terça-feira, 19 de maio de 2015

GENEROSIDADE E SOSSEGO



A alma desassossegada é fruto da incerteza e da incredulidade; vê sempre a frente o perigo, sente-se permanentemente ameaçada; desconfia que o pior está por acontecer, custa a acreditar que o estado de coisas vai melhorar. Seu desassossego inquieta a todos em redor, carregando o ambiente de ansiedade e medo. Que remédio há para este cenário? É possível reverter o quadro?”.
São muitos, e, diuturnos, os contextos que podem ensejar inquietação na alma: a chegada e permanência de situações adversas; o medo do que pode vir a acontecer; a raiva pelo ocorrido – “isto não poderia ter acontecido, não devia acontecer!” - todos agravados pela sua recorrência estressante na tela da consciência; e, eventualmente, a busca infrutífera por culpados, que pode tornar-se opressiva. Levados aos extremos podem, eventualmente gerar opressão e dor.
Na gênese deste desassossego, estão as perdas, acumuladas ao longo dos embates da vida, e que funcionam como águas estagnadas e poluídas, focos de mosquitos carregados com o vírus do desassossego e da intranquilidade
A doação é o oposto da perda. Na perda há tristeza, diretamente proporcional ao apego. Na doação há alegria pela oferta voluntária e prazerosa, para todos os lados. Perda é privação compulsória, de algo que, assim julgamos, nos é tirado indevidamente; na doação há gratidão, uma comemoração. A lógica da doação, está contida nas palavras de São Francisco de Assis, “pois é dando que se recebe”.Altruísmo, e solidariedade correm desta mesma fonte.
Ao lado das ameaças das perdas, estão também as oportunidades da generosidade; ambas fundamentam-se na riqueza de nossa interdependência intrínseca. “O mundo é assim. Ele não faz exceções a nenhum de nós. Somos entregues às nossa famílias, aos nossos semelhantes, aos nossos amigos, aos nossos inimigos – às nações. É assim que a criação funciona. Alguns de nós tentamos, desesperadamente, nos agarrar a nós mesmos, viver por nós mesmos. Ficamos tão denegridos e patéticos agindo assim pendurados à agência morta de uma conta bancária em busca de vida, temerosos de nos arriscar sobre as asas não experimentadas da doação. Não pensamos poder viver, generosamente, porque nunca tentamos.”(Eugene Peterson ).
A generosidade é a qualidade daquele que demonstra largueza de espírito em ajudar, em cooperar, em socorrer, sempre está à busca de uma causa onde possa expressar seu coração profundamente doador. O generoso está atento às necessidades e pronto a ser colaborador da primeira hora. Generosidade, necessariamente, passa pela ideia de oferecer algo, de abrir mão de alguma coisa, de efetivamente promover uma dádiva. O espírito de avareza não consegue admitir a generosidade, pois, sua marca é a retenção, o guardar, o jamais doar qualquer coisa.
Comumente associamos generosidade com um estado de espírito raro, que depende de se estar em paz e sossegado, e, bem assim abonado de recursos, suficientes para poder dispor de um pouco para ajudar outros necessitados. Não obstante a verdadeira fonte da generosidade e do sossego é outra, e, que foi apontada pelo sábio, em Salmos 116 :“Volta, minha alma, ao teu sossego pois o Senhor tem sido generoso para contigo”. O salmista desenha a fisionomia generosa do Senhor, convidando sua alma a voltar à serenidade, a tranquilizar-se, a sossegar. A fonte de toda a generosidade é o próprio Deus. Nossa generosidade não começa em nós, e sim, em Deus. Somos alvos deste atributo divino, e o passamos adiante como expressão de gratidão. A maior prova da generosidade de Deus encontramos na proclamação das boas novas, que são os Evangelhos: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3:16,17).
Se você tem se resignado a pensar que Deus o abandonou, desassossegado,  tal incredulidade pessimista desonra a Deus ou ignora a grandeza dEle. Salmos 116 revela não obstante um Deus que conhece nossa fraqueza e se inclina para nos ajudar, que é compassivo e misericordioso, que nos livra da morte eterna, que enxuga a lágrima de nossa face, que impede o nosso abatimento. Em meio a este reconhecimento do agir divino, nós também fomos conformados para agir com generosidade. Na realidade nossa vida é para os outros.
Aqui retornamos à indagação inicial: “Que remédio há, para a alma desassossegada ? É possível reverter o quadro?” Sim ! podemos assim falar com Deus: “Senhor, meu Deus. Inquieta é minha alma e não encontra paz e sossego. Restitui-me a paz e serenidade, para que segundo Tua promessa, na tranquilidade e  na confiança esteja a minha força, e que nada me pode separar do teu cuidado amoroso, que é a fonte do meu sossego. Que eu, não perca a vontade de ajudar as pessoas, num espírito de generosidade, como expressão de gratidão, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir a ajuda. Amplia minha visão, e dá-me a certeza de que teu amor me envolve, que um propósito maravilhoso que não pode ser derrotado está sendo realizado em minha vida. Amém”.
Fonte: boletim da I Igreja Presbiteriana de Curitiba