Alguém
já disse, que muitas pessoas, em boa
parte do tempo, quando falam, estão apenas jogando palavras ao vento, sem nenhuma conseqüência, falando por falar, mas,
na realidade, nada comunicando. Modernamente, com a participação da televisão,
podemos acrescentar que estariam, apenas, repetindo chavões da mídia. O poder
das palavras é, não obstante, destacado, quando se compara a língua com um leme, capaz de dirigir um grande
transatlântico, ou, com uma tocha de fogo capaz de incendiar uma floresta,
assim como o autor bíblico: “... nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos
obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo.Vede também as naus que, sendo
tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme
para onde quer a vontade daquele que as governa... Vede quão grande bosque um
pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo; ... “.
Aqui chamo de palavras grávidas aquelas que, juntamente com a expressão verbal,
carregam subjacentes, pensamentos, sentimentos e emoções intencionadas, as
quais, num espectro negativo são capazes
de contaminar quem as pronuncia (“o
que contamina o homem é o que sai da sua boca”), ou, por outro lado, positivamente,
edificar aquele a quem é dirigida.
Exemplos da primeira são a calúnia, as agressões verbais, que uma vez vocalizadas,
são espalhadas pelo vento da discórdia, tornando praticamente impossível voltar-se
atrás; e, da segunda uma palavra de estímulo, o elogio sincero. No dia-a-dia,
todos já provamos o veneno de uma crítica injusta, na hora e no
lugar errados, e, por outro lado, o
bálsamo de uma palavra amiga, na hora e no lugar certos.
A dignidade das palavras é
assinalada por Joshua Heschel (um de meus autores preferidos): “As palavras são mais que sinais,
mais que combinação de letras. As letras são unidimensionais e só têm uma
função: representar os sons. As palavras, pelo contrário, têm plenitude e
profundidade, são multidimensionais. É verdade que usamos as palavras para
representar as coisas ou como veículos de nosso pensamento e idéias, para nos
comunicar com os outros...Distingamos entre substância e função, entre a
natureza essencial de uma palavra e sua função, o modo de como nós a usarmos ...”.E destaca o uso das palavras na oração: “o
caráter do ato da oração depende da relação recíproca entre a pessoa e a
palavra. Não basta, por isso, articular uma palavra. A não ser que uma pessoa
entenda que a palavra é mais forte que a vontade, a não ser que saibamos
abordar a palavra com toda a alegria, toda a esperança e toda a tristeza que
ela possui, dificilmente haverá oração. As palavras não devem cair de nossos
lábios como folhas mortas de outono. Elas devem elevar-se como aves do nosso
coração para o espaço infinito da eternidade. Quando o coração, cooperando com
as forças da fé contra o tumulto e a ansiedade e o barulho exterior, consegue
manter viva a tranqüilidade e a solidão interior, sentimos como as palavras
podem ser grandes.”
Uma bela comparação para a importância das palavras, encontro na imagem de um edificador
de pontes; pontes pela qual transitamos
ao nos comunicar. Por esta ponte das
palavras, circulam além de pensamentos, as cargas das emoções e dos desejos
associados. Ao compartilhá-la, o sábio pontifica: “Tomo alguém pela mão e conduzo até a janela. Abro-a e
aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um dialogo” (Martim
Buber). Algumas palavras grávidas, depois, passam a fazer parte do acervo comum da
humanidade, tal como no discurso de Luther King: “Eu
tenho um sonho!”.
Finalmente,
gostaria de também ser reconhecido, como prestador de serviço dentre os edificadores de pontes, da amizade, da paz ( “felizes os pacificadores, porque assim,
serão chamados filhos de Deus”).
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