Que diferença faz cada novo
dia acrescentado à nossa existência? É uma pergunta que
reiteradamente também me faço, mormente agora, tendo chegado aos 66 anos, e, relembrando,
com pesar, quantos parentes e amigos, que já encerraram seu jornadear nesta
vida. Neste sentido, identifico ainda, pelas biografias publicadas, alguns que
fizeram a diferença durante uma existência até muito mais curta. A constatação também,
de algumas vidas vazias e superficiais de quem, não obstante, pode ter feito
algum sucesso efêmero, pelos padrões culturais correntes, mas visto na linha do
tempo, não fizeram mesmo a diferença, positiva. E, os desfechos trágicos
daqueles que sucumbiram ao apelo enganoso do suicídio ao abreviar seu tempo de
vida.
O tempo de vida é o recurso
verdadeiramente escasso, e, que não obstante pode variar de
poucos anos, para alguns, a muitos anos, para outros. Alguém já disse que é
este o recurso mais precioso que temos, e ao longo da vida, crescentemente
escasso - até mais do que o dinheiro - e,
sobre o qual, em última instância, não temos absoluto controle. Num boletim da Igreja recém, nosso
pastor Juarez Marcondes, levanta a questão pertinente: “quanto custa o tempo? Num mundo que em tudo se coloca um preço, muitas
vezes, olvidamos o valor do tempo. Só nos
damos conta deste esquecimento quando reconhecemos que o tempo está passando
depressa demais. Em outras palavras, não estamos usando o tempo como deveríamos”.
Neste sentido, alguns vivem para acumular cada vez mais dinheiro, na ilusão que
passarão assim a viver sem problemas, doravante; esquecem que a riqueza é
passageira, e não nos torna totalmente imunes às doenças, e, à morte. Outros são do tipo que vivem correndo
atrás dos prazeres, como se tudo se resumisse só em divertimento, esquecendo
que a alegria é passageira, e, costuma acabar antes da festa terminar. Outros
buscam desesperadamente se apoiar nas suas amizades, para logo se frustrarem,
quando os conflitos naturais aparecem. Outros vivem sempre em estado de alerta,
competindo de forma ininterrupta e desgastante, para no final serem suplantados.
E, remanesce a questão: será que a vida é só isso? Por fim, numa avaliação de
como estamos usando o tempo, podemos especular o que acharíamos de ter uma existência
como esta, prolongada, indefinidamente à eternidade? muito provavelmente, uma
resposta séria é que seria afinal indesejável como tal.
A diferença quem faz, aqui,
mede-se pelo que se acrescenta de positivo ao patrimônio comum da humanidade,
em termos de valores e realizações que verdadeiramente edificam. É limitada
pela duração de uma vida, e geralmente se circunscreve a ações num período
muito mais curto, mas cujos resultados transcendem em muito o tempo de sua
realização. A diferença quem faz, diz respeito exatamente ao uso nobre que se
faz do tempo de vida, na contramão do laissez
faire, da acomodação, do lugar
comum, da negatividade.
Quem não faz diferença: para o egoísta, tudo gira em torno dele mesmo; são amantes exclusivamente de si mesmos, em detrimento dos
interesses alheios. Seu lema é “isto é
meu, e eu não divido com ninguém”. São ainda presunçosos, arrogantes, jactanciosos, pedantes,
soberbos - aquele que se julga melhor que os demais,
e, dependentes compulsivos dos prazeres
(lascivos, pervertidos). Assim como
na oração do fariseu: “Dois homens subiram ao templo, para orar;
um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo
desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens,
roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.Jejuo duas
vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.O publicano, porém,
estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia
no peito,dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” Lucas 18:10-13. Para os
avarentos, tudo gira em torno do dinheiro que possam acumular. São amantes exclusivamente do dinheiro, a que
idolatram. Jesus conta uma parábola do rico insensato: “E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque
a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui. E propôs-lhe uma
parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância; E
arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus
frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros
maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a
minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa,
come, bebe e folga.Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma;
e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta
tesouros, e não é rico para com Deus”. Lucas 12:15-21. O
apostolo Paulo também dá algumas das características dos homens nos últimos
tempos (que incluem os últimos 2.000 anos): ... avarentos, presunçosos,
soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto
natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para
com os bons,traidores, obstinados, orgulhosos, ... tendo aparência de piedade,
mas negando a eficácia dela”. 2 Timóteo 3:1-5.
Quem faz a diferença,
positivamente. Esta diferença pode ser motivada por um
sentido de vocação, que enseja a oração sincera a Deus:
“De que me valerá ter vivido, a não ser
que prolongues minha vida até que eu haja concluído a trajetória da minha
vocação.” O sentido de vocação é objeto da “Teoria da semente de carvalho” ( “O Código do
Ser”, de Hilmann) que propõe que “cada
vida é formada por uma vocação que é a sua essência, que a leva para um
determinado destino. Assim como o destino de um imenso carvalho já está escrito
em sua pequena semente, do mesmo modo o ser humano traz, em si, as marcas do
que há de desenvolver; um sentido de vocação pessoal, de que existe uma razão
para eu estar vivo. Esta teoria sustenta que cada pessoa tem uma singularidade
que pede para ser vivida e que já está presente antes de poder ser vivida”. Quando
envolvido numa ação deste tipo, a pessoa sente-se engajada no desdobramento
criativo de algo maior. Mais comumente,
no sentido aqui compartilhado, esta diferença, não está necessariamente atrelada
a um sentido de vocação, estando mais próximo de ações comuns, realizadas contra
a corrente dos acontecimentos, mormente em ambientes bastante desfavoráveis. Neste contexto existem muitos anônimos
enquanto vivos, mas que não obstante a posteridade confirma que sim, fizeram a
diferença. Como Anne Frank,
uma adolescente comum alemã, de origem judaica, vítima do Holocausto, e, que morreu
aos quinze anos de idade, em um campo de concentração, durante o reinado de
terror do nazismo. Ela
permaneceu por dois anos escondida num sótão, até que, em 1944, um delator desconhecido revelou o
esconderijo às autoridades nazistas. O grupo foi, então, levado para campos de
concentração. Anne Frank e sua irmã Margot foram transferidas para o campo de concentração onde morreram de tifo, em março de 1945. Sua sobrevivência em condições extremamente
críticas, uma criança de menos de quinze anos, vítima
indefesa, em meio à brutalidade e a prepotência elevada ao máximo, mas sem se
entregar ou desesperar, foi um testemunho gritante de alerta para a posteridade
contra um regime absolutista, cultuador e fomentador do ódio, e que passou à
história como o pesadelo nazista que assombrou à humanidade.
Os
cristãos são vocacionados para fazerem a diferença, positivamente, conforme expresso nas metáforas de Jesus,
comparando-os ao sal da Terra (que
lhe dá sabor), e a Luz do Mundo (que
ilumina o caminho para os outros). Também em seu brilhante sermão, identificou algumas
características daqueles – a quem considerava felizes – vocacionados, para fazerem a
diferença: são reconhecidos pela humildade, pela simplicidade; são os pobres de espírito, os que choram,
indefesos, vulneráveis. Assim, como na oração de São Francisco de Assis mencionada no
inicio, que descreve bem a conduta de quem realmente faz a diferença.
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