A
moda atual entre internautas é ser, e, ter, seguidores numa rede social, tornando-se doravante, o número de
seguidores, um critério para medir o sucesso desse alguém, travestido de guia.
E, logo surge a possibilidade de uso desta facilidade como um instrumento de
manipulação para alavancar e/ou alimentar
o ego de candidatos a celebridades, e, bem assim, para incrementar o mercado de
consumo, que venha a se associar com a imagem do “guia”. Recentemente algumas
destas figurinhas carimbadas da mídia, se gabavam de já ter ultrapassado de um
milhão de seguidores, o que seria pitoresco, se não fosse verdade.
Ameaças e oportunidades. Os
eventos recentes em nosso País, de contestação nas ruas, ilustram as
oportunidades (voz popular de protesto contra a inoperância quando não,
malversação dos serviços públicos), e as ameaças (atos de vandalismo, por contraventores
infiltrados), fazendo uso da capilaridade das redes sociais. Neste ínterim, duas são aqui destacadas:
Por
um lado a tentação que ficou conhecida como
seguidores com mentalidade de rebanho. A expressão ficou associada com o
filosofo Friedrich
Nietzsche, diz respeito ao seu “protesto
contra a ação do Estado, seu desagrado pelo negligente comportamento social da comunidade, depreciativamente chamado
de “mentalidade de rebanho", sua desconfiança do efeito do mercado e do Estado na
produção cultural, seu desejo por um "Übermensch" - isto é, por um
homem novo que não fosse nem mestre nem escravo” (por ironia, esta crítica a um espírito de seguidor
subserviente, foi associado, de forma distorcida, com o nazismo). Esta tentação
é magistralmente explorada no filme “A
Onda”, “onde um professor colegial ministrando
sobre autocracia, começa um experimento para mostrar o quão fácil é manipular
as massas. “Ele começa exigindo que todos
os alunos se refiram a ele como " Senhor”,
e muda as carteiras de lugar, de modo que todas elas fiquem de frente
para ele. Além disso, todo aluno que queira fazer alguma colocação deverá se
levantar e dar respostas curtas. O professor também mostra aos alunos como
uma marcha executada com
perfeita sincronia rítmica entre os alunos pode fazer com que se sintam parte
de uma única entidade. Por fim o professor sugere que todos os alunos do grupo devem
vestir uma camisa branca e calças jeans, para que não haja mais distinções
entre os alunos e unir ainda mais todos eles. O grupo começa então a perceber
mudanças em seu comportamento. Criam também um símbolo, que é espalhado na
forma de adesivos ou pichações por toda a cidade. Além do nome, o grupo cria uma forma de
saudação, que consiste em imitar o movimento de uma onda com o braço direito em
frente. Criam também um símbolo, que é espalhado na forma de adesivos ou
pichações por toda a cidade. O filme
mostra de forma contundente, como as massas podem ser manipuladas”, numa referencia clara aos movimentos autocráticos, que a História
registra.
De outro lado, temos a tentação de guias cegos, que
Anselmo Grün, falando sobre os demônios da vaidade e do orgulho, que também nos
assediam, assim comenta: “consiste em assumirmos o papel de mestres ,
embora nós mesmos tenhamos ainda pouca experiência. É o perigo da inflação, como
com tanta freqüência é descrita por Jung. Sentimo-nos como profetas ou como
reformadores do mundo, achamos que nossas próprias idéias e palavras são de
importância decisiva para a salvação do próximo”. Alguém já disse que todo
mundo quer ser rei, e, todo rei quer ser deus. Aqui encontro na vida do Rei
pastor Davi, mencionado na Biblia, um contra-exemplo para este vício, e, que o
celebrado autor Eugene Peterson, em seu titulo “Transpondo Muralhas”, assim
comenta: “A ascensão de Davi foi
concluída; começa seu reinado. As palavras proferidas nesse inicio são bem
significativas: “Tu hás de pastorear Israel, o meu
povo, e serás o seu governante”. “Com estas palavras, Davi, o pequeno
pastor de Belém se torna o grande rei pastor de Israel. A designação de rei é
empregada à vontade por toda a narrativa bíblica, mas não aqui, onde é
significativa a preferência pelas palavras pastor e governante ou príncipe.
Príncipe (Nagib em hebraico), em vez de rei, porque Israel havia acabado de
experimentar uma forma abusiva de governo com o rei Saul. Davi é identificado
como alguém igual a eles, que simplesmente galgou maior posição: Somos sangue
do teu sangue. Não seria um governo imposto de fora, mas desenvolvido
interiormente. O pastor é alguém que vive junto ao rebanho e cuida dele; o príncipe
é alguém que emerge da comunidade e a lidera. Espera-se que o governo de Davi
se desenvolva mantendo seus instintos pastorais e sua capacidade de liderança
quando jovem. Espera-se que o governo de Davi se desenvolva preservando a
sensibilidade para com as necessidades da comunidade, o que ele cultivou no
deserto. Ao assumir Davi o seu reinado
sobre Israel e Judá, o que os líderes estão lhe dizendo, na verdade, é: seja
nosso príncipe: não se transforme num rei com ânsia de poder, que imponha sua
vontade à força sobre o povo. Seja nosso pastor: não se transforme num rei
levado pelo próprio ego, que use o povo como pasto para alimentar sua
auto-importância. Davi fez o que lhe pediram. Uma das principais provas é o Salmo
(do pastor) 23”.
O paradigma do verdadeiro Guia,
que cuida dos seus seguidores, é apresentado na Biblia:”...Tornou,
pois, Jesus a dizer-lhes...Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida
pelas ovelhas.Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as
ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e
dispersa as ovelhas.Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem
cuidado das ovelhas.Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das
minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o
Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas”. (Palavras de Jesus Cristo,
conforme registradas no Evangelho de João).
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