sábado, 5 de abril de 2014

SEGUIDORES E GUIAS


A moda atual entre internautas é ser, e, ter, seguidores numa rede social, tornando-se doravante, o número de seguidores, um critério para medir o sucesso desse alguém, travestido de guia. E, logo surge a possibilidade de uso desta facilidade como um instrumento de manipulação  para alavancar e/ou alimentar o ego de candidatos a celebridades, e, bem assim, para incrementar o mercado de consumo, que venha a se associar com a imagem do “guia”. Recentemente algumas destas figurinhas carimbadas da mídia, se gabavam de já ter ultrapassado de um milhão de seguidores, o que seria pitoresco, se não fosse verdade.
Ameaças e oportunidades. Os eventos recentes em nosso País, de contestação nas ruas, ilustram as oportunidades (voz popular de protesto contra a inoperância quando não, malversação dos serviços públicos), e as ameaças (atos de vandalismo, por contraventores infiltrados), fazendo uso da capilaridade das redes sociais. Neste ínterim, duas são aqui destacadas:
Por um lado a tentação que ficou conhecida como seguidores com mentalidade de rebanho. A expressão ficou associada com o filosofo Friedrich Nietzsche, diz respeito ao seu “protesto contra a ação do Estado, seu desagrado pelo negligente comportamento social da comunidade, depreciativamente chamado de “mentalidade de rebanho", sua desconfiança do efeito do mercado e do Estado na produção cultural, seu desejo por um "Übermensch" - isto é, por um homem novo que não fosse nem mestre nem escravo” (por ironia, esta crítica a um espírito de seguidor subserviente, foi associado, de forma distorcida, com o nazismo). Esta tentação é magistralmente explorada no filme “A Onda”, “onde um professor colegial  ministrando sobre autocracia, começa um experimento para mostrar o quão fácil é manipular as massas. “Ele começa exigindo que todos os alunos se refiram a ele como " Senhor”,  e muda as carteiras de lugar, de modo que todas elas fiquem de frente para ele. Além disso, todo aluno que queira fazer alguma colocação deverá se levantar e dar respostas curtas. O professor também mostra aos alunos como uma marcha executada com perfeita sincronia rítmica entre os alunos pode fazer com que se sintam parte de uma única entidade. Por fim o professor sugere que todos os alunos do grupo devem vestir uma camisa branca e calças jeans, para que não haja mais distinções entre os alunos e unir ainda mais todos eles. O grupo começa então a perceber mudanças em seu comportamento. Criam também um símbolo, que é espalhado na forma de adesivos ou pichações por toda a cidade. Além do nome, o grupo cria uma forma de saudação, que consiste em imitar o movimento de uma onda com o braço direito em frente. Criam também um símbolo, que é espalhado na forma de adesivos ou pichações por toda a cidade.  O filme mostra de forma contundente, como as massas podem ser manipuladas”, numa referencia clara aos movimentos autocráticos, que a História registra.
De outro lado, temos a tentação de guias cegos, que Anselmo Grün, falando sobre os demônios da vaidade e do orgulho, que também nos assediam, assim comenta: “consiste em assumirmos o papel de mestres , embora nós mesmos tenhamos ainda pouca experiência. É o perigo da inflação, como com tanta freqüência é descrita por Jung. Sentimo-nos como profetas ou como reformadores do mundo, achamos que nossas próprias idéias e palavras são de importância decisiva para a salvação do próximo”. Alguém já disse que todo mundo quer ser rei, e, todo rei quer ser deus. Aqui encontro na vida do Rei pastor Davi, mencionado na Biblia, um contra-exemplo para este vício, e, que o celebrado autor Eugene Peterson, em seu titulo “Transpondo Muralhas”, assim comenta: “A ascensão de Davi foi concluída; começa seu reinado. As palavras proferidas nesse inicio são bem significativas: “Tu hás de pastorear Israel, o meu povo, e serás o seu governante”. “Com estas palavras, Davi, o pequeno pastor de Belém se torna o grande rei pastor de Israel. A designação de rei é empregada à vontade por toda a narrativa bíblica, mas não aqui, onde é significativa a preferência pelas palavras pastor e governante ou príncipe. Príncipe (Nagib em hebraico), em vez de rei, porque Israel havia acabado de experimentar uma forma abusiva de governo com o rei Saul. Davi é identificado como alguém igual a eles, que simplesmente galgou maior posição: Somos sangue do teu sangue. Não seria um governo imposto de fora, mas desenvolvido interiormente. O pastor é alguém que vive junto ao rebanho e cuida dele; o príncipe é alguém que emerge da comunidade e a lidera. Espera-se que o governo de Davi se desenvolva mantendo seus instintos pastorais e sua capacidade de liderança quando jovem. Espera-se que o governo de Davi se desenvolva preservando a sensibilidade para com as necessidades da comunidade, o que ele cultivou no deserto. Ao assumir  Davi o seu reinado sobre Israel e Judá, o que os líderes estão lhe dizendo, na verdade, é: seja nosso príncipe: não se transforme num rei com ânsia de poder, que imponha sua vontade à força sobre o povo. Seja nosso pastor: não se transforme num rei levado pelo próprio ego, que use o povo como pasto para alimentar sua auto-importância. Davi fez o que lhe pediram. Uma das principais provas é o Salmo (do pastor) 23”.
O paradigma do verdadeiro Guia, que cuida dos seus seguidores, é apresentado na Biblia:”...Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes...Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas.Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas.Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas”. (Palavras de Jesus Cristo, conforme registradas no Evangelho de João). 

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