Uma
realidade na vida das crianças, parece ser, que “cada instante é um novo momento”, sempre vislumbrando oportunidades
para se alegrar, mormente na companhia de outras crianças. Infelizmente, com a
idade, e o aumento de conhecimento e da experiência – que não se confunde com
aumento da sabedoria – a verdade pode ser
bem outra: “mais um dia, e, tudo continua
o mesmo”. Nestas condições seria mesmo inimaginável, e indesejável que isto
não tivesse um fim algum dia!...
Numa
vida como tal, repetitiva, sem sabor, o que chamamos de rotina, seja de
trabalho, seja de vida ociosa, poderíamos encontrar uma evidência de “um dia
comum”. Aqui cabe a pergunta: afinal, por que mudaríamos, aparentemente para
pior? Talvez pela cosmovisão individualista e materialista da vida, onde o único
valor é o lugar comum do interesse objetivante, dito racional.
É
aí, neste contexto, que aparecem então os dias comuns, sem brilho, tudo no compasso
da rotina. Possivelmente isto explique, também, a identificação dos avós com os
netos, com quem relembramos os tempos de criança, sem dias comuns. Na realidade,
um dia comum não deveria existir, bastando abrir o olhos e ver que é a miopia
de nosso egocentrismo que nos faz enxergá-lo
como tal. E, assim como o avô, que é contagiado pelo dia incomum do neto, o que
lhe permite sonhar junto os sonhos de toda criança, assim também seríamos
envolvidos pelo dia incomum do próximo, e, que uma vez compartilhado, é uma
garantia contra a monotonia da rotina.
Sonho que o poeta
aproveitou para fazer uma denúncia grave:
“O sonho de toda criança é ter a certeza
Que o lixo e a rua não é o seu lugar.
O sonho de toda criança é ver uma mão estendida
Dizendo pra casa nós vamos, nós vamos voltar.”
(Trecho da música “O Sonho de Toda Criança, da Comunidade de
Nilópolis)
Propiciar um dia
incomum para o próximo podemos vislumbrar, na parábola de Jesus sobre “O
Semeador”, que teve a seguinte paródia: “Certa
criança caminhava pela estrada pedregosa que leva da infância à idade adulta,
quando caiu nas mãos de exploradores. Estes tiraram dele a inocência e o
induziram ao vício, deixando-o inseguro e insatisfeito. Casualmente, encontrou-o um ministro religioso que afirmou não ter tempo de conversar, pois
seus compromissos na Igreja estavam muito apertados. Igualmente um burocrata do
serviço público, que, vendo-o, alegou não poder atendê-lo, pois estava fora do
expediente de trabalho. Certo negociante, porém, um estrangeiro, viu-o com
olhar inquieto e tristonho. Teve pena da criança e procurou acercar-se dela.
Conversou com o menino, deu-lhe uma boa literatura, e, pondo-o no seu carro,
convidou-o para ir até um albergue para recuperação de viciados. No dia
seguinte, disse ao encarregado: preciso voltar às minhas tarefas; deixo aqui
recursos para o custeio desse tratamento, por algum tempo. Peço que o menino
seja orientado e cuidado. Voltarei para acertar contas e conversar com ele.”E
a pergunta que não quer calar: “Quem
dentre todos , te parece que se fez próximo do menino desorientado?. Quem
lhe fez vivenciar um dia incomum? (adaptação de Julio Andrade Ferreira, com
pequenas modificações).