“Nenhum homem é
uma ilha” (John Donne). “O homem é por natureza um animal social” (Marx). Pensamentos como estes põem em destaque a
importância dos relacionamentos. “Os
vínculos com os outros constituem fonte de satisfação de necessidades
fundamentais, como ser querido, bem cuidado e atendido. A sociabilidade é a
propensão do homem para viver junto com os outros e comunicar-se com eles,
torná-los participantes das próprias experiências e dos próprios desejos,
conviver com eles as mesmas visões. Temos mesmo fome por relacionamentos; é
como se nós tivéssemos sido feitos para encontrar nosso propósito e significado
não simplesmente em nossas vidas interiores, mas no outro e nos significados e
propósitos compartilhados”.
“Viver não é tão
difícil; conviver é que é”. Ocorre que, juntamente com a
alegria num relacionamento, é comum ocorrerem conflitos. O conflito é muitas
vezes inevitável nos relacionamentos humanos. O fator agravante, é caminhar na seqüência mortal que vai de discordância →
discussão → contenda → confronto → mágoa. Cinco são as formas de lidar com
conflitos: afastamento (fugir do conflito, que não o elimina); acomodação (me
submeto, mas não concordo); competição (um ganha e outro perde); colaboração e
acordo (todos ganham). E, a sabedoria da ponderação: conflitos, se não podem
ser evitados, mas podem ser administrados.
Um dos fatores que muito influenciam nos
relacionamentos, e, podem concorrer para os conflitos, é a realidade dos
temperamentos. Assim o Criador, em sua infinita sabedoria, cuidou para
que não fossemos uma uniformidade monótona, e sem graça, acrescentando então uma
pitada de sabor que faz a riqueza dos relacionamentos. Neste sentido, o renomado
psicólogo Jung identificou duas atitudes básicas no comportamento do homem que
estão intrinsecamente ligadas ao temperamento. Estas atitudes são: Introversão e Extroversão. Na
Introversão incluem-se os melancólicos e fleumáticos. Na extroversão incluem-se
os sanguíneos e coléricos. Uma caricatura destes temperamentos conta-se na seguinte
historinha: “Os
quatro temperamentos foram amarrados dentro de um saco. Depois de tanta luta
conseguiram sair. O primeiro foi o colérico cheio de ira, querendo saber quem
tinha feito isso com ele (todo cheio de razão); o segundo foi o melancólico
todo cabisbaixo achando que o culpado de todos estarem presos era ele (sempre
se culpando); logo atrás vem o sanguíneo, todo serelepe, cantando e dançando
dando graças a Deus por estar solto (todo feliz); e, por último o fleumático,
quando saiu, logo que viu o saco no chão pensou com ele mesmo: por que não?
Ajeitou o saco e dormiu”. (autor
desconhecido). O temperamento explica nosso comportamento, mas não
deve servir de desculpas para ele. Sendo parte de nossa natureza humana, pode e
deve ser controlado por nosso espírito, e , seus pontos negativos podem ser
disciplinados, reorientados e até corrigidos, contando com o auxílio do
Espírito Santo.
Como forma distorcida de relacionamentos, é triste observar que muitos preferem amar coisas
e usar pessoas, quando deveriam amar as pessoas e usufruírem das coisas. Este
comportamento foi estudado com profundidade pelo rabino e teólogo Martin Buber, que identificou que o relacionamento homem-homem
segue uma das duas possibilidades, que ele chamou de “eu/tu” e “eu/isso”. “Eu/tu é um encontro existencial, de pessoas
vivas se relacionando de modo a se conhecerem melhor, umas às outras.; eu me
deixo influenciar através do dialogo, e, assim, ela se torna um tu. No
relacionamento do tipo eu-isso, o eu é um sujeito que se defronta com um
objeto. Se analiso outra pessoa, ou a utilizo como objeto, para mim ela é um
simples isso. Passo a querer manipulá-la como um objeto para o meu prazer. A
relação eu-isso não é nunca, em si, um mal. Mas o mal pode residir na
escravidão humana a essa atitude, apagando da face do homem a resposta
responsável, a disponibilidade para o encontro com o outro. O homem precisa do
mundo do Isso para viver, mas quem vive somente a relação eu-isso se
desumaniza.”
Sinais de atenção, facilmente percebíveis, de iminência
de conflitos: em algum momento, poderá ser
necessário admitir que o outro está certo. Logicamente, não devemos aceitar o
erro, mas muitas vezes não é isso que está em jogo. Comumente, em um conflito
cada parte envolvida tem uma parcela de verdade: há uma parte no conflito que
eu experimentei que é verdadeira, mas meu oponente tem sua perspectiva de como
ele experimentou o conflito e ela também é verdadeira. Também, nossas discussões devem ser pautadas
pelo respeito, e, pela cortesia.
Palavras mansas e sadias podem desarmar o ânimo agressivo da outra parte.
Podemos expor nossas opiniões, por mais divergentes que sejam, sem usar de
agressividade. Todos
perdemos com o uso de expressões de negatividade, que inclui desde um elogio
interesseiro, quando não hipócrita, com gosto de fel, quando não, nos atingem
como um sôco. Por outro lado que bálsamo que é, quando, somos tocados por
alguma palavra ou gesto de cordialidade, como um reconhecimento, um elogio
espontâneo, e, até mesmo num mero sorriso de reconhecimento.
O apostolo
Paulo vai além, e orienta como os irmãos deveriam conviver uns com os outros, através de relacionamentos fraternais, com a marca da
excelência, e cujos traços dominantes incluem, dentre outras
qualidades/virtudes: Autenticidade - sinceridade
e verdade devem ser a marca da nosssa conviência (devendo ser sinceros em suas
palavras e atitudes sem dissimular
sentimentos, se necessário, revelando o desconforto por algo que não havia
ficado bem esclarecido). Cordialidade - nossa
opção sempre será exaltar outrem e jamais diminui-lo (que de nossos lábios
sempre saia uma palavra para trazer incentivo, para a edificação, e nunca uma
mensagem derrotista, negativista e, acima de tudo, que a torpeza não saia de
nossos lábios). Solidariedade - horas
difíceis são oportunas para estreitar relacionamentos. Humildade - é importante resistir à nossa própria soberba. Sensibilidade (inclui polidez, delicadeza; é o oposto de
grosseria, brutalidade, palavra ferina, e gesto que machuca) – é bom saber discernir bem em quais momentos nos encontramos.
Bondade e Benignidade
- ser benigno significa ser bondoso, amável,
gentil, atencioso; são expressões afins, a misericórdia
e a generosidade. Aquele que
possui essas qualidades é gracioso, e gentil para com seus semelhantes, não se
mostrando inflexível e exigente. Tem doçura de temperamento, presdispondo-o a
uma atitude afável e cortês. Benignidade é
o pensamento de fazer o bem, e, a bondade é ação de fazer o bem. Benignidade é uma
qualidade do coração e emoção. Bondade é uma qualidade da conduta e ação.
Sentimentos e expressões afins de benignidade e bondade, ainda incluem cordialidade, gentileza. Seus opostos envolvem: crueldade
, maldade, descortesia, deselegância, indelicadeza, cinismo,
hipocrisia, malícia, arrogância, aspereza, brutalidade.
Concluindo,
da família para as demais instâncias da sociedade, em
toda parte, não podemos pensar que representamos uma ilha isolada, inacessível,
no meio do oceano; o tempo todo estamos tangenciando uns nos outros. A questão
é como isto se dá? O convívio é salutar? O relacionamento interpessoal é
edificante? A convivência é benéfica? Se a resposta não é positiva é sinal de
que estamos vivendo abaixo da linha de excelência.
De boletins da Igreja
Presbiteriana de Curitiba
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