domingo, 20 de dezembro de 2015

JESUS CRISTO - REI DOS REIS, E SENHOR DOS SENHORES - É A PERSONALIDADE DE TODOS OS TEMPOS



Mais que a Personalidade do Ano, ou do século, ou mesmo do milênio, Jesus Cristo é a personalidade de todas as épocas, e, Senhor  do Universo!
Nasceu numa humilde manjedoura e morreu numa rude cruz. Quando você pensa em biografias de pessoas importantes, quer artistas, atletas, cientistas ou políticos, nunca há qualquer sugestão de que eles nasceram para morrer...Jesus veio para morrer. Essa é a razão por que cada um dos evangelhos retrata Jesus insistindo em que viera com este propósito. Entretanto Jesus acrescentou: “não morrerei como um mártir. Ninguém pode tirar a minha vida de mim. Eu mesmo a entrego. Tenho autoridade para entrega-la e tenho poder de reavê-la”. Ele não se classificou como um mártir, e sim como um sacrifício. Ele não era apenas a vítima de uma conspiração perniciosa ou de um erro histórico. Ele era um sacrifício voluntário. Além disso, nas biografias comuns, uma vez que as pessoas foram colocadas tranquilamente no sepulcro, elas permanecem lá. Jesus, porém, veio para morrer e ressuscitar. Esses  dois acontecimentos, a morte e a ressurreição de Jesus , são centrais para tudo que a Biblia diz sobre ele e para todo o propósito de sua vinda... “ (de “O Deus presente”, de D.A. Carson)
Nasceu para ser Rei. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu: O GOVERNO ESTÁ SOBRE OS SEUS OMBROS; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; e PARA QUE SE AUMENTE O SEU GOVERNO e venha paz sem fim sobre o trono de Davi E SOBRE O SEU REINO, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre”. “A revelação deste Reino poderia ser feita de duas maneiras: uma seria inaugurá-lo com grandes demonstrações de poder, com trovões e relâmpagos anunciando sua chegada, e exigências, o que  deixaria os homens atemorizados, e, para quem só havia uma opção: obedeça, ou, de outra forma... Isso contudo poderia criar não homens livres, mas escravos, ou robôs. O outro caminho seria Deus esconder o Seu Reino em fatos da natureza e da vida e gradualmente revelá-lo quando o homem se desenvolvesse suficientemente  para vê-lo e adotá-lo como seu próprio. Então na plenitude do tempo, quando Deus pudesse encontrar um povo ou nação mais provável para ser aquele que  aceitasse esse reino e o fizesse seu , Ele revelaria abertamente a natureza e as implicações desse reino, de forma compreensível – forma humana e nas relações humanas. Nós pensamos que Deus escolheu o segundo caminho; Ele se escondeu na forma disfarçada – como o Bebê, o Menino, o Carpinteiro, o Profeta, o Filho do Homem, o Redentor, o Crucificado, o Ressuscitado e Vivo Redentor, Aquele que está sentado à mão direita do poder ultimo do universo –  então Ele revelou o Reino de Deus numa Pessoa. Poderia o homem tomar esse reino desta forma? Alguns o fizeram, e foram transformados e mostraram uma qualidade de vida e poder muito além do ordinário. Mas muitos não o fizeram, e como consequência vivem  vidas pela metade (na penumbra), ou tateando e tropeçando na escuridão”. (de Stanley Jones, adaptado)
Com o rei Jesus Cristo começa o Reino de Deus (RD). O RD é essencialmente, o governo de Deus; consiste na implantação da vontade divina no coração dos homens. Jesus tornou isso claro quando, na Oração Dominical, disse: “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade...”, o que Ele mesmo realizou, de modo pleno, colocando acima de tudo fazer a vontade do Pai. Nesse sentido o Reino se fez presente nEle. O RD é uma vida cotidiana com Cristo; é receber a Sua justiça pela fé; é experimentar aquela paz interior que somente Cristo pode dar. É desfrutar da alegria no Espírito Santo”.
O RD começa como uma semente pequenina, que progressivamente desenvolve-se tornando-se uma árvore frondosa; de outra forma, está escondido como um tesouro, ou uma pérola muito preciosa, e que enseja tanta alegria para quem o encontrou, que ele é capaz de vender tudo que tem para poder tê-lo.
A questão básica do poder no Reino de Deus. “O problema do poder afeta todos os relacionamentos humanos, dos pais dominadores ao chefe intimidante, ao cônjugue manipulativo e ao pastor que brinca de Deus. A sedução do poder pode separar o mais resoluto dos cristãos da verdadeira natureza da liderança cristã, que é servir a outros. É difícil permanecer em pé num pedestal e lavar os pés dos que estão embaixo. Foi essa mesma tentação do poder que levou ao primeiro pecado. O pecado do Jardim foi o pecado do poder. No processo de anunciar o reino e oferecer redenção da Queda, Jesus pôs de ponta cabeça as visões convencionais de poder. Quando os discípulos arguiram sobre quem era o maior, Jesus reprovou-os dizendo “.. o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve”. Jesus foi tão bom quanto suas palavras. Lavou os pés empoeirados dos seus discípulos, uma tarefa reservada para os servos mais humildes, na Palestina do primeiro século. Um rei servindo as necessidades mais mundanas dos seus súditos? incompreensível. Mas é isso; a liderança do servo é o âmago dos ensinos de Cristo “ .. quem quiser ser o primeiro dentre vós, será servo de todos”. O entendimento cristão de poder é de que este é encontrado mais frequentemente na fraqueza. O apostolo Paulo escreveu: “ o poder se aperfeiçoa na fraqueza” e concluiu “porque quando sou fraco então é que sou forte”. Através das Escrituras Deus revela especial compaixão pelos que não têm poder: viúvas, órfãos, prisioneiros e estrangeiros. Indivíduos fortes confiam em seus próprios recursos – que, em última instância, jamais serão suficientes – mas a pessoa chamada fraca, conhece seus próprios limites e necessidades e, assim, depende totalmente de Deus. Talvez seja por isso que Deus tão frequentemente confunda a sabedoria do mundo realizando seus propósitos através dos não poderosos, e fazendo seus mais poderosos trabalhos através da fraqueza humana. (de “A ilusão do poder”, por Charles Colson; foi assistente especial do ex-presidente dos EUA, Richard Nixon).
Impacto do cristianismo na História. História é a aventura geral do ser humano e o seu esforço no sentido de racionalizá-la. A fé é a área da relação imediata com Deus, ao passo que a história é encadeamento de causas e efeitos da evolução humana. A fé é o instante do encontro com Deus e a revelação do sentido último do fim da história. A história, se não é a esfera que nos revela Deus, é, no entanto, o lugar onde devemos viver a fé. Se a história dá à fé o lugar onde exercer o amor, a fé dá à história um sentido de esperança, sem o que  a história seria simplesmente um caos de acidentes ou desenrolar indefinido que poderia chamar-se progresso, que todavia não teria nenhum significado. “ (André Dumas). E “Geoffrey Blainey (consagrado autor de best-sellers, como  “Uma Breve História do Mundo”, e “Uma breve História do século XX “) em seu livro “Uma breve História do Cristianismo” fazendo um balanço da influência do cristianismo, assim registrou:O cristianismo provavelmente foi a instituição mais importante do mundo nos últimos 2.000 anos. Muito do que nos parece admirável hoje resulta inteiramente ou em parte do cristianismo e de seus seguidores... Por muito tempo a Igreja representou a predecessora da assistência oficial, além de assumir o principal papel na educação em boa parte da Europa e de fundar a maioria das primeiras universidades. O cristianismo influenciou o papel social da mulher, o status da família e – dizem alguns historiadores – a ascensão do socialismo e do capitalismo. Além disso, tanto favoreceu como prejudicou o avanço da Ciência e das Ciências Sociais. A moderna democracia, muito diferente da versão praticada na antiga Atenas muito deve à declaração feita por Paulo, garantindo que todas as almas têm o mesmo valor aos olhos de Deus.“
O verdadeiro sentido do Natal é viver a plenitude do Reino de Deus na pessoa de Jesus Cristo, e, a boa notícia é que o Rei dos Reis, e Senhor dos Senhores está voltando, e, com Ele, o Reino de Deus, entrará em nova e definitiva fase de sua plenitude. Maranata!


terça-feira, 17 de novembro de 2015

CONHECER PELA RAZÃO, PELO CORAÇÃO, E, PELA FÉ



A famosa alegoria da caverna de Platão mostra a situação dos prisioneiros acorrentados numa caverna, e, vendo unicamente umas sombras que julgaram ser a realidade, como simbolizando a ilusão em que vivem. Embora eventualmente liberte-se um preso de suas correntes, o caminho para a verdade se apresenta como uma aventura dolorosa. O que Platão quis dizer com o mito é que os seres humanos têm uma visão distorcida da realidade, e que há um difícil caminho em direção à verdade, que, não obstante, libertaria do erro.
Na Idade Média, esta caminhada tinha ainda o peso da tradição, dominada pela autoridade religiosa; “quem se afastasse da doutrina da Igreja, era perseguido como herege (caça às bruxas). O uso do poder para reivindicar o conhecimento verdadeiro, era exercido pelos sacerdotes, alegando terem Deus do seu lado”. A História registra a triste memória da Inquisição.
A virada veio com o Iluminismo no Seculo XVIII. Com Descartes estabelece-se o domínio absoluto da razão que inaugura uma nova era, chamada de Idade da Razão, e, que foi também uma reação à camisa de força imposta pelo autoritarismo da Igreja na Idade Média. É sintomática a célebre afirmação do Iluminismo de ter inaugurado um novo saeculum (“Novus ordo seclorum”, que posteriormente aparece na nota de dólar americano).  O conhecimento obtido pela razão é, doravante, considerado como o único conhecimento verdadeiro. Trata-se de um conhecimento conceitual, objetivo, impessoal, e atemporal;  desenvolve-se pelo raciocínio claro, e exige sempre uma objetividade que é desapego e abstração das condições do próprio sujeito, em detrimento das emoções, da imaginação, da espiritualidade, etc.
Neste interim, a Reforma Protestante, impulsionada pela Imprensa, recém descoberta, espalha a chama do livre exame da própria Biblia, até então monopólio da Igreja. Deslancham também os Descobrimentos, inclusive de outras Terras ainda não desbravadas pela civilização conhecida.
Os pontos fortes deste conhecimento pela razão, incluem a derrubada das  barreiras da superstição, da opinião infundada, e, do fanatismo. Seus pontos fracos decorrem dos exageros do Racionalismo extremado, que erigiu a razão em deusa. “O imperativo do racionalismo, sapere aude (ousa ser racional), conduziu o ser humano a considerar a razão como uma “deusa”  (Viktor Frankl), simbolicamente entronizada na Revolução Francesa
A reação ao  Racionalismo ocorre já no sec. XIX com uma corrente de pensamento que se denominou de Existencialismo. Kierkegaard (1813-1855), filósofo e teólogo dinamarquês, é considerado um dos pais do Existencialismo Cristão. Ele “critica o papel fundamental que a razão sempre exerceu sobre a consciência ocidental, a ponto de tornar-se a razão como equivalente da realidade” . Para ele, o pensamento não tem sentido sem a ação. São as origens do Existencialismo, corrente de pensamento que destaca antes o papel da existência, como fonte de conhecimento, vis-a-vis ao conhecimento conceitual.  
Ponto forte do Existencialismo é a valorização dos sentimentos; Pascal (1623 - 1662físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês, pontifica: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. E, é o coração que sente Deus e não a razão”. Os pontos fracos ficam salientes nos exageros do emocionalismo em detrimento da razão, como na visão distorcida de Hitler sobre a essência e ação da propaganda: “Esta deveria ser antes de tudo popular, não devia dirigir-se às pessoas instruídas, mas unicamente e sempre à massa, e para ser eficiente, seria necessário, além disso, que se centrasse em alguns objetivos a serem repetidos, sempre, e sob a forma de slogans. Devia apelar sempre para os sentimentos, jamais à razão, e renunciar expressamente a toda a objetividade.”(Joachim Fest)
Para além do conhecimento ordinário, envolvendo mais bom senso  do que reflexão, “nos últimos séculos, e imbuídos de um tipo de positivismo implícito, usamos saber e conhecer para o que julgamos poder provar de alguma forma e acreditar para o que percebemos estar se degenerando em mera opinião pessoal, sem muito apoio no mundo mais amplo”. Verdade só através da Razão, e com o cientificismo, exigindo como condição sine qua non, objetividade e distanciamento do observador. Fica em segundo plano qualquer outro tipo de conhecimento, como a crença, a inspiração artística, etc.
N.T. Wright pontua que “todo o projeto que conhecemos como modernidade, tendo os movimentos iluministas europeu e norte-americano como seus carros-chefes, estava baseados no epicurismo.  Os efeitos disso são visíveis não somente no debate entre ciência e religião, mas em muitas outras áreas da vida, principalmente a política”. (Epicuro, foi um filosofo grego do sec. III antes de Cristo, segundo o qual “os deuses não se preocupavam com nosso mundo, fosse para intervir nele ou para julgar seus habitantes após a morte”). Outras visões distorcidas da realidade, estão presentes na linguagem do dia a dia, e, refletem uma ética de conveniência (se é bom pra mim, tudo bem), o relativismo moral (não existem verdades absolutas, tudo é relativo), etc.
A RELAÇÃO CONHECIMENTO E FÉ, alguns destaques:
Jonathan Edwards (1703-1758),  pregador congregacionalteólogo calvinista e missionário aos índios americanos, considerado um dos maiores filósofos norte-americanos. Condenava um conhecimento apenas conceitual, em favor de um conhecimento pessoal, sentido, cognitivo e vivencial. Insistia que a fé humana não era uma questão de pertencer a uma Igreja, nem religiosidade socialmente aceitável, mas, sim, uma questão do coração ativado pela vontade. Segundo ele, as ações demonstram o verdadeiro cristianismo, praticar, não apenas ouvir, a Palavra.”
Martim Buber (1878-1965), filósofoescritor e pedagogo austríaco. Conhecimento relacional: “O relacionamento homem-homem segue uma das duas possibilidades: EU/TU e EU/ISSO. Se analiso outra pessoa, ou a utilizo como objeto, para mim ela é um simples isso. Se a deixo me influenciar com seu ser pleno através do diálogo, ela se torna um tu. Minhas próprias mudanças dependem deste relacionamento. Eu/tu é um encontro existencial, pessoas vivas se relacionando de modo a se conhecerem melhor, umas às outras. Este deveria ser, a rigor, o relacionamento entre homem e homem, mas também entre o homem e Deus. O homem deve encontrá-Lo existencialmente, e não apenas intelectualmente”.
Joshua Heschel  (1907-1972), rabino austro-americano. Conhecimento situacional. “Na procura da compreensão dos problemas religiosos, o rabino Joshua Heschel se coloca numa linha de conhecimento que chama de “situacional”, porque se ocupa com as situações, supõe uma experiência interior e procura, antes de tudo, compreender os problemas que envolvem a nossa existência real. O conhecimento situacional se distingue daquele que é predominantemente conceitual, que se desenvolve pelo raciocínio, procura um aumento de conhecimento do mundo exterior e exige sempre uma objetividade que é um desapego e abstração das condições do próprio sujeito. O inicio do conhecimento situacional não é a dúvida ou o desapego mas sim a admiração, o engajamento. Se não nos comprometermos pessoalmente, o problema não terá presença”.
Dr. Samuel Bergman (1883 –1975), filósofo. O conflito entre a fé e a razão, decorre de uma falsa compreensão da fé como uma origem especial da verdade, como uma fonte de conhecimento objetivo e complementar à razão humana, mantendo-se porém distinta desta e independente da mesma. A fé e o raciocínio foram assim concebidos como fontes separadas da verdade e do conhecimento. A fé é uma relação possuindo caráter imediato análogo ao existente entre o “eu” e o “tu”. O crente busca a Deus e o encontra. Sabe que Deus tem para ele a mão estendida. Fala a Deus e recebe uma resposta. Ora a Deus, com tanta certeza da sua existência, como da sua própria, a do seu próximo. Não exige provas para esta certeza suprema; porém se alguém lhe solicitasse provas, não poderia apresentar. Não pode fornecer evidência objetiva para  o que, em seu coração, conhece como absolutamente verdadeiro e real.”
N.T.Wright (1948 ), bispo anglicano. Conhecer pela Fé, pela Esperança, e pelo Amor. “O amor é a forma mais profunda de conhecimento. Todo conhecimento é um dom de Deus, tanto o histórico e científico como o de fé, esperança e amor, mas o maior destes é o amor; isto não significa que deixamos de acreditar em evidências e argumentos, ou, na história e na ciência. Significa apenas que eles foram superados pela realidade maior da qual se apropriaram, para a qual apontam, e na qual encontrarão um lar novo e maior. Esse é o modo de conhecimento necessário, se quisermos viver no novo mundo público, o mundo iniciado na Páscoa, o mundo em que Jesus é Senhor e César não é”.
Palavras de Jesus -Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. E, Eu sou o caminho a verdade e a vida.” Esta é a verdade que é possível discernir através do conhecimento pela Fé, pela Esperança e pelo Amor. O conhecimento alcançado pela Razão e pelo Coração podem, são insuficientes para a apreensão dessa verdade.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

PESSOAS INESQUECÍVEIS



Sobre pessoas inesquecíveis, compartilho o pensamento do meu caro amigo e médico, Dr. José Luiz Pires (*): Penso que cada ser humano é uma síntese constituída de milhares de pessoas que passam a fazer parte dele. Desses milhares, um certo número tem uma parte mais significativa nesse universo-síntese. Entre os que são contados nesse certo número, estão alguns que, por uma razão ou outra, nos alcançaram de modo mais direto. E nestes, que nos alcançaram de um modo mais direto, estão os que atuaram em diferentes áreas, épocas e aspectos da nossa vida.”
Somos em grande parte, moldados pelas interações com outras pessoas, desde a família, amigos, colegas de trabalho, professores, líderes espirituais, etc. isto sem contar de que desfrutamos crescentemente dos avanços tecnológicos propiciados por muitos outros, ao longo da história; em resumo nossa interdependência, mostra o quanto somos devedores a tantos,  em meios aos quais naturalmente destacamos aquelas pessoas inesquecíveis, que nos tocaram de forma diferenciada e marcante.
Esta multiplicidade de influências converge então para uma singularidade, que é a vida de cada ser humano consciente. Na composição de cada um entram ingredientes comuns, mas que, em medidas e condições diferenciadas, em função de circunstancias e do próprio desenvolvimento de cada um, no seu conjunto enseja um ser único; ninguém é exatamente igual ao outro. “Cada homem traz algo de novo ao mundo, algo que ainda não existia, algo sério e único. A obrigação de cada homem... é saber refletir sobre seu caráter único em seu modo de ser e sobre o fato de nunca ter existido ninguém igual sobre a terra. Se alguém igual já tivesse habitado a terra, não precisaria estar aqui.” Para Viktor Frankl, sábio criador da Logoterapia (corrente da Psicologia centrado na busca de sentido, põe ainda em evidência a importancia de cada um: “O ser humano é um acontecimento único em todo o cosmo, por esse motivo ele mesmo se constituiria como um valor em si mesmo e também seria portador de uma dignidade inalienável. Como um ser irrepetível, nescessita encontrar e realizar um sentido para a sua vida.”
Por sua vez, a singularidade desenvolve-se não de forma autocentrada, mas antes pela orientação para o outro: ainda Viktor Frankl,compreeende que a meta mais nobre do ser humano seria a autotranscedência, fenômeno especificamente humano que significa que quanto mais a pessoa encontra-se voltada para algo ou alguém, mais humana será”.  Frankl cita os ensinamentos de Hillel, que sintetizou uma profunda sabedoria de vida por meio de três perguntas: se eu não o faço, quem o fará? e se eu não o faço agora, quando se fará? e se só para mim o faço, o que é que eu sou afinal? Para ele, a primeira pergunta se remeteria à unicidade do sentido e da pessoa humana. Assim o sentido é intransferível, pois seria dado para um determinado sujeito. Já a segunda pergunta se relacionaria com a transitoriedade do sentido; se o ser o humano o realiza, realiza para sempre, salvando na perenidade do passado. Por fim, a última pergunta despertaria a autotranscedência do ser humano, desviando o olhar de qualquer vantagem pessoal”.
Isto destaca a insensatez do egoísta, que se imagina no centro de tudo, em detrimento dos demais, como um poço que só recebesse água. É típico do egoísta, o pensamento de que “tudo que tenho é meu, me pertence por direito, e, afinal não devo nada a ninguém.
Ser, ou, tornar-se também inesquecível para outros, faz parte afinal de nossa vocação comum, aquilo para o qual fomos feitos. Aponta para a transcendência de nossas ações, onde tudo afinal se resume no amor: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” Marcos 12:30,31. Neste resumo do próprio Deus, criador de tudo, podemos encontrar aqueles para os quais devemos nos tornar pessoas inesquecíveis: Deus, em primeiro lugar; em seguida, para com o nosso próximo, na mesma medida de nós mesmos.

(*) escreveu “Sob a Mão de Deus”, “um relato de casos vividos por um médico numa região pioneira do País. Tabalhando em condições precaríssimas, esse cristão no seu labor profissional, foi levado a experimentar, de modo muito real, a mão de Deus – sábia, poderosa e cheia de amor, repousando sobre a sua”.


Fonte: A presença não ignorada de Deus na obra de Viktor Frankl, de Thiago Antonio Avellar de Aquino.

sábado, 19 de setembro de 2015

O QUE HÁ DE ERRADO COM O MUNDO ?




Uma foto que pesou mais do que milhões de palavras e discursos, mostra de forma inequívoca, que há algo de muito errado no mundo. A foto mostra o corpo sem vida de uma criança, boiando numa praia, após uma tentativa frustrada de sua família de fugir da morte, e das atrocidades de terroristas que assolam o País, e que impactou meio mundo, derretendo corações até então insensíveis, protegidos dentro das fronteiras de seus respectivos países, mais ou menos distantes do cenário onde se desenrola o drama dos refugiados sírios. Valeu a comoção pública mundial, ainda que tardia, pois revela que, por baixo desta camada de aparente insensibilidade e pragmatismo personalista, ainda há corações capazes de irem além das lágrimas!
Poderia ter sido mais um flash que acompanha as tristes estatísticas, infelizmente comuns e crescentes em nossos dias, objeto de noticiários que diariamente nos invadem a atenção e, que de tão frequentes, chegam quase a insensibilizar consciências, com o argumento que é mais um problema de outros, e, já temos os nossos. Neste contexto a reportagem da Veja destaca que somente neste ano, cerca de 2.600 pessoas morreram tentando chegar à Europa pelo mar, das mais de 300.000 que encararam a travessia. Nos últimos dias, as multidões atravessando fronteiras com pouco mais do que a roupa do corpo em trens,  a pé ou de bicicleta...” (1). Também a revista Ultimato, em sua edição de setembro/outubro de 2015, mostra o nº expressivo de pessoas deslocadas com guerra no Mundo, que, elevou-se de 37,5 milhões em 2005, para 43,7 milhões em 2010, 59,5 milhões em 2014.
Do outro lado, a recepção beligerante de alguns, nos países de destino almejado pelos refugiados, fruto de um raciocínio pragmático e frio: “Os que sobreviveram à travessia não são bem-vindos na Europa. Eles são muitos. São pobres. Muito diferentes. São até vistos como ameaça: “Os que estão chegando cresceram em outra religião e representam um cultura radicalmente diferente. A maioria deles não é cristã, mas muçulmana. A Europa tem uma identidade enraizada no cristianismo” (Viktor Orban, Primeiro-Ministro da Hungria) (1). Por oportuno, uma das bandeiras de um candidato em evidência nas pesquisas, para a próxima eleição presidencial nos EUA, é ostensivamente restritiva em relação aos imigrantes ditos ilegais, e que, se eleito, já “deixou claro que rescindirá as ordens executivas ... que impedem a expulsão tanto dos jovens imigrantes ilegais que chegaram ao país sendo crianças (os chamados "dreamers", ou "sonhadores"), como os pais de cidadãos americanos ou de filhos com status legal”.
Por fim uma ponderação nua e crua, do articulista, na referida revista: “Os europeus têm boas razões para reagir defensivamente. Os imigrantes não têm alternativa. A situação em que os dois lados de um conflito possuem razões legítimas e lutam para impô-las à força tem o nome de tragédia” (1). E aqui, complementamos, nesta situação onde aparentemente todos têm razão, e, por outro lado, ninguém é indesculpável, o Mal encontra terreno propício onde deita raízes.
A questão de fundo, que procura envolver Deus, e que também foi destaque na Capa da citada revista - “Deus, sendo bom, fez todas as coisas boas. De onde então vem o mal? (Santo Agostinho, nas Confissões). O mal (e o bem) vem do homem? (Czeslaw Milosz, Poeta Polonês ganhador do Nobel de Literatura) (1)
Teodiceia, palavra que se deriva de dois vocábulos gregos que significam “divindade” e “justiça”, diz respeito à discussão do problema da existência do  e de sua relação com a bondade de Deus. Ele pode ser expresso num dilema famoso: ou Deus é capaz de impedir o mal e não o quer, ou Ele quer impedi-lo e não é capaz. Se o anterior for verdade, Deus não é misericordioso; se o último, Ele não é onipotente. Outra versão similar: Se Deus é perfeitamente bom, Ele tem a vontade de remover o mal. Se Deus é perfeitamente poderoso, Ele é capaz de remover o mal. Mas, como o mal não tem sido removido, ou Deus não tem vontade ou é incapaz de remover o mal. Portanto, ou Deus não é perfeitamente bom, ou Ele não é perfeitamente poderoso”.
Alinhado com esta última, destacamos a concepção do escritor consagrado Harold Kushner, que “servindo como rabino de uma pequena cidade, sempre envolvido em levar consolo às pessoas visitadas pela dor e pelo sofrimento, no instante, em que soube que seu filho Aaron, de três anos de idade, morreria de uma doença rara no início da adolescência, ele se deparou com a mais importante e mais terrível questão que alguém pode enfrentar: “Por que coisas ruins acontecem às pessoas boas?”, e que ensejou seu livro bestseller (2). O que ele propõe é que, “Não é Deus que causa a tragédia, a doença, o sofrimento. Existe uma “aleatoriedade” no universo e a natureza é moralmente cega. Um terremoto não distingue entre pessoas boas e ruins. Nem o câncer. Nem o derrame cerebral. Nem a progéria. Não são “atos de Deus”.  Deus nos dá força, coragem e paciência para enfrentarmos os golpes da vida. Deus não é nosso adversário, mas sim nosso aliado. Deus é a fonte do nosso poder de suportar, nossa capacidade de superar e nossa determinação de continuar” (2).
Uma resposta fundamentada na Biblia, e que compartilhamos, tem como postulados: “Deus é absolutamente bom; Deus é absolutamente soberano; O Mal é absolutamente mau.
De onde vem então o mal? Como veio a existir o mal? Quais são suas origens primeiras? Porque existe o mal? tudo não poderia ser feito sem a possibilidade do mal? As respostas para tais questões não são encontradas na Biblia. O mistério permanece oculto. O mal não está lá para ser entendido, mas para ser resistido e, no final, expulso. O livro de Genesis (cap. 3) não nos fala sobre a origem do mal em si. Em vez disso, descreve a entrada do mal na vida e na experiência humana. O mal parece irromper na narrativa bíblica já estabelecido, sem explicações ou racionalização.
A Biblia nos compele então a aceitar o mistério da existência do Mal, um mistério que nós, seres humanos não podemos entender ou explicar. Temos que nos habituar com o entendimento de que Deus escolheu não explicar a origem do mal; em vez disso, escolheu chamar minha atenção para aquilo que Ele tem feito para lutar contra o mal e destrui-lo.
Será que devemos então simplesmente engolir perguntas desesperadas, aceitar que o mal é um mistério e calar a boca? Certamente que faremos mais do que isso:
  • Nós nos afligiremos; prantearemos, lamentaremos, protestaremos, gritaremos de dor e raiva, e clamaremos “até quando esse tipo de coisa vai continuar?
  • Lutaremos contra ele com lamento, aflição, raiva, desgosto, e protesto.
A Biblia permite que lamentemos, protestemos e fiquemos irados diante da ofensividade do mal. A Biblia nos determina a combatermos o mal, rejeitarmos o mal e resistirmos a ele. A Biblia nos ensina a orarmos para que Deus nos livre do mal.”
Se a causa primária, a origem do mal, não está ao nosso alcance conhecer já, não obstante, é bem conhecida a causa imediata dos males morais, isto é, daqueles que decorrem do mal uso do livre arbítrio (liberdade de fazer a nossa vontade):o pecado ou a rebelião contra Deus; pecado é essencialmente fazer algo em detrimento da vontade de Deus. Neste sentido, a maioria do sofrimento é resultado do pecado e da maldade humanos. Esta é a dimensão moral do mal, em que os seres humanos sofrem em termos e circunstâncias amplas porque são pecadores. O mal moral seria o sofrimento e a dor que encontramos no mundo, e que está de alguma forma relacionado com a maldade dos seres humanos, direta ou indiretamente. Esse é o mal visto em coisas que são ditas e feitas, coisas que são perpetradas, causadas ou empreendidas pela ação (ou falta de ação) no contexto da vida e da história da humanidade.” (3)
“Quando o jornal London Times solicitou a diversos escritores que mandassem ensaios sobre o assunto “O que há de errado com o mundo?”, Chesterton (4) respondeu mandando a carta mais curta e direta de todas:
“Prezados Senhores
Eu.
Atenciosamente G.K. Chesterton



(1) Veja, de 09 de setembro de 2015
(2) “Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas”, de Harold Kushner.
(3) “O Deus que eu não entendo”, de Christopher J.H. Wright
(4) Chesterton, 1874-1936, renomado escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, teólogo, filósofo, desenhista e conferencista britânico



sexta-feira, 21 de agosto de 2015

INDO MAIS ALÉM DA INDIGNAÇÃO!



Motivação. Uma das realidades mais gritantes na sociedade brasileira, na atualidade, são as descobertas de sucessivos  casos de corrupção, conforme denunciados pelo Ministério Público Federal, minando um patrimônio público de referência mundial, seja pelos prejuízos substanciais causados pelas compras superfaturadas de equipamentos e serviços, de grande monta, seja pelas compras tempestivas, propositalmente fora de um planejamento que as otimizasse, seja pelos prejuízos para a imagem da Empresa – correntemente objeto de ações indenizatórias de acionistas no exterior - e, coroando tudo isso, pelas perdas substanciais com a brutal  desvalorização decorrente, no valor das ações em Bolsas.
O que chama, também, a atenção são os patamares de valores desviados envolvendo cada denunciado/operação, atingindo centenas de milhões de dólares, até então inimagináveis, comprovando a máxima de que a ganância não tem limites, assim como, as formas cada vez mais sofisticadas -  envolvendo os mesmos e outros personagens - usadas para burlar a Lei, não obstante,  ainda beneficiários de uma defesa contratada em meio a uma elite de profissionais.
Nesta oportunidade, compartilhamos fragmentos colhidos de pensamentos e iniciativas de reação, de repúdio e censura, a este estado de coisas. Destacamos ainda o papel responsável de cada um cidadão, numa Democracia, em agir solidariamente no apoio às iniciativas de combate à corrupção que assola o País, um mal, que já foi diagnosticado como quase endêmico, e, aqui comparado a um câncer em metástase, e que está na ordem do dia há mais de um ano e meio, alimentando noticiários que se enquadrariam melhor em páginas policiais. Enfatizamos mais particularmente a oportunidade de se ir mais além da indignação pessoal e pública.
Corrupção é roubo qualificado, e inscreve-se como injustiça social.O corrupto, sem apontar a arma para ninguém, mas apenas com uma caneta ou maços de dinheiro, mata mais do que os outros criminosos. O dinheiro público, objeto de corrupção, deixou de construir hospitais e unidades básicas de saúde. Desta forma, pessoas sofrem e morrem todo dia, sem o atendimento que necessitam. O corrupto, portanto, é um assassino serial, insensível ao padecimento e morte alheios”. (Corrupção é injustiça socialMaria de Fátima, na coluna do Correio Popular, 12/08/2014)
Responsabilidade social  é um dever cristão, e que também implica denunciar o mal e a injustiça. Faço referência ao “Pacto de Lausanne”, firmado no Congresso Internacional de Evangelização Mundial em Lausannne, Suiça com representantes de mais de 150 Nações, ocorrido de 16 a 25 de julho de 1974, do qual destaco no tópico “Responsabilidade Social Cristã”: “Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela reconciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e  não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com  o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-politico são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais.“
As ações têm um peso que vai além da indignação e das intenções. É nas ações que o homem toma consciência sobre o que sua vida é verdadeiramente. É quando usa a sua vontade, e não a reflexão, que ele encontra seu próprio ser, como ele é, não como gostaria que fosse”.
“Não qualquer coisa, mas o correto deve ser feito e arriscado; não se deve flutuar no possível, mas agarrar valentemente o real; a liberdade não está no vôo dos pensamentos, mas tão somente na  ação. Saí da medrosa hesitação para a tempestade dos acontecimentos, sustentado apenas pelo mandamento divino e pela tua fé, e a liberdade acolherá teu espírito com júbilo”. (Dietrich Bonhoeffer, mártir do nazismo, em Estações no Caminho para a Liberdade).
Os Protestos. Podemos ir mais além da indignação, participando de manifestações pacíficas de protesto. Alicerçadas na “liberdade de expressão” (direito de qualquer indivíduo se manifestar livremente opiniões, ideias e pensamentos, sem a prática de qualquer delito que possa pôr em causa o direito do outro), num dos avanços da Democracia, os protestos têm sido cada vez mais reconhecidos como formas legítimas de participação na vida pública, sendo objeto de novos estudos e teses visando compreender melhor este seu papel na atualidade:”... protesto enquanto forma de ação coletiva ... enquanto espaços de participação cidadã na definição de políticas públicas ... Apesar da possibilidade, inerente aos sistemas democráticos, de podermos eleger quem nos represente politicamente, não temos que estar sempre de acordo com os nossos representantes em todas a matérias. O desacordo e a oposição são elementos constituintes do processo político e uma condição necessária ao bom funcionamento da democracia.” 
Indo mais além da indignação, aqui e agora, no apoio, e, esperança, na implementação das “10 MEDIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO”, conforme elaboradas pelos qualificados representantes do Ministério Público Federal, em sua cruzada nacional, aplaudida na Operação Lavajato, e que foi também objeto de endosso em Carta Pastoral, da Aliança Evangélica: “Com o apoio da população brasileira essas propostas podem ser encaminhadas ao Congresso brasileiro na forma de um Projeto de Lei por Iniciativa Popular”.
São elas: 1) Criminalização do enriquecimento ilícito de agentes públicos; 2) Responsabilização dos partidos políticos e criminalização do caixa 2; 3) Reforma no sistema de prescrição penal; 4) Aumento da eficiência e da justiça dos recursos no processo penal; 5) Prisão preventiva para assegurar a devolução do dinheiro desviado; 6) Prevenção à corrupção, transparência e proteção à fonte de informação; 7) Aumento das penas e crime hediondo para a corrupção de altos valores; 8) Celeridade nas ações de improbidade administrativa; 9) Ajustes nas nulidades penais; 10) Recuperação do lucro derivado do crime. (visite o site http://www.combateacorrupcao.mpf.mp.br/10-medidas).



domingo, 19 de julho de 2015

SOBRE CORRUPÇÃO E ÂNSIA DE VISIBILIDADE




Uma previsão feita há mais de 2.000 anos, descreve assim nossos dias: haverá  homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos...”.
Eventualmente alguns, com estas disposições bem latentes na alma, encontrando oportunidades propícias, tornam-se corruptos, com destaque para as instâncias onde ocorre maior concentração de poder, envolvendo, dentre outros, o meio político,  a alta administração pública, e o seleto grupo do alto empresariado do País, como aqueles tristemente famosos da “Operação Lava-jato”.
Na mesma linha, “na cultura midiática brasileira, a Lei da Vantagem ou Lei de Gérson é um princípio em que determinada pessoa ou empresa deve obter vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais (princípio seguido por uma parcela de agências e publicitários, que recebem pagamento por anúncios ou premiações pelo trabalho realizado, mas não querem se responsabilizar caso o efeito da divulgação cause transtornos ou danos, eximindo-se de culpa e a transferindo para o anunciante ou para o público). A "Lei de Gérson" acabou sendo usada para exprimir traços bastante característicos e pouco lisonjeiros do caráter midiático nacional que passa a ser interpretado como caráter da população, associados à disseminação da corrupção e ao desrespeito a regras de convívio para a obtenção de vantagens.”
Também aquilo que se apelidou de “ética de conveniência”, muito em uso entre políticos conhecidos por “ficar em cima do muro”, e deliberadamente relativizar a verdade. Olhando por esta ótica parece não haver remédio, e, a corrupção é mesmo endêmica, apenas uma questão de chance.
Em artigo publicado na Ultimato jul-ago 2013, intitulado “A corrupção: causas e reações”, o renomado sociólogo cristão Paul Freston, comenta algumas causas da corrupção e como mitigá-las, do qual destacamos: “A corrupção do pecado é um estado teológico geral: está em todos nós e em todas as instituições... A corrupção se relaciona com as instituições, mas também com a cultura e as características das lideranças.... É impossível chegar à “corrupção zero”, porque existe a corrupção por necessidade e a corrupção por ganância. O governo pode combater a corrupção por necessidade com salários mais altos, porém o corrupto por ganância continuará corrupto mesmo com o salário mais alto do mundo (vide nossos Dirigentes corruptos da Estatal)... A corrupção quase nunca tem causa única. Por isso é necessário combatê-la em várias frentes ao mesmo tempo e durante muito tempo. Algumas medidas anticorrupção afetam as políticas e as prioridades do Estado... Algumas medidas que são aconselháveis no combate à corrupção são consideradas desaconselháveis por causa da ideologia do governo ou de outras prioridades adotadas por ele. Nem sempre a escolha é simples. Às vezes é necessário negociar para se adotar uma medida que reduza a corrupção, mas que, ao mesmo tempo, pode trazer prejuízos políticos.
Em outro artigo da mesma revista Ultimato, de julho/agosto 2015, a ex-senadora Marina Silva,  pondera sobre o sentimento afim, de ânsia por visibilidade, e destaca “reconhecer o trabalho e a atitude de pessoas que atuam sem alarde e persistem na integridade, no respeito, no compromisso é um importante aprendizado... Ansiosa busca por visibilidade e status é marcante em todos os ambientes de vida social em nossos dias. Na política e na gestão públicas essa ansiedade tóxica obscurece os fundamentos de todo serviço: a humildade e a disponibilidade para o outro. É nas menores transformações, nas melhorias de pequenas parcelas cumulativas, que podemos pacientemente produzir um resultado significativo ... Precisamos não de visibilidade espetacular, mas de firmeza de propósito e fidelidade a valores por parte dos que trabalham no serviço público em favor do bem comum, em lugar do querer se dar bem. É importante que aprendamos a reconhecer e a dar sequência ao trabalho e à atitude das pessoas que, em diversas posições na sociedade, trabalham sem alarde e persistem na integridade, no respeito ao outro, no compromisso ao que foi decidido. Desses singelos frutos colhidos no cotidiano de pessoas e povos é que nascerão as mudanças sociais, políticas, culturais e econômicas das nações. A dignidade espiritual desde as pequenas coisas, na humildade do serviço mais simples, é a base da elevação de todos.”
Na escala das realizações individuais, são muitos os exemplos cotidianos, de anônimos, sem quase visibilidade, que mostram uma outra realidade, do dia-a-dia do homem comum, vocacionado para o trabalho honesto, que lhe rende o pão de cada dia, seja no emprego com carteira assinada, seja na prestação de serviço avulso, desde o mais simples trabalhador ambulante pedindo por algum serviço que possa realizar - em vez de pedir esmolas – ou o professor abnegado de uma longínqua escola pública no interior, improvisando com parcos recursos, facilidades didáticas para quem não tem acesso, e, bem assim, as mais diversas iniciativas de voluntários engajados na promoção do próximo, etc.

Finalmente, o conselho consequente do apostolo Paulo, numa carta ao seu discípulo Timóteo, em relação ao prognóstico mencionado no inicio: Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te”. 2 Timóteo 3:1-5

sexta-feira, 19 de junho de 2015

AMOR QUE COMOVE



Amor que comove é uma forma de amor que move à ação consequente; eventualmente objetiva-se com – comoção, e  + ação. Diferentemente do amor piegas, voltado quase que exclusivamente para si mesmo, o amor que comove, mira no próximo (aquele que necessita urgente de ajuda, e, que está ao nosso alcance poder ajudá-lo). Envolve gestos de compaixão, dar atenção, oferecer ajuda, e, se envolver na recuperação daquele que está em situação crítica padecendo necessidade. O amor que comove distingue-se do amor puro sentimento, em poder até prescindir do sentimento de satisfação  pelo reconhecimento do próximo, ou até dos outros circunstantes, não estando também sob a pressão da obrigação, e, muito menos  na expectativa de desdobramentos favoráveis; é antes pura doação unilateral, e, isto também é amor em sua essência.
Ao abordar o assunto, pensamos, s.m.j., que duas posturas deveriam ser evitadas: aquela  inata a todos nós, sempre que nos vemos como justos, íntegros, sábios, e santos, salvo se estejamos convencidos que em princípio não somos melhores, em nossa inclinação natural para  o egoísmo, injustiça, e estupidez . De outra parte a vitimização do próximo, ou fantasiá-lo como um coitadinho indefeso, e injustiçado.
O cuidado com o próximo, foi imortalizado na figura bíblica do “bom samaritano” (transcrita ao final).  Respondendo à uma indagação de “quem é o meu próximo?”, Jesus conta uma história de um estrangeiro, pertencente a um povo hostilizado pelos habitantes locais, e, que circunstancialmente, vê um dessas pessoas abandonada ao ermo, em situação de extrema necessidade. Na atualidade, costuma ser romantizada através de pinturas retratando a figura de um viajante insuspeito, que fora assaltado por bandidos, e, abandonado à beira da estrada longínqua; nada que os primeiros cuidados, e um bom banho não pudesse logo corrigir. Deixamos de ver, entretanto, a face nua e crua da miséria, de alguém caído na sarjeta, imerso voluntariamente, ainda que por força das circunstâncias, em uma situação de degradação, às vezes até, causando asco, pelas condições de maltrapilho,  fedendo, sujo, bêbado, e incômodo.
Por oportuno, recém vivenciamos uma experiência bem comum, dentro de um ônibus cheio, na ocasião em que entra um rapaz, aparentemente drogado, mal vestido e com capuz escondendo em parte o rosto, barba longa e desgrenhada, repetindo em alta voz frases desconexas, deixando todos circunstantes irritados, e em estado de atenção, se não seria um assaltante potencial, ou mais um perturbador da ordem. O primeiro desejo, imaginamos, de todos nós em volta, era pedir ao motorista para retirá-lo antes de dar partida. Quatro paradas à frente, apenas um jovem que ia descer, percebendo que o mesmo já dormia no assento, tocou no seu ombro buscando alertá-lo se não estaria no ponto de destino.
O teólogo Julio de Andrade Ferreira compartilha uma interpretação livre da história bíblica citada acima, como “Parabola do Adolescente”, que transcrevemos: Certo adolescente caminhava pela estrada pedregosa que leva da infância à idade adulta, quando caiu nas mãos de exploradores. Estes tiraram dele a inocência e o induziram ao vício, deixando-o inseguro e insatisfeito. Casualmente encontrou-o um ministro de religião e afirmou não ter tempo de conversar, pois seu expediente estava muito apertado. Igualmente, o orientador educacional, vendo-o, alegou não poder atende-lo. Certo negociante, porém, um estrangeiro, viu-o com olhar inquieto e tristonho. Teve pena do rapaz e procurou acercar-se dele. Conversou com o garoto, deu-lhe interessante literatura, e, pondo-o no seu carro, convidou-o para ir até um acampamento para recuperação de viciados. No dia seguinte, disse ao encarregado: Preciso voltar às minhas tarefas; deixo aqui recursos para o custeio deste tratamento, por algum tempo. Peço que  o rapaz seja orientado e cuidado. Voltarei para acertar contas e conversar com ele. Quem dentre todos, te parece que se fez próximo do rapaz desorientado?”
Hoje em dia, ações coletivas desta natureza, são executadas por várias Igrejas, de diferentes credos, e entidades afins, que atuam neste difícil ministério, em paralelo com a ação governamental na execução de politicas públicas específicas.
O “Amor que Comove” também “é um dos principais ramos de ação social da I Igreja Presbiteriana de Curitiba voltado para alcançar e ajudar pessoas largadas nas ruas.  Pode ser descrito como “grupo evangelístico para pessoas em situação de rua, carrinheiros, alcoólatras e drogaditos de Curitiba, com entrega de alimentos, acompanhamentos, triagens para casas terapêuticas e principalmente, propagação da palavra de Deus. Tendo sido criado por membros no início do segundo semestre de 2012, o ministério tem como objetivo prestar auxílio a moradores de rua e formar a linha de frente no resgate social de dependentes químicos. A equipe é formada exclusivamente por voluntários, pessoas com muita energia e vontade de fazer a diferença em seu meio social. Embora o trabalho proposto tenha se provado bastante desafiador, o apoio extensivo da comunidade cristã possibilitou que o ministério crescesse com o tempo. Hoje, temos diversas frentes de atuação que abrangem desde saídas rotineiras às ruas para estabelecer novos contatos até a prestação de auxílio direto a dependentes sendo tratados em casas de acolhimento”. Dentre os casos assistidos por este ministério, registramos aqui a mobilização até a última hora, e o conforto final, testemunhado pela avó, única presença familiar por ocasião do enterro de um drogadito: “André vivia nas ruas desde os 16 anos de idade. Era dependente de drogas e álcool e seu lugar preferido de abrigo era a calçada da Igreja, onde mendigava e dormia ao relento. Expulso de casa pelos frequentes furtos e problemas que trazia para dentro do lar, André foi renegado pela família, que já não o aceitava mais e não o queria por perto. Ele vivia sozinho, sem ninguém para apoiá-lo, embora sempre encontrasse gente disposta a estender a mão. Ao final a cirrose e o câncer resultaram na sua morte no final de abril deste ano. Abandonado pela família, este morador de rua teve seu último desejo atendido pelo ministério Amor que Comove, “Ele não queria ser enterrado como indigente!”. Ainda sobre o caso, guardei a expressão de realização de minha colega, participante ativa deste ministério, pelo fato de que, pelo menos, o André tenha sido enterrado decentemente com um mínimo de honra que não teve enquanto vivo.
Comemoramos a existência destes  bons samaritanos da atualidade, ao ensejo em que convidamos para conhecerem e participarem, mesmo à distância, deste tocante ministério (www.amorquecomove.org). Destacamos  finalmente o reconhecimento do mérito (para aqueles que são salvos, assim cremos), feito por ninguém menos do que o próprio Jesus Cristo :  Então dirá ... : Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Mateus 25:34-40


P.S. Quem é meu próximo?

“... para testar Jesus, um líder religioso lhe perguntou: “Mestre, o que preciso fazer para ter a vida eterna?”. Ele responder: “O que está escrito na lei de Deus? Como você a interpreta?”. Ele disse: “Ame o Senhor seu Deus com toda a paixão, toda a fé, toda a inteligência e todas as forças; e ame o próximo como a você mesmo”. “Boa resposta!”, disse Jesus. “Faça isso e viverá.”. Querendo fugir da resposta, ele perguntou: ”Como saber que é o “próximo?”. Jesus respondeu com uma história: “Certa vez, um homem viajava de Jerusalém para Jericó. No caminho, foi atacado por ladrões. Eles o espancaram e fugiram com suas roupas, deixando-o quase morto. Pouco depois, um sacerdote passou por aquela estrada, mas, quando viu o homem, esquivou-se e simplesmente foi para o outro lado. Em seguida, surgiu um religioso levita. Ele também evitou o homem ferido. Um samaritano que viajava por aquela estrada aproximou-se do ferido. Quando viu o estado do homem, sentiu muita pena dele. Aplicou ao ferido os primeiros socorros, desinfetando os ferimentos e fazendo alguns curativos. Pôs o homem sobre o jumento em que viajava e levou-o até uma pensão. Na manhã seguinte, entregou duas moedas de prata ao dono da pensão e disse: “Cuide bem dele. Se custar mais, ponha na minha conta; pago quando voltar”. “O que você acha? Qual dos três é o próximo do homem atacado pelos ladrões”...Lucas 10:25-36. (Biblia em linguagem contemporânea)