O famoso rei Salomão, o terceiro
rei de Israel, governando durante cerca de quarenta anos
(segundo algumas cronologias bíblicas, de 1009 a 922
a.C. ) passou à história por sua notória sabedoria. Sua fama chegou
tão longe que abalou até à rainha da distante Sabá - a localização deste reino pode ter
incluído os atuais territórios da Etiópia e
do Iêmen - a empreender uma longa viagem para comprovar a veracidade dos
fatos. Ocorre que a origem desta sabedoria, consoante registro bíblico, foi uma
resposta de Deus a um pedido acertado de Salomão, por ocasião de sua elevação
ao trono, quando, durante à noite, em sonhos, Deus lhe fala: “pede-me
o que queres que eu te dê ”, e, Salomão pede então sabedoria para
governar bem o povo. Isto é fato, mas não é toda a verdade. Na realidade, o
pedido de Salomão foi: “dá, pois, a teu servo coração compreensivo
para julgar o teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal”.
“A palavra traduzida
comumente por sabedoria, é, antes, um coração compreensivo. “A palavra
compreensivo, em hebraico, é “shama”,
que significa ouvir, escutar, obedecer. Shama
é um conceito muito diferente de sabedoria e é uma das mais belas atitudes e
que mais agradam a Deus. Sabedoria consiste de um acúmulo de conhecimentos e
experiências reunidos dentro de um ser humano. Para exercitar sabedoria, a
pessoa precisa vasculhar seu interior à busca de respostas, extraindo do seu
reservatório fatos, valores, sistemas, abordagens e ensinamentos recebidos de
outrem, além dos frutos de sua própria educação, prática, percepções e
experiências de vida armazenados ao longo de sua vida. Sabedoria, de acordo com
a bíblia, tem a ver com habilidade, sagacidade e prudência; é a correta
aplicação do conhecimento. A memória de ocasiões em que fomos tolos ou vítimas
de tolice, resultando em grande prejuízo pessoal, faz-nos prestar profundo
respeito à sabedoria, dando-lhe o lugar de honra que merece. A sabedoria é um
valioso recurso,... entretanto, em hipótese alguma serve como substituto para
um coração que ouve e, sozinha, a sabedoria pode até ser um empecilho...” vide um coração soberbo, inchado de conhecimentos adquiridos.
O coração que ouve,
que Salomão pediu, envolve humildade e dependência de Deus: “sou um menino pequeno que não sabe como
sair, nem como entrar”. Com humildade, o coração “shama” confessa ignorância e busca resposta, não a partir dos
recursos pessoais de sabedoria, mas, sim, com base num relacionamento dinâmico
de dependência com o próprio Senhor Jesus, como o Deus Vivo. A sabedoria, num
certo sentido, é estática, completa em si mesma e autoconfiante; um coração que
ouve é dinâmico e dependente de Deus”.
(Fonte: Um Coração que
Ouve, artigo de Eric Mumford, publicado na Revista “Impacto” nov/dez 2005).
Um exemplo de julgamento de Salomão encontramos no relato
bíblico da disputa entre duas mães, uma das quais o filho tinha nascido morto,
e o da outra vivo. No julgamento, Salomão vivencia um espirito de empatia com a
mãe verdadeira, a qual, até então desconhecia. Assim, ao invés de arrazoar com
base em um questionamento e provas, baseado em seu cabedal de conhecimentos e
experiências pessoal, o rei Salomão transfere o foco da decisão para ouvir a
reação de cada mãe ante uma proposta que poria em risco a vida da criança,
teste que a verdadeira mãe jamais aceitaria passar, mesmo em detrimento da
perda do filho para a outra mãe impostora.
Com Salomão, considerado um dos homens mais sábios que já
existiu, aprendemos a lição de que ter um
coração que ouve, humildade (“a
verdadeira humildade significa respeito aos demais”), e dependência de Deus
(não implica que o governo deve ter uma religião, antes professamos a fé
reformada que faz separação entre Igreja e Estado), estão entre as principais qualidades
de um governante que faz história, para o bem de todos e felicidade geral da
Nação.
P.S. uma lição atual sobre a oportunidade de ouvidos que ouçam,
os clamores dos movimentos sociais em curso em nosso País, com destaque para as
manifestações recentes em praça pública.
Registros tal como estão na Biblia:
O
PEDIDO DE SALOMÃO. “E em Gibeom apareceu o Senhor a Salomão de noite em sonhos;
e disse-lhe Deus: Pede o que queres que eu te dê. E disse Salomão: De grande
beneficência usaste tu com teu servo Davi, meu pai, como também ele andou
contigo em verdade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face;
e guardaste-lhe esta grande beneficência, e lhe deste um filho que se
assentasse no seu trono, como se vê neste dia. Agora, pois, ó Senhor meu Deus,
tu fizeste reinar a teu servo em lugar de Davi meu pai; e sou apenas um menino
pequeno; não sei como sair, nem como entrar. E teu servo está no meio do teu
povo que elegeste; povo grande, que nem se pode contar, nem numerar, pela sua
multidão. A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo,
para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar
a este teu tão grande povo? E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, de
que Salomão pedisse isso. E disse-lhe Deus: Porquanto pediste isso, e não
pediste para ti muitos dias, nem pediste para ti riquezas, nem pediste a vida
de teus inimigos; mas pediste para ti entendimento, para discernires o que é
justo; Eis que fiz segundo as tuas palavras; eis que te dei um coração tão
sábio e entendido, que antes de ti igual não houve, e depois de ti igual não se
levantará. E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória;
de modo que não haverá um igual entre os reis, por todos os teus dias”.1 Reis 3:5-13
UM
JULGAMENTO DE SALOMÃO. “Então vieram duas mulheres prostitutas ao rei, e se
puseram perante ele.E disse-lhe uma das mulheres: Ah! senhor meu, eu e esta
mulher moramos numa casa; e tive um filho, estando com ela naquela casa. E
sucedeu que, ao terceiro dia, depois do meu parto, teve um filho também esta
mulher; estávamos juntas; nenhum estranho estava conosco na casa; somente nós
duas naquela casa. E de noite morreu o filho desta mulher, porquanto se deitara
sobre ele. E levantou-se à meia-noite, e tirou o meu filho do meu lado, enquanto
dormia a tua serva, e o deitou no seu seio; e a seu filho morto deitou no meu
seio. E, levantando-me eu pela manhã, para dar de mamar a meu filho, eis que
estava morto; mas, atentando pela manhã para ele, eis que não era meu filho,
que eu havia tido. Então disse a outra mulher: Não, mas o vivo é meu filho, e
teu filho o morto. Porém esta disse: Não, por certo, o morto é teu filho, e meu
filho o vivo. Assim falaram perante o rei. Então disse o rei: Esta diz: Este
que vive é meu filho, e teu filho o morto; e esta outra diz: Não, por certo, o
morto é teu filho e meu filho o vivo. Disse mais o rei: Trazei-me uma espada. E
trouxeram uma espada diante do rei. E disse o rei: Dividi em duas partes o
menino vivo; e dai metade a uma, e metade a outra. Mas a mulher, cujo filho era
o vivo, falou ao rei (porque as suas entranhas se lhe enterneceram por seu
filho), e disse: Ah! senhor meu, dai-lhe o menino vivo, e de modo nenhum o
mateis. Porém a outra dizia: Nem teu nem meu seja; dividi-o. Então respondeu o
rei, e disse: Dai a esta o menino vivo, e de maneira nenhuma o mateis, porque
esta é sua mãe. E todo o Israel ouviu o juízo que havia dado o rei, e temeu ao
rei; porque viram que havia nele a sabedoria de Deus, para fazer justiça”. 1 Reis 3:16-28
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