Com os primeiros dias de 2015 em curso, e os votos de boas
festas de final de 2014, quase já deixados para trás, é oportuno também fazer
um balanço sobre o que muda, com mais um ano de existência, mormente como
membro da terceira idade, quando o tempo parece voar. Neste sentido anotei duas
avaliações afins, publicadas na mídia recente, das quais destaco:
Da revista VEJA : “Envelhecer
é uma arte?” (de Claudio de Moura Castro) – “Amadurecemos com a idade? Ou acumulamos azedumes e rabugices? Ficamos
cada vez mais impacientes com a burrice humana? Ou mais bem blindados contra
ela? Cada um é cada um. Entre 40 e 50 anos, bate um pessimismo, uma insegurança
difusa. Caminhando pelas ruas, vemos logo que tem jeito de aposentado. Falta
chispa nos olhos e o andar sugere que não quer chegar a parte alguma. Maslow
percebia uma perda progressiva da motivação para fazer as coisas e lidar com
desafios. Mais e mais empreitadas deixavam de valer a pena. Paulo Freire ponderou
que envelhecer é perder a curiosidade. É o ocaso das faculdades mentais: degrada-se
a memória, sobretudo a de curto prazo e a dos nomes e datas; o raciocínio
matemático começa a derrapar. A boa notícia é que a capacidade de julgamento, a
sabedoria , o espirito de finesse, mencionado por Pascal, não apenas
sobrevivem, mas progridem. Comprovou-se que os velhos precisam ter menos para
decidir sobre algum assunto, com igual competência. Sabemos também que a
inteligência reage como um músculo. A qualquer idade, é fortalecida com
exercícios e evapora com a inação. A letargia intelectual mata.”
Da revista ULTIMATO : “2015
– O primeiro ano do resto da sua vida” (Rubem Amorese). “Recém-aposentado,
tenho pensado sobre como viver melhor os anos que me restam. E o que quer que
eu decida, gostaria de começar em janeiro de 2015. Podemos reduzir os
compromissos, as metas de produtividade, as avaliação de rendimento e coisas
assim. Como viver melhor os anos que me restam? Aposentado, sem patrão, sem
mais ter uma obrigação de trabalho, viver a vida que quisermos. Transformo
minhas pesquisas, até aqui, em recomendações. Ainda genéricas, mas que têm
guiado meus projetos para este ano: Pense em algo que você goste de fazer, ou
que faria por amor. Ou por amar. Ou seja, não diretamente para ganhar dinheiro,
prestigio ou coisa assim. Talvez para ganhar afeto e novas amizades. Pense em
algo que beneficie, que abençoe pessoas. Individualmente ou em grupo. Algo que
você doe a elas. Sem esperar retorno. Sem que elas possam lhe pagar. Pense em
algo que promova a união entre todos, por laços afetivos, incluindo você. E que
essa união seja gostosa e esperançosa...”
Há poucos dias de comemorar 67 anos, tais registros, me
subsidiam, ao fazer um balanço pessoal do ano que passou, no qual percebo, no
lado das perdas, necessidades de reparar ameaças crescentes, e, no lado dos
ganhos, oportunidades de ampliar benefícios:
DO LADO DAS PERDAS : perda de amizades, esfriadas
pela distância, ou falta de contato, com destaque para a turma de engenharia
(de 1970), colegas de trabalho (de 1970/2006), e irmãos em Igrejas onde
congregamos em Recife, Rio de Janeiro, Brasilia e Curitiba; de motivação e de iniciativa, que nos
faria mais proativo naquilo que estiver ao alcance, e que seja de natureza “honesta, justa, pura, amável e de boa fama”,
tornando a vida mais solidária; tempo desperdiçado (o tempo que
realmente conta é o tempo interno, do coração, e que diferentemente do tempo
externo, dito objetivo, onde cada minuto é igualzinho a todos os demais, neste
tempo, subjetivo, o que vale é a intensidade com que é vivido. Sobre esta
diferença Charles Baudelaire ponderou:
“Dizem que tenho trinta anos. Porém, se
tivesse vivido três minutos em apenas um minuto, não teria agora noventa
anos?”. É também o tempo da consciência, do espírito, e que não passa, só
se acumula ao longo da vida. Em contraposição “o tempo que sentimos estar passando é tempo perdido”.)
DO LADO DOS GANHOS: acúmulo de experiência que se
transforma em sabedoria compartilhada, como o prazer das coisas simples, e
curtidas num ritmo mais devagar; de paciência, inclusive para
abrir mão do controle, dando mais atenção às iniciativas que não as próprias; de
restauração da capacidade de admirar-se (natural na infância),
com a atenção também voltada para as dimensões subjetivas da imaginação, do sublime, e do inefável, vis a vis o monopólio árido da razão objetiva e utilitária; de
ocorrências, durante os sonhos, de
lembranças prazerosas, trazendo de certa forma à
vida momentos alegres de um passado distante, e até então esquecidos; de resignação, nesta altura
da vida, na corrida da prosperidade, em detrimento de mais “ajuntamento
de tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os
ladrões minam e roubam...”; de significado, ganho pela ação
solidária nas áreas de educação
cristã (na Igreja), e secular (reforço escolar em Instituição afim, de abrigo à
crianças carentes), com o beneficio extra de exercitar neurônios preguiçosos; do renascimento da
esperança de maior justiça social no País, despertada pela ação corajosa, e, com aparente
liberdade, do Ministério Publico, no combate à corrupção endêmica no País.
Ainda no lucro, contabilizo
momentos comuns de deleite, na convivência familiar (e nada como o chamamento irresistível das netas!) e
com amigos; nas
leituras com novos insights enriquecedores, que ampliam nossa visão; nos
filmes que
tocam o coração; nos quilômetros acumulados com caminhadas diárias no Parque Barigui,
e, que contribui ainda na manutenção dos indicadores de saúde; nas viagens, curtas e esporádicas, sem
a sofreguidão do turista compulsivo, em cada esquina compras e flashes, para exibição no whatsapp, sem tempo para admiração presencial.
Destaque especial para um maior sentido da Presença de Deus sobre a qual Frei
Lawrence escreveu: “E considero minha
tarefa exclusiva perseverar na santa presença de Deus, onde me mantenho
mediante pequenino esforço de atenção e um amoroso olhar, estabelecendo uma
constante, silenciosa e secreta conversa de minha alma com Ele, o que
frequentemente produz em meu íntimo, bem como no meu exterior, tão grande
alegrias e arrebatamentos, que sou forçado a moderá-los para evitar que outros
os observem”.
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