sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

STATUS DE AVÔ APOSENTADO


Comentando com um amigo sobre as alegrias de ser avô, ao concordar, o mesmo acrescentou que, também se soubesse antes, que era tão bom, pularia a fase de pai – com sua ênfase na responsabilidade e os contratempos da aborrecência juvenil, para não falar da aridez adulta – indo direto para a fase de avô.

Além das belezas da inocência e da espontaneidade, nos encanta a veracidade e a alegria natural e frequente das crianças, vivenciando cada instante numa comemoração sem fim, que recebe com um sorriso, e transforma quase tudo, como se fosse um presente, bem diferente da fase subsequente, quando nos tornamos hábeis calculistas, afinal “é dando que se recebe”.
Ser avô é uma benção e pode ser sinal de uma vida plena, e, quando associado com a aposentadoria daquilo que se convencionou chamar de “vida produtiva”, transcorrida frequentemente sob a opressão do sacrifício estressante de ser competitivo a toda hora e em todo lugar, enseja um estado de espírito feliz e prazeroso. Em substituição aos cargos e chefias, muito disputados, fui promovido para um plano de cargos mais tranquilo: agora estou na faixa de avô.
Parafraseando o autor de inspirado texto sobre “Tempo e Jabuticabas” já não tenho tempo para lidar com pessoas muito ocupadas, impacientes, e que se julgam muito importantes, e eventualmente arrogantes fantoches de autoridades, nem para participar de reuniões inócuas e/ou ter que ouvir discursos enfadonhos e repetitivos, nem tampouco alugar meu ouvido em ambientes onde na maioria do tempo, a maioria das pessoas, conversam sem comunicar nada, antes papagueiam chavões repetidos à exaustão pela mídia. O autor desconhecido conclui afirmando: “Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.O essencial faz a vida valer a pena”. Assino embaixo.
Quero antes reaprender, com os netos, a estar onde estou, presente em cada momento, em cada situação, inteiro, com todo meu coração.
Finalmente passei a ocupar-me também com coisas simples, como cultivar um bonsai, manter em operação um mini-catavento, e colecionar outras inutilidades artesanais, que, por sinal, os netos adoram. Estamos assim em sintonia, ou para ser mais atual, ligados, no gosto e nas atividades.