Tudo que é vivo tende a crescer, e a se desenvolver. Isto é o natural, e, no caso do ser humano, motivo de alegria. De uma forma geral, podemos dizer que, crescemos fisicamente até os 25 anos, profissionalmente até os 60 anos, por ocasião da aposentadoria, conquanto nas faculdades da alma - do intelecto, da emoção e da vontade - este crescimento, dito espiritual, possa ocorrer de forma sustentada, e, como tal não ter fim. Um dos fatores deste crescimento sustentado é pela renovação da mente, e a mente é renovada aplicando-se a ela as coisas que a transformarão.
Segundo Richard Foster,
em “Celebração da Disciplina”, “podemos
renovar a mente aplicando a Disciplina do Estudo. “Estudo é um tipo específico
de experiências em que mediante cuidadosa observação de estruturas objetivas,
levamos os processos de pensamento a se moverem numa determinada direção. Por
exemplo, tomemos o estudo de um livro. Nós o vemos e o sentimos, e à medida que
o estudamos, nossos processos de pensamento assumem uma ordem que se conforma à
do livro. Quando feito com concentração, percepção e repetição, formam-se
hábitos arraigados de pensamento. Os arraigados hábitos de pensamento que se
formam, conformar-se-ão à ordem da coisa que está sendo estudada. O que
estudamos determina que tipos de hábitos devem ser formados”. Também o
apostolo Paulo diz que o modo de sermos transformados é mediante a renovação da
mente, e por isso insistia em que nos ocupássemos das coisas que são
verdadeiras, respeitáveis, justas, amáveis e de boa fama.
Duas condições paradigmáticas do crescimento:
·
pró-crescimento – Diligência
·
anti-crescimento - Preguiça.
Diligência, “em ética, encontramos que é a virtude humana de seguir um
objetivo de vida, até chegar ao fim do objetivo. A palavra diligência vem do
verbo latino diligere, que significa
amar; diligens (diligente) significa
aquele que ama. Remédio para a preguiça, a virtude da diligência consiste no
carinho, alegria e prontidão (diferente de pressa) com que pensamos no bem e
nos dispomos a realizá-lo da melhor forma possível”.
Preguiça,
“comumente associada com a lei do menor esforço, o caminho mais fácil, não se
resume na preguiça física, mas também na preguiça de pensar, sentir e agir. A
crença básica da preguiça é “não necessito aprender nada”, levando a um
movimento limitador das idéias e ações no cotidiano e traduzido pelo “deixa
para depois”. A origem da palavra vem do hebraico “atséi”, que pode ser traduzido por lentidão ou indolência.”
Insights sobre o crescimento (do
renomado psiquiatra e escritor M. Scott Peck):
“O processo de
crescimento espiritual é difícil e trabalhoso. O obstáculo maior a essa
evolução espiritual, em última análise é a preguiça. A preguiça é vista como a
tentativa de evitar o esforço e eventual sofrimento inerente ao processo de
crescimento espiritual. A natureza da preguiça, é que ela é a força de entropia
(enquanto decaimento das formas mais organizadas para a mesmice, e o caos) se
manifestando em nossas vidas. A preguiça assume várias formas, e uma dessas
formas é o medo. Grande parte do nosso medo é o temor de uma mudança no status-quo, de perdermos o que temos se
tentarmos ir mais longe.”
“O que torna difícil a
vida é que o processo de enfrentar e resolver problemas é penoso. Segundo sua
natureza, podem causar sentimentos de frustração, pesar, mágoa, tristeza,
solidão, culpa, ira, medo, angustia ou desespero. Mas, é no processo de
enfrentar e resolver problemas que a vida adquire seu valor. São eles a lâmina
cortante que separa o êxito do fracasso; criam a coragem e a sabedoria; através
deles, nos desenvolvemos mental e espiritualmente. Agora bem, o único modo de
resolver um problema é encontrar a
solução. Problemas não examinados plantam-se como barreiras”.
“Com um mapa
ultrapassado. No processo de enfrentar problemas, nossa percepção da realidade
funciona como um mapa. Com um mapa exato e verdadeiro, saberemos onde estamos,
poderemos decidir para onde ir, e geralmente lá chegaremos; com um mapa confuso
e inexato estaremos perdidos. Isto coloca desde logo a questão de que é
necessário e constante a revisão desses mapas para levar em conta novos
aspectos da realidade. A maioria das pessoas, porém, considera excessivo este
esforço... aferram-se a estes referenciais do passado e lutam em todas as
etapas do novo roteiro. Por isso quase sempre lutam contra uma nova informação
ao invés de incorporá-la. Sua resistência é motivada pelo medo, cuja base é a
preguiça; o medo do trabalho que teriam de realizar.
“A força do Amor. A
força que nos impulsiona, como indivíduos e como espécie, a crescer, apesar da
resistência, natural da nossa própria letargia, é o amor. O amor pode ser
definido também como a vontade de se esforçar para nutrir o próprio crescimento
espiritual ou o de outra pessoa. A preguiça ordinária é o não-amor; o não amor
como a recusa de esforçar-se. O mal é o anti-amor.”
Testemunhos: Com
saudades, relembro da mestra Estrella Bohadana, Filosofa, Professora de
Mestrado em Educação e Cultura Contemporânea. Depois de uma militância política
intensa, tornou-se uma filosofa na
acepção da palavra, com uma entrega amorosa pela matéria. Para um grupo de
aprendizes, a quem ministrava ensinamentos informais de Filosofia, do qual eu fazia
parte, confidenciava que, doravante, seguia uma disciplina com dedicação exclusiva e intensiva
no estudo, ensino e compartilhamento da Filosofia, para o que tinha aberto mão mesmo,
de qualquer diversão que pudesse ocupar seu tempo.
Com aplausos de
admiração destaco ainda nossa Primeira bailarina Ana Botafogo, que em entrevista recente, ao
ser indagada sobre o segredo do seu sucesso, pontificava: “determinação, disciplina e muito trabalho. Minha rotina é a mesma de 32
anos atrás. Começo o meu dia com uma primeira aula de 1h30m. Depois sigo com
muitas horas de ensaio.... a vida de bailarina é treinar e ensaiar sempre”.
Concluimos com o
pensamento de que, de uma forma geral, a vida pode ser comparada com uma
corrida de obstáculos, que exige esforços, tendo como prêmios: ter+ (p. ex.
prosperidade); ser+ (consciente, solidário, realizado, feliz,...); conhecer+
(crescimento espiritual). No meio desta corrida são repetitivos os obstáculos a
ultrapassar, e, aos 65 anos de idade, destaco como meus desafios recorrentes,
as barreiras da preguiça e do medo, requerendo maior esforço e atenção na busca
de conhecer mais. E, a reflexão de Scott
Peck de que “na minha luta pessoal pela maturidade, pouco a pouco estou me tornando
mais consciente de novos insights, que tendem a querer fugir de mim.”
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