Dialogo
de Jesus com Pedro, após este, por medo, haver negado que O
conhecia: “Depois de comerem, Jesus perguntou a
Simão Pedro: "Simão, filho de João, você me ama mais do que
estes?"Disse ele: "Sim, Senhor, tu sabes que te amo". Disse
Jesus: "Cuide dos meus cordeiros". 16 Novamente
Jesus disse: "Simão, filho de João, você me ama?"Ele respondeu:
"Sim, Senhor, tu sabes que te amo". Disse Jesus: "Pastoreie
as minhas ovelhas". 17 Pela terceira vez, ele lhe disse:
"Simão, filho de João, você me ama?" Pedro ficou magoado por Jesus
lhe ter perguntado pela terceira vez "Você me ama?" e lhe disse:
"Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te amo". Disse-lhe
Jesus: "Cuide das minhas ovelhas.” (João 21:15-17)
Aqui
a primeira questão: como seria nossa resposta hoje ? E, uma
confissão a Deus,
Quem
ama gosta de pensar na pessoa amada! Por que então gasto tão pouco tempo
pensando em Ti, mormente quando as coisas aparentemente estão correndo bem? Por
que não tenho maior prazer em ler as Tuas cartas de amor, inseridas na Palavra
revelada?
Quem
ama gosta de agradar a pessoa amada! Por que então em minhas escassas e breves
orações, muitas vezes superficiais, muito raramente Te agradeço, nem mesmo dou
um bom dia Espírito Santo, ou um gesto de admiração por ocasião de alguma
manifestação da Tua Glória, assim como os pássaros comemoram o romper da
aurora?
Quem
ama gosta de conversar com a pessoa amada! Por que só Te busco mais para pedir
alguma coisa, e, com mais intensidade quando a dor dá as caras, e, ainda assim,
mal espero para escutar Tua voz?
Preciso
então rever minhas ocupações diárias, normalmente cheia de coisas para fazer,
pessoas para encontrar, telefonemas para dar, receber e enviar mensagens pelo
whatsapp, gmail, face, etc, assistir aos noticiários, e ler os periódicos...
Além
das ocupações tem ainda as preocupações, e que implicam em encher o tempo e o
espaço antes de chegar lá.
Nesse
ínterim vou deixando passar as oportunidades de desfrutar da companhia do
Espirito Santo que Tu enviastes para nos levar à plena verdade da vida divina.
Verdade não significa uma idéia, conceito, ou doutrina, mas antes o verdadeiro
relacionamento. Ser levado a participar da verdade é ser levado a participar do
mesmo relacionamento que Tu tens com o Pai; é entrar no reinado divino. Preciso
urgentemente me desvencilhar das garras das ocupações e preocupações
vãs, e deixar que o Espírito me guie para a verdadeira liberdade dos filhos de
Deus.
Aqui
trago a memória textos de quem experienciou melhor estas questões, em textos
como “Espaço para Deus” (Henri Nouwen); “Praticando a “Presença de Deus” (Irmão
Lawrence); “Ouvindo Deus” (Dallas Willard), “Celebração da Disciplina” (Richard
Foster).
Registro
do nascimento de Jesus numa humilde hospedaria – “Naqueles dias, César Augusto publicou um decreto ordenando o
recenseamento de todo o império romano. 2 Este foi o primeiro
recenseamento feito quando Quirino era governador da Síria. 3 E
todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se. 4 Assim,
José também foi da cidade de Nazaré da Galileia para a Judeia, para Belém,
cidade de Davi, porque pertencia à casa e à linhagem de Davi. 5 Ele
foi a fim de alistar-se, com Maria, que lhe estava prometida em casamento e
esperava um filho. 6 Enquanto estavam lá, chegou o tempo de
nascer o bebê, 7 e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o
em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na
hospedaria.” (Lucas 2:7).
Aqui
um segundo registro, e, respectiva questão: no dia a dia, que espaço damos para
Deus? E, eis então minha segunda confissão: “Assim
como não havia lugar para Ti na hospedaria de Belém, sabe-se com que frequência
é possível que não haja lugar para Ti em meio aos nossos afazeres diários, na
intimidade da familia, dos amigos, e, por extensão, na sociedade em que
vivemos. E, ocorre-me um pensamento assustador! E, e se fosse meu coração a
hospedaria em que não há lugar para Ti?
“Amo-te, Senhor, no entanto, ou pelo menos parece-me que
sim. Não com um coração ardente... mas com um coração simples, cheio de
fraquezas e de boa vontade... mais sujeito ao mal do que o desejaria; e que
sempre volta a Ti, depois de tê-lo praticado, para retomar um caminho
constantemente interrompido...
Não é muito glorioso, bem sei, Senhor. Mas sei também que és
bom... e que me amas como sou, com minhas fraquezas.
Digo-Te isto tudo simplesmente, como sinto, como creio...
Então, por que não alcanço a paz, ao dizer-te tudo isso? Será
que, até para comigo mesmo, eu não seja sincero?
Não é possível, Senhor, que falte para Ti, às vezes, lugar na
minha hospedaria.
Há lugar para tantas coisas no meu imenso coração: Entra, pois,
ó Peregrino! Vamos apertar, um pouco. E Tu te acomodarás...
Entraste. Estás sentado... no meio destes hóspedes barulhentos.
Algumas vezes, coloco-Te à cabeceira... no lugar que Te compete. Mas,
frequentemente, deixo-Te em segundo plano.
Que estejas presente, é o bastante. És tão pouco exigente!
E falas tão pouco! (dizem os teus íntimos que preferes que Te
adivinhem ... e que Tuas palavras são, quase sempre, murmuradas...). Falas
pouco. Mas olhas muito. Tu me olhas.
Sinto, às vezes, pousar sobre mim – pesar sobre mim, deveria eu
dizer – este olhar silencioso. E quando desvio a vista, é então que mais pesa o
teu olhar.
O que me constrange, Senhor, é que, frequentemente, não sei como
interpretá-lo: satisfação, mágoa, recriminação, espanto...
Compreendes que não sendo um monge recluso a viver no mundo, é
preciso que receba uma multidão de hóspedes: pensamentos, desejos, negócios,
paixões, distrações, leituras, deveres, afeições.. Não me parece
muito fácil por isto tudo em ordem...
E Tua presença nem sempre facilita as coisas. Vou dizer-Te
francamente: às vezes atrapalhas um pouco... Atrapalhas, com este silêncio de
um amor que, sinto-o bem, não encontra em mim sua medida.
Eu preferiria que reclamasses ... Poderia discutir. Mas és um
amigo que se cala, satisfeito com tudo, senão satisfeito, pelo menos
contentando-se com o que Te dão...
Ainda, se não me amasses tanto, Senhor! Mas um amor assim como o
Teu, que aceita em silencio as migalhas que Te ofereço ... quando tem direito a
tudo!
E que me diz o Teu olhar? “Eis que estou à tua porta e bato. Se
alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e comerei com
ele e ele comigo”.
Está claro, portanto, Senhor, que não forças a entrada. Bates e
esperas...
Se eu abrir, deverei fazê-lo de par em par... e se Te fizer
sinal para que entres, deverei conduzir-Te ao Teu lugar.
Teu lugar não suprime o dos outros. Só me pedes que renuncie ao
mal. E para mim queres, antes de tudo, que eu viva, e viva de forma abundante.
Mas a vida exige sacrifícios. Quando sinto doente o meu corpo,
declaro guerra a tudo que o infecta e que ameaça matá-lo. Não mereceria minha
alma os mesmos cuidados?
Viver, porém, é mais de que a não aceitação da morte. A anemia
não é a morte. Mas também não é a saúde. Não é a morte, mas já é a garra da
morte sobre mim.
Há micróbios que trazem a anemia. Não matam, conduzem à morte.
Posso discriminá-los: apego exagerado às minhas idéias, aos meus bens, à
amizade... pequenas concessões ante o dever... maleabilidades oblíquas diante
da verdade... satisfações dúbias do coração... pequenas covardias na luta
cotidiana.. como conheço esses falsos amigos!
Como poderias viver em mim, com essas mil presenças que
lentamente extinguem a minha seiva – tal lagartas nas raízes das grandes
árvores - e que fazem de mim, aos poucos, homem de meias medidas, de
meios deveres, de meia generosidade. A vida em câmara lenta. A lenta infecção.
A anemia.
Como sei me amesquinhar ! E como poderias ficar satisfeito. Tu
que me queres ver libertado das mesquinharias e elevado a Tua altura!
Eis aí o que me sobrecarrega a alma e a torna semelhante ao
albergue de Belém, aberto a todos e que se fechou para Ti.
Por que Senhor, mereceria uma amizade como a Tua menos
consideração do que nossas pobres amizades humanas!
Sei que Tu amas as almas desimpedidas, em que somente o que é
verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama encontra
lugar; que minha alma seja para Ti uma hospedaria assim!”
E, que um dia, quando cessar este meu jornadear, possa receber
de Ti a exclamação jubilosa: Eu sei que Tu me amas, entra no gozo e na posse do
meu Reino eterno, na companhia de todos os santos!.
Extraído e adaptado de “A
procura do Senhor”, de Ludovic Giraud.