“MEMENTO MORI” é um pensamento cristão, usado
como saudação entre os monges trapistas, e significa, “lembra-te que hás de morrer”; também empregado em inscrições tumulares” tais como “Memento homo qui a pulvis est et in pulvere
revertere” (lembra-te homem, que és pó, e ao pó retornarás), longe de ser
um pensamento mórbido ou depressivo, trata-se de uma expressão de sabedoria
conforme empregada pelo salmista no título acima.
A
imprevisibilidade e a brevidade, são duas
características inerentes à vida, e, que esporadicamente são acentuadas em determinadas
circunstâncias críticas: como em cada parente
e amigo que “se vai”, é como que um eloquente sinal de atenção, para se parar
e refletir sobre o dom (presente) da vida. Assim vamos acumulando lembranças
bem guardadas, com muito carinho, de pais e outros familiares, e, de amigos,
que hoje já encerraram suas jornadas neste lado da vida (saudades da minha
turma de engenharia de 1970, o primeiro passo para uma vida que se anunciava
plena de desafios e vitórias no campo profissional; quantos sonhos foram
realizados, quantos interrompidos ?). E o pensamento recorrente de que poderia também
não estar mais deste lado da vida! E o que estaria (estariam) fazendo agora? Por oportuno, considerar a “aposta de
Pascal” (1). É quando na imaginação, ultrapassamos as barreiras do tempo e do
espaço, para vislumbrar um instante da eternidade, trazendo de volta à vida,
lembranças adormecidas com o sabor de emoções vividas. Também nas tragédias, como a ocorrida com o voo da Lufthansa, em
um passado recente (dentre as vítimas, uma jovem doutora que era nossa
amiga), e mais recente com o avião da
Germanwings (2), de grande comoção mundial, são como que outdoors iluminados, com
“Memento Mori”. Noticias de terríveis
catástrofes, massacres, assassinatos nos chegam todos os dias, e, aparentemente,
já não mais nos abalam mais, pois de tão continuados virou quase uma rotina
trágica.
“Calcula-se que, desde seu aparecimento no planeta Terra, cerca
de 80 bilhões de seres humanos já viveram em sua superfície. A Revolução
Industrial melhorou as condições sanitárias nas cidades e permitiu o
desenvolvimento de novos remédios, vacinas e anestesias. A descoberta da
penicilina (1928), a vacina contra a poliomielite, contra a rubéola, contra o
sarampo, contra a hepatite aprimoraram a medicina. Os estudos do genoma humano
fez com que os males genéticos passassem a ser combatidos antes mesmo do aparecimento
dos sintomas. Vacinas contra a malária, e contra a aids, a medicina genética,
pode aprimorar tratamentos contra o câncer. Uma pesquisa da consultoria
americana Pew Research mostrou que 69% das pessoas dizem preferir morrer entre
79 e 100 anos, a sobreviver até mais de 120 anos, mas, decrépitos e descrentes, desesperados,
e, inevitavelmente chegariam a um estágio em que prefeririam a morte.
(Reportagem da Veja)
As perdas nos dão a exata dimensão dos ganhos, sendo a morte, a perda maior que podemos sofrer, que nos faz valorizar a
vida. “As perdas que se acumulam ao longo
da vida podem ser distribuídas em : doenças crônicas e limitações físicas em si
próprio; morte de parentes e amigos;
morte de um animal de estimação; perdas materiais significativas. Tendo em
vista que a vida é o dom maior que recebemos, não devemos pensar que a morte
deva ser procurada. Devemos, sim, viver a vida em plenitude, no tempo que nos
for dado viver. Devemos respeitar a vida, desde a concepção até a morte, cuidando
dela, tornando-a a melhor possível, para nós e para todos os seres vivos ao
redor de nós, enquanto vida tivermos. Qualquer pessoa de bom senso com certeza
gostará de deixar uma recordação, por menor que seja, de alguém que deu bons
frutos, que justificou sua passagem por esta vida. Não necessariamente por
grandes obras, quase sempre de importância duvidosa, mas essencialmente pelas
pequeninas coisas boas que fez no dia a dia, pelo comportamento ético e
respeitoso. “
O medo de
morrer é inerente a nossa vida. “É por causa dele que nos encontramos vivos
até hoje. Trata-se de uma reação instintiva que nos afasta das situações de perigo. É pelo medo
de morrer que não pulamos no mar, se não sabemos nadar. Enquanto dentro de certos
limites, este medo é saudável e desejável. Contudo, se ele os ultrapassa, pode
tornar-se um entrave para a qualidade de vida, impedindo a pessoa de realizar
coisas normais. Temos medo da dor, do sofrimento, da dependência de terceiros,
de situações degradantes que possamos enfrentar, enfim, de qualquer desconforto
mais acentuado. Com o avanço dos conhecimentos e, sobretudo da tecnologia, o
ser humano foi se tornando a cada dia, mais distante do ciclo vital universal
da vida e da morte, que para ele se tornou um terror”.
Destaques do Manual do
Fabricante (DEUS mesmo):
- Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem
que passou, e como a vigília da noite (Salmos 90:4)
Tu os levas como uma corrente de água; são como um sono;
de manhã são como a erva que cresce. De madrugada floresce e cresce; à tarde
corta-se e seca (Salmos 90:5-6)
Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se
alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e
enfado, pois cedo se corta e vamos voando (Salmos 90:10)
Comentando este Salmos 90, o Rabbi Joshua Haberman, pondera: “A vida é cheia de contradições: é um
presente – que é tomado à frente. É crescimento – e declínio; oferece prazeres
– e pânico. Entre os muitos bilhões de pessoas, não existem dois iguais, mas
todos compartilham o mesmo fim. Tudo que nós somos desaparece na morte, ou pelo
menos assim parece para nós. Dois mistérios envolvem a vida: onde estávamos
antes de nascer e o que seremos depois da morte. O salmo fala para nós acerca
de realidades da vida. Nossa breve manhã da vida começa com um espantoso poder
para crescer (v 6). Mas breve nós começamos a declinar (v 6). O salmista
dimensiona nosso período curto normal de vida normal (v 10). Mas mesmo quando
vivemos até seus limites, a vida é um mero lampejo da eternidade (v 10). Porque
nosso tempo é tão curto, não podemos nesciamente desperdiçá-lo. Para fazer uso
próprio de nosso tempo de vida, nós precisamos de sabedoria (v 12). Mas independentemente
de como vivemos nossas vidas, sábia ou nesciamente, o que permanece quando tudo
se foi é como sem substancia (v 9). Isto, todavia, não é a história completa. O
homem tem um lugar com o Eterno. Na presença de Deus, tempo não tem
significado. (v 4).
- “Tragada foi a morte na vitória”.1 Coríntios 15:54. A boa noticia da Páscoa, e que é o
suporte de todo o Evangelho, é a morte da própria morte. Doravante é
vida eterna, com a promessa de ressurreição envolvendo corpo e alma. “A
ressurreição de Jesus Cristo (no passado) e a ressurreição de nosso corpo (que
ainda é futuro), estão ambas relacionadas, por Jesus “Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu
corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as
coisas”. Filipenses 3:21. Isto é fantástico ! muito além do que poderíamos imaginar !
P.
S.
(1)A Aposta de
Pascal “é uma proposta argumentativa de filosofia criada
pelo filósofo, matemático e físico francês
do século XVII Blaise Pascal. Ela postula que há mais a ser
ganho pela suposição da existência de Deus do que pelo ateísmo,
e que uma pessoa racional deveria pautar sua existência como se Deus existisse, mesmo
que a veracidade da questão não possa ser conhecida de fato. Historicamente,
foi um trabalho pioneiro no campo da teoria das probabilidades, marcou o
primeiro uso formal da teoria da decisão, e antecipou filosofias
futuras como existencialismo, pragmatismo e voluntarismo.
Este argumento tem o formato
que se segue:
- se você acredita em
Deus e estiver certo, você terá um ganho infinito;
- se você acredita em
Deus e estiver errado, você terá uma perda finita;
- se você não acredita em
Deus e estiver certo, você terá um ganho finito;
- se você não acredita em
Deus e estiver errado, você terá uma perda infinita.
Pascal referenciou a
dificuldade da razão posta para a crença genuína propondo que "agir
como se acreditar" pudesse "curar da descrença". (Wikipédia)
(2)“Entre os 150 mortos do vôo da Germanwings havia 16
adolescentes de 15 a 16 anos de um mesmo colégio da cidade ... de apenas 38.000
habitantes... Os estudantes alemães eram vistos na escola como privilegiados.
Eles haviam sido sorteados, entre 40 alunos, para um intercâmbio de uma semana
em Barcelona, na Espanha, com o intuito de aprender espanhol morando em casas
de família. Duas professoras acompanhavam o grupo na viagem sem volta. Uma das
alunas por pouco não escapou. Ela havia esquecido seu passaporte e,
evidentemente, não poderia embarcar. Mas a família que a acolheu em Barcelona
percorreu os 50 km até o aeroporto para lhe entregar o documento, e ela
finalmente embarcou com os companheiros de estudo e sorrisos. O desastre nos
Alpes matou cidadãos de 18 países, incluindo outros adolescentes, uma criança e
2 bebês, um de apenas 7 meses.” (Reportagem da Veja).
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