Simplicidade
é uma marca registrada da infância, da inocência, da integridade , quando ainda não se tem pensamentos divididos,
e, o que se diz, normalmente, é o que
se pensa, o que se intenciona é autoevidente, sem dubiedades, segundas intenções,
ou mesmo hipocrisia. Esta simplicidade
foi destacada por Jesus, quando em meio a um auditório amplo, com diversos
representantes da sociedade a seu tempo, inclusive muitos sábios, autoridades
religiosas, e homens do povo, Ele toma uma criança nos braços para ilustrar a
natureza dos habitantes do Reino de Deus,
que veio anunciar. Nosso processo de
crescimento não obstante, comumente implica a perda de boa parte destas
características, que ficam na memória como um horizonte perdido.
A
FALTA QUE A SIMPLICIDADE FAZ. A
simplicidade traz alegria e equilíbrio. A sua falta, traduz-se na duplicidade,
que traz ansiedade e medo. “Internamente o homem
moderno está fraturado e fragmentado. Encontra-se perdido num labirinto de realizações
competidoras. Num momento ele toma decisões com base na razão, e no momento
seguinte o faz por medo do que outros venham a pensar dele. Ele não tem unidade
ou foco em torno do qual a vida se oriente. Estamos
tentando ser vários “eus” ao mesmo tempo, sem que todos estes “eus” estejam
organizados por uma única e dominante vida dentro de nós. Cada um de nós tende
a ser, não um simples eu, mas todo um comitê de eus: o eu familia, o eu
provedor financeiro, o eu religioso, o eu social, o eu literário, ... E cada um
de nossos eus é, por sua vez, um extremado individualista, que grita a plenos
pulmões em beneficio próprio, quando chega o tempo da votação. E estamos infelizes, inquietos,
estressados, oprimidos e com medo de sermos superficiais, pois, às margens da
vida, chega um sussurro, um chamado enfraquecido, uma premonição de um viver
mais rico pelo qual sabemos que estamos passando à margem. Estressados pelo
ritmo alucinante de nossos fardos diários externos, estamos também estressados
por uma inquietação interior, porque temos pistas de que há um modo de vida
muito mais rico e profundo que toda essa existência apressada, uma vida de
serenidade, de paz e de poder sem pressa.”
EM BUSCA DA
SIMPLICIDADE. O significado da simplicidade na vida atual:
Em nosso relacionamento
com as coisas, o desapego. “Alguns princípios que consubstanciam a simplicidade: Desacumule -
quantidades de coisas que não são necessárias complicam a vida. Recuse ser
dominado pela propaganda mercantilista - ansiamos possuir coisas de que não
necessitamos nem desfrutamos, e, compramos coisas que realmente não desejamos,
para impressionar pessoas e das quais até não gostamos. Recuse tudo quanto gere
a opressão de outros (p. ex. produtos de trabalho escravo). Aprenda a desfrutar
das coisas sem possuí-la. Crie o hábito de dar coisas. Temos então como beneficio da simplicidade: Se recebemos o que
temos como um dom, se o que temos recebe o cuidado de Deus, e, se o que temos
está disponível aos outros, então seremos livres de ansiedade”. Conselho
de John Wesley para se livrar da ganância: “fazer
todo o bem possível, usando de todos os meios possíveis, de todas as maneiras
possíveis, em todos os lugares possíveis, em todo o tempo possível, a todas as
pessoas possíveis, enquanto for possível.”
Em nosso relacionamento
com as pessoas, a linguagem clara e honesta. Devemos seguir
as instruções de Jesus: “Seja porém a tua
palavra: sim, sim; não, não”. Esta atitude de simplicidade, natural na
infância, foi se perdendo, ao longo dos anos, como um custo para se obter sucesso
na vida. Nesse ínterim nossa linguagem tornou-se dúbia, para adaptar-se ao vão desejo
de controlar a realidade, na intenção de assegurar o sucesso.
A simplicidade começa
no foco e na unidade interior. A vida deve ser vivida
a partir de um centro. Só
existem dois centros absolutos possíveis: eu ou Deus; e eles são mutuamente
exclusivos. Quando a vida com Deus é o centro da existência, tudo o mais é remodelado
e integrado por ela. “Ela dá a simplicidade dos olhos. Nosso verdadeiro problema na falha em nos
centralizarmos, não é falta de tempo, é antes, falta de prazer alegre e
entusiasmado na Sua presença. A partir desse centro santo vem as comissões da vida. Nossa comunhão com Deus também se
manifesta em nosso interesse pelo mundo. Ela nos faz ver as necessidades do
mundo de um modo novo”. É pelo fato de não colocarmos Deus como centro
absoluto, em torno do qual deve girar nossas vidas que nossa necessidade de
segurança nos tem induzido a um apego insano às coisas, assim como ao dinheiro,
coisas que passam, então, a desempenhar o papel de deuses (falsos), e, que consubstanciam
formas de idolatria na atualidade. Além disso, quando o “eu” é o centro
absoluto, as faculdades da alma – mente, afetividade, vontade – costumam ficar
divididas, cada uma puxando numa direção, fomentando a duplicidade, que traz
ansiedade e medo. A centralização em Deus, entretanto, mantém todas as faculdades
da alma polarizadas numa só direção, semelhante a um estado de enamoramento, que é o distintivo da
simplicidade. Talvez aí resida o segredo buscado para reencantar a vida,
redescobrir o horizonte perdido.
“A simplicidade é o último degrau da sabedoria”.
Khalil Gibran
“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa
consciência, de que com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria
carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo, e de modo particular
convosco”. Apostolo Paulo
Fontes: Um testamento de devoção, Thomas Kelly
Celebração da disciplina, Richard Foster
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