terça-feira, 30 de março de 2010

A ADMIRAÇÃO QUE A BELEZA NOS TRAZ


Retornando de uma caminhada matinal pelo belíssimo Parque Barigüi, em Curitiba, certamente um convite à contemplação da beleza do ambiente, com direito à trilha sonora de pássaros, estava pagando meu tributo diário ao corpo, nem sempre reconhecido, em meio a tantas preocupações imaginárias e desnecessárias, que nos ocupam o tempo.
Curtindo esta lassidão de vida de aposentado, lembrei-me de um comentário de N.T. Wright (Simplesmente Cristão), que assim se expressava: “A beleza, quer na ordem natural ou dentro da criação humana, é algo tão forte que evoca nossos mais profundos sentimentos de respeito, admiração, gratidão e reverência. É algo que nos faz sair de dentro de nós mesmos e que mexe com nossos sentimentos mais profundos. Mas, qualquer um que tentar aprisioná-la descobrirá que o elemento fundamental, aquilo que o atrai e provoca sua admiração é exatamente o que se perde quando se tenta agarrá-la. A beleza está ali, mas ao mesmo tempo não está. A beleza é isto – esta canção, este por do sol,... – e não é.”
No contraponto da caminhada rejuvenescedora, observei na saída, a chegada de palestrantes engravatados, se dirigindo para o Salão de Convenções nas instalações do Parque, empostados, carregando suas pastas cheias de conhecimento técnico a repassar, e cujo conteúdo ousaria dizer, nem de longe reúne os requisitos de beleza como referidos. Mesmo assim certamente terão, por força das convenções, uma platéia cativa e atenciosa, em que muitos provavelmente não poderão também apreciar e aprender com a natureza em volta, valores maiores da vida, e que valem a pena serem buscados como a Beleza, o Bem e a Verdade.

terça-feira, 23 de março de 2010

Ser mais pessoa e menos personagem


Escrevendo uma resenha sobre o escritor Paul Tournier intitulado “O poder da relação pessoal”, outro autor, J.K.Miller destaca as alternâncias, normais em nossas vidas, entre o que chama de “relações de um personagem”, e, de “relações de pessoa”. O diferencial é o papel conferido aos segredos que afetam no desenvolvimento da pessoa, desde a mais tenra infância.
Para o autor citado “aprender a administrar segredos – aprender a guardá-los e a revelá-los apenas pela vontade própria - constitui o primeiro momento na formação da pessoa individual...À medida, porém, que vai armazenando segredos, o individuo desenvolve as máscara e fachadas da personagem para esconder os segredos de sua pessoa...A revelação da verdade interior poderia causar embaraço, ou situações ridículas, ou rejeição. A pessoa e a personagem começam a dividir-se”. E finalmente, adverte que “não devemos guardar nossos segredos para sempre”.
Aqui, continuamos refletindo que, talvez, isto explique também nossa rejeição natural por pessoas muito boazinhas (personagens?), e termos mais consideração àqueles tempestivos, ditas de personalidade forte, vide o sucesso dos vilões nas novelas (pessoas mais reais?), com as quais intimamente mais nos identificamos.
Que, nossos netos, ainda na tenra infância, já começam, aparentemente, a desenvolver seus personagens (para surpresa e delícia deste Vô!), a ocultar intenções, a disfarçar atitudes.
Que, na outra ponta estamos nós, adentrando na terceira idade, quando parece que esse processo de alternâncias entre a pessoa e os personagens, que já foi majoritariamente do personagem, começa a ceder terreno para a pessoa. É como se estivéssemos já cansados de representar, e desejosos de se revelar (seria a perspectiva da morte a evidenciar a futilidade dos personagens?).
De uma coisa estamos convencidos: nossa vocação é caminhar sempre para ser cada vez mais 100% pessoas!

quarta-feira, 10 de março de 2010

As artes mais que necessárias da música e da dança


Desde muito cedo reconheci uma habilidade inata para as ciências, com sua ênfase no raciocínio lógico, científico, com destaque para as disciplinas da matemática e da física. Posteriormente tornei-me um autodidata, suficiente para consumo próprio, em Filosofia - em que na realidade fiz algumas matérias avulsas, e tive o privilégio de estudar com dois filosofos vocacionados, Estrela Bohadana e José Sotero, da Faculdade Teológica Bennet - e História. A religião sempre foi uma constante, e presentemente minha frente de atuação. Desejo agora, fechar o ciclo, rompendo a barreira da ignorância, investindo no conhecimento das artes da música e da dança.
Durante muito tempo, a dança se constituiu num tabu, quase um fruto proibido, em razão de algum aspecto cultural ultrapassado, de diferenciação religiosa, pelo menos no ambiente em que vivi. Constatado o equívoco, chega-se à fase adulta de frustração pela falta de ritmo. E com a vinda da terceira idade, a descoberta da beleza destas artes, e a curtição cada dia mais seletiva da música, e dos belos espetáculos de dança, onde pontifica a fabulosa Ana Botafogo.
Na dança tenho ainda a motivação de proporcionar à minha esposa, momentos de maior enlevo, oportunidades quase esquecidas de olhar nos olhos, e exercitar a sensualidade bálsamo para a renovação da vida conjugal. Neste ínterim descobri a professora Ruth Fleury, uma vocacionada e apaixonada pelo ensino da dança de salão (Academia Prepara e Vai, no Rio de Janeiro), com quem passamos, eu e a esposa, a tomar aulas particulares, para então constatar o alto preço a pagar pelo atraso, somente aliviado pela perseverança e paciência da mestra.
E, com atraso, só agora vou descobrindo a necessidade dessas artes. É que “ a música quase que faz parte da alma humana. A cada acontecimento de nossas vidas podemos associar um som, uma cor, um cheiro, uma presença, uma emoção. Poucas coisas, entretanto, podem ser tão memorizadas e revividas quanto as vibrações de uma música. Vivemos esta experiência desde o ventre de nossa mãe, embalados pelos seus batimentos cardíacos. “
E a educadora nestas artes, Maria Fux, complementa : “O movimento, unido ao estímulo musical, permite uma compreensão total da música, o que não acontece quando alguém escuta ou se move sem escutar. A idéia é: não é possível compreender a música sem a experiência da mobilização corporal. Nas aulas de dança se adquire a música através do corpo: pode-se escutar melhor movendo-se.”
A música é uma forma de comunicação plena do homem, envolve por igual, intelecto, sentimentos e vontade, e a dança é uma afirmação de valor do corpo, com o movimento da vida. As artes assim necessárias da música e da dança, juntamente com a técnica - correntemente crítica para quem quer se comunicar - da internet, constituem-se então meus grandes desafios correntes, e só o tempo para superar as barreiras remanescentes do corpo, e que também são limitações da alma.