sábado, 1 de outubro de 2011

“JUST DO IT”


Um refrão usado em camisetas atualmente na moda, a expressão, que quer dizer simplesmente “apenas faça”, e enfatiza a necessidade de ação já; é uma crítica bem humorada à saturação de conhecimentos que nos mantém apáticos, meros espectadores da vida que passa. Em nossa experiência de vida há mesmo um grande abismo entre aquilo que pensamos, e aquilo que vivenciamos, para não dizer daquilo que conseguimos realizar. Dando um balanço rápido, facilmente constatamos que desperdiçamos a maior parte do tempo, seguindo a onda, isto é, quando estamos apenas sendo levados. Fazemos muitas coisas que não acrescentam nada, nem mesmo alegria do momento, e desta forma desperdiçamos tempo e oportunidades de fazer coisas mais interessantes e que gratifiquem.Da linguagem do dia a dia, selecionei duas expressões consagradas e que se contrapõem, conforme cantadas por dois compositores populares contemporâneos: de um lado os versos “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, e do outro “deixa a vida me levar, vida leva eu”. São duas expressões que gostamos de repetir, quando a ocasião aparece, e que revelam estados de espírito, diametralmente opostos, que podemos classificar de ativismo e imobilismo. Como sói acontecer, a sabedoria está em alguma zona intermediária entre estes extremos; alinho a seguir algumas pistas que nos facilitem encontrar o caminho para esta zona de equilíbrio.

A IMPORTÂNCIA DO FAZER. Alguns sábios nos deixaram lições preciosas sobre o assunto; dentre estes destacamos os seguintes registros: SÓCRATES(469-399 aC, nascido em Atenas, tradicionalmente considerado um marco divisório da história da filosofia grega) - “desenvolvia o saber filosófico em praças públicas, conversando com os jovens, sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral”. KIERKEGAARD (1813-1855, filósofo de referência e teólogo dinamarquês, e um dos pais da corrente de pensamento existencialista). Inspirado por Sócrates, grande parte da sua obra versa sobre as questões de como cada pessoa deve viver, focando sobre a prioridade da realidade humana concreta em relação ao pensamento abstrato, dando ênfase à importância da escolha e compromisso pessoal. Para ele, o pensamento não tem sentido sem a ação: “O que realmente preciso é esclarecer para mim mesmo o que devo fazer, e não aquilo que devo saber, a não ser na medida em que o conhecimento precede toda ação...o fundamental é encontra a verdade que é verdade para mim, encontrar a idéia pela qual vou viver e morrer... é disso que preciso para poder levar uma vida plenamente humana e não apenas uma vida de conhecimento... é disso que preciso e é isso que busco”. NO JUDAÍSMO – “um judeu é antes convidado a agir - passar do pensamento à ação – em vez de ser convidado a pensar. Ele é estimulado a ultrapassar suas necessidades, a fazer mais do que ele compreende, para poder compreender mais do que ele faz. É nas ações que o homem toma consciência sobre o que sua vida é verdadeiramente, sobre seu poder de fazer mal, ferir e ofender, destruir e arruinar; sobre sua capacidade de criar alegria e derramá-la sobre as outras pessoas; sobre aliviar e aumentar suas tensões e as tensões alheias. É quando usa a sua vontade, e não a reflexão, que ele encontra seu próprio ser, como ele é; não como gostaria que fosse".

O CAMINHO DA AÇÃO PARA A CRENÇA. KIERKEGAARD - "o Evangelho não se resume a uma série de idéias descritas por teólogos: é um evento. Só o conhecemos verdadeiramente quando participamos ativamente desse evento – como participantes de fato e não apenas como espectadores. Ele queria se referir às conseqüências que são produzidas exclusivamente por um encontro pessoal com Jesus Cristo, e a resposta do homem a esse encontro. Cristo não estabeleceu doutrinas... ele agiu". Kierkegaard protestava contra o fato de estar sendo saturado com conhecimento factual sobre o cristianismo. Em sua cultura dinamarquesa, muitos estavam sendo inundados com tanta informação religiosa que se mantinham inconscientes da superficialidade de sua vida. Ele quer nos mostrar que precisamos desenvolver a capacidade de viver a verdade, o que requer uma comunicação mais profunda no contexto da vida ... A fé, a esperança e o amor não passarão de conceitos, a menos que se reconheça a possibilidade e a própria existência da capacidade de confiar ,esperar e compartilhar o amor. LIÇÕES DO JUDAISMO – jamais aprenderemos a compreender Deus a não ser que aprendamos a louvá-lo, a não ser que saibamos como amá-lo; assim como seria inútil por exemplo, investigar o sentido da música e não ouvir música. O conhecimento de Deus é o conhecimento de viver com Deus. O verdadeiro sentido da vida é revelado nos momentos que vivemos na presença de Deus.
A SANTIFICAÇÃO DO FAZER. TEILHARD DE CHARDIN em “O Meio Divino”: "Nada é mais certo, dogmaticamente, do que a santificação possível da ação humana. “Tudo o que fizerdes, diz S. Paulo, fazei-o em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.” Trata-se realmente da vida humana toda, mesmo nas zonas chamadas “naturais”. Toda a vida humana é declarada pela Igreja santificável. “Quer comais, quer bebais...” diz novamente S. Paulo. Uma solução incompleta: a ação humana vale, e só vale pela intenção com que é feita. A divinização do nosso esforço pelo valor da intenção que nele se põe infunde uma alma preciosa a todas as nossas ações; mas não dá ao corpo a esperança de uma ressurreição. Ora, é esta esperança que nos é necessária, para a nossa alegria ser completa. A solução definitiva: todo o esforço coopera no acabamento do mundo “in Christo Jesu”. No seio do nosso Universo, toda a alma é para Deus, em Nosso Senhor. Mas, por outra parte, toda a realidade, mesmo material, à volta de cada um de nós, é para a nossa alma".

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