Como relacionar
a busca de Deus com a busca da felicidade e do prazer? Comumente, achamos que a
busca de Deus opõe-se, ou no mínimo, não implica na busca do prazer. A busca de
Deus é associada com a prática de atos piedosos, nem sempre vistos como
prazerosos, pelo menos para quem não os pratica. Ao contrário, o prazer é quase
sempre identificado com a diversão, a conquista de poder e de prosperidade -
medida pelo acúmulo de bens materiais - a realização de um bom casamento e ter
uma família saudável, etc. E, assim na maior parte do tempo passamos a vida
correndo atrás do prazer, e, alguns, com o coração dividido com a busca simultânea de Deus, não raro,
reduzida a uma expressão distorcida de religião que assegure uma vida melhor
mas, futura. É possível mesmo observar-se o semblante mais carregado de alguns
religiosos, curvados, quem sabe, sob o peso da cruz que têm de carregar, e, que
se traduz, muitas vezes, pela renúncia dos prazeres deste mundo então
corrompido.
De forma aproximada podemos
identificar três atitudes paradigmáticas em relação ao assunto: os pessimistas
(ou acomodados) para quem a existência é um erro, e que não vale a pena mesmo buscar
corrigir seu curso natural; os que buscam desesperadamente obter o maior prazer
possível das circunstâncias, e que ensejou o hedonismo (uma teoria ou doutrina filosófico-moral
que afirma ser o prazer, o supremo bem da vida humana, e, que no Iluminismo passa a designar uma
atitude de vida voltada para a busca egoísta de prazeres momentâneos); e, os
santos que descobriram um prazer imenso na busca de Deus.
Citações de como
alguns eruditos pensaram sobre essa questão nos permitem ir além do senso
comum:
Blaise
Pascal (1623— 1662) foi um físico, matemático, filósofo moralista e
teólogo francês. Pascal escreveu:
Todas as pessoas buscam a felicidade. Não há exceção para isso. Sejam quais forem os meios
diferentes que empreguem, todos objetivam esse alvo. A vontade nunca dará o
último passo em outra direção. Esse é o motivo de cada ação de todo ser humano.
O homem já teve a verdadeira
felicidade, da qual agora resta nele apenas o sinal e o espaço vazio, que ele
tenta em vão preencher com as coisas ao seu redor, procurando em coisas
ausentes a ajuda que não obtém nas coisas presentes. Essas, porém, são todas
incapazes, porque o abismo infinito pode ser preenchido somente por um objeto
infinito e imutável, ou seja, apenas pelo próprio Deus.
C.S.
Lewis ( 1898 — 1963), foi um professor universitário, teólogo, poeta e escritor britânico, nascido na Irlanda. Destacou-se pelo seu trabalho acadêmico sobre literatura medieval e
pela apologética cristã que desenvolveu através
de várias obras e palestras. É igualmente conhecido por ser o autor da famosa
série “As Crônicas de Nárnia. “No que lhe dizia
respeito, buscar a própria felicidade
não era pecado; é um traço comum da natureza humana. É uma lei do coração
humano, assim como a gravidade é uma lei da natureza. Se hoje a noção de que é
errado desejar a nossa felicidade e esperar ansiosamente gozá-la esconde-se na
maioria das mentes, afirmo que ela surgiu em Kant ou nos estóicos, mas não na
fé cristã. Na realidade, se considerarmos as
promessas pouco modestas de galardão e a espantosa natureza da recompensas
prometidas nos Evangelhos, diríamos que nosso Senhor considera nossos desejos
não demasiadamente grandes, mas demasiadamente pequenos. Somos criaturas
divididas, correndo atrás de álcool, sexo e ambições, desprezando a alegria
infinita que se nos oferece... Contentamo-nos com muito pouco”.
John
Piper (1946)
que é na atualidade, um dos mais influentes pregadores batistas calvinistas e
autores do século XXI. Em seu livro “Teologia da Alegria”, republicado
com o titulo “Em busca de Deus”, descreve a busca do maior prazer possível, que
é “o prazer
cristão, uma filosofia de vida baseada nas cinco convicções seguintes:
- o anseio por ser feliz é uma
experiência humana universal, e é algo bom, não pecaminoso;
- jamais devemos tentar negar ou
resistir ao nosso anseio por ser felizes, como se isso fosse um impulso mau.
Pelo contrário, devemos tentar intensificar esse anseio e alimentá-lo com tudo
que proveja a satisfação mais profunda e permanente;
- a felicidade mais profunda e
permanente encontra-se apenas em Deus. Não com origem em Deus, mas em Deus;
- a felicidade que encontramos em Deus
atinge sua consumação quando compartilhada com outros nos multiformes caminhos
do amor;
- na mesma medida em que tentamos
abandonar a busca do prazer próprio, deixamos de honrar a Deus e de amar as
pessoas. Ou, para usar termos afirmativos: a busca do prazer é parte necessária
de toda adoração e virtude.
Ou seja, o fim supremo e principal do
homem é glorificar a Deus ao gozá-lo plena e eternamente.”
E completo com o pensamento do eminente rabino Joshua Heschel ( 1907-1972) que descreve o fim desta busca de
Deus, nos seguintes termos superlativos: “a percepção da grandiosidade”,
“o sentido do inefável”, “o deslumbramento”, “o sentido do mistério”, “o temor
reverencial”, “a reverência e a adoração”, “a intuição, a fé, o acontecimento”.
Creio ser este um bom termômetro da verdadeira busca de Deus, e que se
traduz também na maior felicidade, e no mais pleno prazer.
Fonte:
“Em busca de Deus”, de John Piper
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