não havia ficado bem esclarecido). Cordialidade - nossa opção sempre será exaltar outrem e jamais diminui-lo (que de nossos lábios sempre saia uma palavra para trazer incentivo, para a edificação, e nunca uma mensagem derrotista, negativista e, acima de tudo, que a torpeza não saia de nossos lábios). Solidariedade - horas difíceis são oportunas para estreitar relacionamentos. Humildade - é importante resistir à nossa própria soberba. Sensibilidade (inclui polidez, delicadeza; é o oposto de grosseria, brutalidade, palavra ferina, e gesto que machuca) é bom saber discernir bem em quais momentos nos encontramos. Bondade e Benignidade - ser benigno significa ser bondoso, amável, gentil, atencioso; são expressões afins, a misericórdia e a generosidade. Aquele que possui essas qualidades é gracioso, e gentil para com seus semelhantes, não se mostrando inflexível e exigente. Tem doçura de temperamento, presdispondo-o a uma atitude afável e cortês. Benignidade é o pensamento de fazer o bem, e, a bondade é ação de fazer o bem. Benignidade é uma qualidade do coração e emoção. Bondade é uma qualidade da conduta e ação. Sentimentos e expressões afins de benignidade e bondade, ainda incluem cordialidade, gentileza. Seus opostos envolvem: crueldade , maldade, descortesiadeselegância,  indelicadeza, cinismo, hipocrisia, malícia, arrogância, aspereza, brutalidade. 
Concluindo, da família para as demais instâncias da sociedade, em toda parte, não podemos pensar que representamos uma ilha isolada, inacessível, no meio do oceano; o tempo todo estamos tangenciando uns nos outros. A questão é como isto se dá? O convívio é salutar? O relacionamento interpessoal é edificante? A convivência é benéfica? Se a resposta não é positiva é sinal de que estamos vivendo abaixo da linha de excelência.



De boletins da Igreja Presbiteriana de Curitiba

sábado, 5 de abril de 2014

SEGUIDORES E GUIAS


A moda atual entre internautas é ser, e, ter, seguidores numa rede social, tornando-se doravante, o número de seguidores, um critério para medir o sucesso desse alguém, travestido de guia. E, logo surge a possibilidade de uso desta facilidade como um instrumento de manipulação  para alavancar e/ou alimentar o ego de candidatos a celebridades, e, bem assim, para incrementar o mercado de consumo, que venha a se associar com a imagem do “guia”. Recentemente algumas destas figurinhas carimbadas da mídia, se gabavam de já ter ultrapassado de um milhão de seguidores, o que seria pitoresco, se não fosse verdade.
Ameaças e oportunidades. Os eventos recentes em nosso País, de contestação nas ruas, ilustram as oportunidades (voz popular de protesto contra a inoperância quando não, malversação dos serviços públicos), e as ameaças (atos de vandalismo, por contraventores infiltrados), fazendo uso da capilaridade das redes sociais. Neste ínterim, duas são aqui destacadas:
Por um lado a tentação que ficou conhecida como seguidores com mentalidade de rebanho. A expressão ficou associada com o filosofo Friedrich Nietzsche, diz respeito ao seu “protesto contra a ação do Estado, seu desagrado pelo negligente comportamento social da comunidade, depreciativamente chamado de “mentalidade de rebanho", sua desconfiança do efeito do mercado e do Estado na produção cultural, seu desejo por um "Übermensch" - isto é, por um homem novo que não fosse nem mestre nem escravo” (por ironia, esta crítica a um espírito de seguidor subserviente, foi associado, de forma distorcida, com o nazismo). Esta tentação é magistralmente explorada no filme “A Onda”, “onde um professor colegial  ministrando sobre autocracia, começa um experimento para mostrar o quão fácil é manipular as massas. “Ele começa exigindo que todos os alunos se refiram a ele como " Senhor”,  e muda as carteiras de lugar, de modo que todas elas fiquem de frente para ele. Além disso, todo aluno que queira fazer alguma colocação deverá se levantar e dar respostas curtas. O professor também mostra aos alunos como uma marcha executada com perfeita sincronia rítmica entre os alunos pode fazer com que se sintam parte de uma única entidade. Por fim o professor sugere que todos os alunos do grupo devem vestir uma camisa branca e calças jeans, para que não haja mais distinções entre os alunos e unir ainda mais todos eles. O grupo começa então a perceber mudanças em seu comportamento. Criam também um símbolo, que é espalhado na forma de adesivos ou pichações por toda a cidade. Além do nome, o grupo cria uma forma de saudação, que consiste em imitar o movimento de uma onda com o braço direito em frente. Criam também um símbolo, que é espalhado na forma de adesivos ou pichações por toda a cidade.  O filme mostra de forma contundente, como as massas podem ser manipuladas”, numa referencia clara aos movimentos autocráticos, que a História registra.
De outro lado, temos a tentação de guias cegos, que Anselmo Grün, falando sobre os demônios da vaidade e do orgulho, que também nos assediam, assim comenta: “consiste em assumirmos o papel de mestres , embora nós mesmos tenhamos ainda pouca experiência. É o perigo da inflação, como com tanta freqüência é descrita por Jung. Sentimo-nos como profetas ou como reformadores do mundo, achamos que nossas próprias idéias e palavras são de importância decisiva para a salvação do próximo”. Alguém já disse que todo mundo quer ser rei, e, todo rei quer ser deus. Aqui encontro na vida do Rei pastor Davi, mencionado na Biblia, um contra-exemplo para este vício, e, que o celebrado autor Eugene Peterson, em seu titulo “Transpondo Muralhas”, assim comenta: “A ascensão de Davi foi concluída; começa seu reinado. As palavras proferidas nesse inicio são bem significativas: “Tu hás de pastorear Israel, o meu povo, e serás o seu governante”. “Com estas palavras, Davi, o pequeno pastor de Belém se torna o grande rei pastor de Israel. A designação de rei é empregada à vontade por toda a narrativa bíblica, mas não aqui, onde é significativa a preferência pelas palavras pastor e governante ou príncipe. Príncipe (Nagib em hebraico), em vez de rei, porque Israel havia acabado de experimentar uma forma abusiva de governo com o rei Saul. Davi é identificado como alguém igual a eles, que simplesmente galgou maior posição: Somos sangue do teu sangue. Não seria um governo imposto de fora, mas desenvolvido interiormente. O pastor é alguém que vive junto ao rebanho e cuida dele; o príncipe é alguém que emerge da comunidade e a lidera. Espera-se que o governo de Davi se desenvolva mantendo seus instintos pastorais e sua capacidade de liderança quando jovem. Espera-se que o governo de Davi se desenvolva preservando a sensibilidade para com as necessidades da comunidade, o que ele cultivou no deserto. Ao assumir  Davi o seu reinado sobre Israel e Judá, o que os líderes estão lhe dizendo, na verdade, é: seja nosso príncipe: não se transforme num rei com ânsia de poder, que imponha sua vontade à força sobre o povo. Seja nosso pastor: não se transforme num rei levado pelo próprio ego, que use o povo como pasto para alimentar sua auto-importância. Davi fez o que lhe pediram. Uma das principais provas é o Salmo (do pastor) 23”.
O paradigma do verdadeiro Guia, que cuida dos seus seguidores, é apresentado na Biblia:”...Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes...Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas.Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas.Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas”. (Palavras de Jesus Cristo, conforme registradas no Evangelho de João).