sexta-feira, 19 de junho de 2015

AMOR QUE COMOVE



Amor que comove é uma forma de amor que move à ação consequente; eventualmente objetiva-se com – comoção, e  + ação. Diferentemente do amor piegas, voltado quase que exclusivamente para si mesmo, o amor que comove, mira no próximo (aquele que necessita urgente de ajuda, e, que está ao nosso alcance poder ajudá-lo). Envolve gestos de compaixão, dar atenção, oferecer ajuda, e, se envolver na recuperação daquele que está em situação crítica padecendo necessidade. O amor que comove distingue-se do amor puro sentimento, em poder até prescindir do sentimento de satisfação  pelo reconhecimento do próximo, ou até dos outros circunstantes, não estando também sob a pressão da obrigação, e, muito menos  na expectativa de desdobramentos favoráveis; é antes pura doação unilateral, e, isto também é amor em sua essência.
Ao abordar o assunto, pensamos, s.m.j., que duas posturas deveriam ser evitadas: aquela  inata a todos nós, sempre que nos vemos como justos, íntegros, sábios, e santos, salvo se estejamos convencidos que em princípio não somos melhores, em nossa inclinação natural para  o egoísmo, injustiça, e estupidez . De outra parte a vitimização do próximo, ou fantasiá-lo como um coitadinho indefeso, e injustiçado.
O cuidado com o próximo, foi imortalizado na figura bíblica do “bom samaritano” (transcrita ao final).  Respondendo à uma indagação de “quem é o meu próximo?”, Jesus conta uma história de um estrangeiro, pertencente a um povo hostilizado pelos habitantes locais, e, que circunstancialmente, vê um dessas pessoas abandonada ao ermo, em situação de extrema necessidade. Na atualidade, costuma ser romantizada através de pinturas retratando a figura de um viajante insuspeito, que fora assaltado por bandidos, e, abandonado à beira da estrada longínqua; nada que os primeiros cuidados, e um bom banho não pudesse logo corrigir. Deixamos de ver, entretanto, a face nua e crua da miséria, de alguém caído na sarjeta, imerso voluntariamente, ainda que por força das circunstâncias, em uma situação de degradação, às vezes até, causando asco, pelas condições de maltrapilho,  fedendo, sujo, bêbado, e incômodo.
Por oportuno, recém vivenciamos uma experiência bem comum, dentro de um ônibus cheio, na ocasião em que entra um rapaz, aparentemente drogado, mal vestido e com capuz escondendo em parte o rosto, barba longa e desgrenhada, repetindo em alta voz frases desconexas, deixando todos circunstantes irritados, e em estado de atenção, se não seria um assaltante potencial, ou mais um perturbador da ordem. O primeiro desejo, imaginamos, de todos nós em volta, era pedir ao motorista para retirá-lo antes de dar partida. Quatro paradas à frente, apenas um jovem que ia descer, percebendo que o mesmo já dormia no assento, tocou no seu ombro buscando alertá-lo se não estaria no ponto de destino.
O teólogo Julio de Andrade Ferreira compartilha uma interpretação livre da história bíblica citada acima, como “Parabola do Adolescente”, que transcrevemos: Certo adolescente caminhava pela estrada pedregosa que leva da infância à idade adulta, quando caiu nas mãos de exploradores. Estes tiraram dele a inocência e o induziram ao vício, deixando-o inseguro e insatisfeito. Casualmente encontrou-o um ministro de religião e afirmou não ter tempo de conversar, pois seu expediente estava muito apertado. Igualmente, o orientador educacional, vendo-o, alegou não poder atende-lo. Certo negociante, porém, um estrangeiro, viu-o com olhar inquieto e tristonho. Teve pena do rapaz e procurou acercar-se dele. Conversou com o garoto, deu-lhe interessante literatura, e, pondo-o no seu carro, convidou-o para ir até um acampamento para recuperação de viciados. No dia seguinte, disse ao encarregado: Preciso voltar às minhas tarefas; deixo aqui recursos para o custeio deste tratamento, por algum tempo. Peço que  o rapaz seja orientado e cuidado. Voltarei para acertar contas e conversar com ele. Quem dentre todos, te parece que se fez próximo do rapaz desorientado?”
Hoje em dia, ações coletivas desta natureza, são executadas por várias Igrejas, de diferentes credos, e entidades afins, que atuam neste difícil ministério, em paralelo com a ação governamental na execução de politicas públicas específicas.
O “Amor que Comove” também “é um dos principais ramos de ação social da I Igreja Presbiteriana de Curitiba voltado para alcançar e ajudar pessoas largadas nas ruas.  Pode ser descrito como “grupo evangelístico para pessoas em situação de rua, carrinheiros, alcoólatras e drogaditos de Curitiba, com entrega de alimentos, acompanhamentos, triagens para casas terapêuticas e principalmente, propagação da palavra de Deus. Tendo sido criado por membros no início do segundo semestre de 2012, o ministério tem como objetivo prestar auxílio a moradores de rua e formar a linha de frente no resgate social de dependentes químicos. A equipe é formada exclusivamente por voluntários, pessoas com muita energia e vontade de fazer a diferença em seu meio social. Embora o trabalho proposto tenha se provado bastante desafiador, o apoio extensivo da comunidade cristã possibilitou que o ministério crescesse com o tempo. Hoje, temos diversas frentes de atuação que abrangem desde saídas rotineiras às ruas para estabelecer novos contatos até a prestação de auxílio direto a dependentes sendo tratados em casas de acolhimento”. Dentre os casos assistidos por este ministério, registramos aqui a mobilização até a última hora, e o conforto final, testemunhado pela avó, única presença familiar por ocasião do enterro de um drogadito: “André vivia nas ruas desde os 16 anos de idade. Era dependente de drogas e álcool e seu lugar preferido de abrigo era a calçada da Igreja, onde mendigava e dormia ao relento. Expulso de casa pelos frequentes furtos e problemas que trazia para dentro do lar, André foi renegado pela família, que já não o aceitava mais e não o queria por perto. Ele vivia sozinho, sem ninguém para apoiá-lo, embora sempre encontrasse gente disposta a estender a mão. Ao final a cirrose e o câncer resultaram na sua morte no final de abril deste ano. Abandonado pela família, este morador de rua teve seu último desejo atendido pelo ministério Amor que Comove, “Ele não queria ser enterrado como indigente!”. Ainda sobre o caso, guardei a expressão de realização de minha colega, participante ativa deste ministério, pelo fato de que, pelo menos, o André tenha sido enterrado decentemente com um mínimo de honra que não teve enquanto vivo.
Comemoramos a existência destes  bons samaritanos da atualidade, ao ensejo em que convidamos para conhecerem e participarem, mesmo à distância, deste tocante ministério (www.amorquecomove.org). Destacamos  finalmente o reconhecimento do mérito (para aqueles que são salvos, assim cremos), feito por ninguém menos do que o próprio Jesus Cristo :  Então dirá ... : Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Mateus 25:34-40


P.S. Quem é meu próximo?

“... para testar Jesus, um líder religioso lhe perguntou: “Mestre, o que preciso fazer para ter a vida eterna?”. Ele responder: “O que está escrito na lei de Deus? Como você a interpreta?”. Ele disse: “Ame o Senhor seu Deus com toda a paixão, toda a fé, toda a inteligência e todas as forças; e ame o próximo como a você mesmo”. “Boa resposta!”, disse Jesus. “Faça isso e viverá.”. Querendo fugir da resposta, ele perguntou: ”Como saber que é o “próximo?”. Jesus respondeu com uma história: “Certa vez, um homem viajava de Jerusalém para Jericó. No caminho, foi atacado por ladrões. Eles o espancaram e fugiram com suas roupas, deixando-o quase morto. Pouco depois, um sacerdote passou por aquela estrada, mas, quando viu o homem, esquivou-se e simplesmente foi para o outro lado. Em seguida, surgiu um religioso levita. Ele também evitou o homem ferido. Um samaritano que viajava por aquela estrada aproximou-se do ferido. Quando viu o estado do homem, sentiu muita pena dele. Aplicou ao ferido os primeiros socorros, desinfetando os ferimentos e fazendo alguns curativos. Pôs o homem sobre o jumento em que viajava e levou-o até uma pensão. Na manhã seguinte, entregou duas moedas de prata ao dono da pensão e disse: “Cuide bem dele. Se custar mais, ponha na minha conta; pago quando voltar”. “O que você acha? Qual dos três é o próximo do homem atacado pelos ladrões”...Lucas 10:25-36. (Biblia em linguagem contemporânea)

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