Buscamos uma vida
prazerosa mas experimentamos, pelo caminho, sensações como de aridez, como num deserto, para a alma.
É quando nossos melhores propósitos parecem inúteis, os relacionamentos parecem
perder qualquer encanto, e, o tempo parece se arrastar. Esta experiência é bem
conhecida por alguns, que noutras circunstâncias são de espírito alegre e
ativo. É como se tivessem gasto todo o combustível capaz de despertar algum entusiasmo.
É quando o outro é visto como competidor, quando não adversário, ou, no mínimo,
um estranho, remanescendo em qualquer caso, a sensação de carência de afinidade.
Foi aqui que se cunhou o termo “queimado”
a fim de descrever-se a condição da pessoa que se tornou mental e
emocionalmente exaurida na luta pelo sucesso em sua profissão. Quando
relacionados com a vida religiosa, estes momentos são conhecidos como esgotamento espiritual.
A experiência é
também avaliada por alguns, como o
caminho para passar da superfície de
uma vida no nível dos sentidos para uma vida
de maior profundidade. Neste contexto
os sentidos são as nossas janelas, onde temos a visão sobre o mundo: pessoas,
coisas, situações. Muitos passam a vida olhando pelas janelas: estamos tão
voltados para fora que freqüentemente estamos sem contato com a dimensão mais
profunda, espiritual do nosso ser. Exatamente a passagem da superfície de uma vida no nível dos sentidos, para uma
vida em maior profundidade, pode ser o
fato gerador destes estados de desconforto. O termo “Noite Escura (da alma)” é
originalmente usado no cristianismo para referir-se à crise espiritual na
jornada rumo à união com Deus, como a que é descrita pelo místico cristão São
João da Cruz. O ponto de partida é marcado pelo desejo das coisas deste mundo,
a que a alma deve renunciar. A renuncia a coloca numa escuridão espessa, e é
por isso que lhe é dado o nome de noite. Por meio da noite dos sentidos Deus
obscurece a parte exterior, e a vida que aí se desenvolvia. Agora já não há
mais interesse em olhar pelas janelas. O que antes dava alegria agora produz
sensação de vazio. Tem-se a impressão de que se perdeu tempo, de que se perdeu
o essencial. Qualquer reflexão não levará a nada. Mesmo fazendo todo esforço,
sente-se apenas aridez. Ocorre que, enquanto, no nível dos sentidos tudo vai
bem, não existe uma procura mais profunda, e você se acomoda. Você pode ganhar
muito tempo, se compreender que a aridez não é mais sinal, e sim convite para
transpor os limiares do campo dos sentimentos em direção a uma vida de maior
profundidade.
E, finalmente, chegam os tempos de
refrigério. Em meio à crise,
súbito, e de maneira singular, flui uma corrente de ocorrências favoráveis,
ensejando regozijo para a alma. Súbito identificamos respostas personalizadas
que só nós discernimos como tal, ensejando inclusive solução para eventuais conflitos
relacionados. Contrapondo-se ao deserto temos agora a imagem das fontes de
águas cristalinas, que dessedentam e que são um refrigério para a alma
esgotada.
“Restaura,
Senhor, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe” foi a
súplica do rei Davi, enquanto passava por uma destas experiências opressoras. O Neguebe não é um rio, mas a denominação de uma
região desértica que fica no Sul da Palestina, uma grande extensão de
terra improdutiva, na maior parte do ano. Durante
a estação das chuvas ocorria algo muito especial com o Neguebe. Com estas
chuvas caindo na Palestina, as águas, gradativamente, vinham escorrendo pelos
montes até atingirem o deserto do Neguebe que ficava na região mais baixa. As
águas abundantes formavam então vários riachos que regavam o deserto, e, em
poucos dias, o lugar que antes era tão feio, solitário e sem vida, ganhava
outro aspecto. Quando o rio desaparece pela evaporação, o deserto se
transforma em um manancial com as mais belas flores e um verde onde somente no
Neguebe se pode encontrar . Os campos tornavam-se lindos, úmidos e floridos,
coberto pelo verde da vegetação que ali era desenvolvida. A vida do lugar era
restaurada. Os animais retornavam e a paisagem do ambiente tornava-se linda. A
oração de Davi, pedindo ao Senhor para restaurar a sua sorte como as torrentes no Neguebe, acontece provavelmente
em um momento em que ele se julga queimado,
mas ele sabia que, tal como o Neguebe,
restaurado pelas águas da Palestina, a sua sorte também seria restaurada pelo
Senhor.
(adaptado
de portais cristãos).
Pastor Miguel Mitre comenta: Muito boa a reflexão. Me fez lembrar duas experiência relatadas na Bíblia que nos remete ao tema. A primeira, do profeta Elias, o qual em meio a um período de grande seca recebe a cuidado de Deus: “"Saia daqui, vá para o leste e esconda-se perto do riacho de Querite, a leste do Jordão. Você beberá do riacho, e dei ordens aos corvos para o alimentarem lá" -1 Reis 17:3-4. Nos conforta saber que mesmo nos momentos de aridez e desânimo Deus está cuidando de nós. A segunda, do rei Davi, que declara: “A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma” - Salmos 19:7. Além do cuidado, Deus nos supre da única substância eficaz para combater doenças ou indisposições da alma.
ResponderExcluirBom é saber que temos o único Deus que nos sustenta e está conosco não importa o momento que passamos. Muito boa reflexão tio!
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