terça-feira, 19 de abril de 2016

DA MISÉRIA DAS CAMPANHAS POLITICAS ou DOS AMIGOS QUE TÊM OPINIÕES DIVERGENTES

                 

   
                 
DA MISÉRIA DAS CAMPANHAS POLITICAS

DOS AMIGOS QUE TÊM OPINIÕES DIVERGENTES

Compartilho com aqueles que comemoram o fato de não terem perdido nenhum amigo em períodos conturbados, em meio a uma campanha de cunho politico, ao ensejo da convivência  com defensores tanto da situação como da oposição. De maneira nenhuma isto significa que não se tenha, também, feito uma opção pessoal, eventualmente circunstancial, mas antes, que se respeite quem pensa de forma contrária.
Não compartilho, porém, da miséria das campanhas politicas com intolerância, e tenho aversão pela estridência de militâncias organizadas com seus bordões simplórios, e, bem assim o tom beligerante de alguns, incitando o  ódio e a violência explícita; levam para o campo pessoal, qualquer crítica que antes deveria ser considerada como essencialmente impessoal. Igualmente deploro a predominância da marquetagem assim descrita pelo articulista Roberto Pompeu de Toledo, conforme publicada na Veja de 2 de março de 2016: “O marqueteiro, com seus filmes, jingles, mensagens subliminares e outros estratagemas, elevou a mentira à categoria de uma ciência e uma arte....O marqueteiro opera no sentido de camuflar ideias e posições e evitar escolhas. Quanto mais indefinido o candidato, mais chance – este é o pressuposto – de arrebanhar o maior número de eleitores, ou de desagradar ao menor número. O candidato travestido em arrebatador genérico é o ideal da marquetagem...Como operam eles próprios sem régua moral, inspiram o candidato a seguir pelo mesmo caminho – se e quando o candidato precisa ser inspirado para tal.... O marqueteiro é um membro do governo que, ao contrário de um ministro, não é responsabilizável por seus atos”.
Nesse interim, é patética a figura do politico boquirroto - pessoa que fala demais, fala sem pensar, não ouve o que fala, falastrão - e, prepotente em suas manifestações do tipo: “no meu Estado, na minha Região, quem manda sou eu”; esquecem-se do princípio básico de que deveriam estar entre os primeiros a serviço da comunidade, esta sim, o ator principal. Por oportuno soou estranho a dedicação do voto na Sessão recente do Impeachment, “pelos meus familiares”?
Tolerância, humildade e autocrítica. Destaco aqui, extratos de um texto de Martin Lloyd Jones, ao ponderar sobre o ponto de vista mundanista de vida (vis a vis do ponto de vista cristão) ilustrado, por oportuno com o “profundo interesse politico que se tem manifestado, em vários países particularmente por ocasião das eleições. Em última análise, no que consiste o interesse real? Acerca do que as pessoas estão realmente interessadas, em ambos os lados da disputa eleitoral?
Recomenda-se então algumas perguntas e ponderações que deveríamos então nos fazer:
“Quando por ocasião das disputas eleitorais, somos convocados para escolher os candidatos, nos descobrimos crendo que algum ponto de vista politico é inteiramente correto, ao passo que o outro é inteiramente errado?... Se afirmamos que a verdade está inteiramente de um lado ou do outro, e, em seguida, se analisarmos os nossos motivos, haveremos de descobrir que isso se deve ao fato que ansiamos ou por nos proteger ou por virmos a possuir alguma coisa que nos é vantajosa. Uma outra excelente maneira de nos submetermos à prova consiste em indagar, de nós mesmos, de forma inteiramente simples e honesta, por qual motivo defendemos este ou aquele ponto de vista específico. Sim, qual é o nosso verdadeiro interesse? Qual é o nosso motivo? Na realidade o que está por detrás dessas opiniões politicas que advogamos, quando queremos ser totalmente honestos e verazes conosco mesmos? Se realmente quiséssemos ser honestos, esta seria uma pergunta extremamente reveladora.”
“Até que ponto os nossos sentimentos estão envolvidos nessa questão? Quanto sentimento amargo existe, quanta violência, quanta ira, quanto desdém e quanta paixão?”
“Estamos encarando as coisas com uma espécie de atitude independente e objetiva , ou não? Qual é a nossa atitude para com todas essas coisas? Devemos estar atentos de nossas atitudes... se não são motivadas pelo preconceito, no lugar do princípio ( quando alguém toma os seus próprios preconceitos e os transforma em princípios normativos); de nossa tendência de por personalidades no lugar de princípios; de nossa tendência de imputar motivos (visto não podermos compreender por qual razão alguém defende certos princípios, podemos estar imputando motivos estranhos a esse alguém); de habitualmente, estarmos expressando nossas opiniões sem que tenhamos conhecido todos os fatos); etc.
“As distinções que se fazem no campo dos pensamentos, em relação a quase todos os assuntos, são quase inteiramente controlados por nossos preconceitos e não por pensamentos puros. Quão pouca reflexão autêntica se vê nesta terra, por ocasião das campanhas políticas... Nenhum dos protagonistas da disputa política raciocina; tão somente, eles expõem ideias preconcebidas. Quão pouca reflexão há em ambos os lados da disputa.”
“E, quão astutos nos mostramos todos, ao tentarmos explicar como alguma questão específica, que defendemos, não seja realmente desonesta.”
Desnecessário reiterar que o foco aqui não são os candidatos e afins, mas antes circunscreve-se aos amigos que têm opinião contrária, e, como tal merecem todo o respeito e estima; quanto aos políticos envolvidos numa ou noutra posição, não teria nada de bom a compartilhar. Como subproduto desta compreensão, podemos ainda ter uma ideia mais abrangente de nossos reais motivações, que eventualmente são as mesmas daqueles que têm opiniões divergentes.
Registro finalmente o que creio seja um denominador comum, em relação ao momento político em que vive o País, qual seja a esperança no combate à corrupção generalizada, correntemente materializada na cruzada cívica capitaneada pelo Ministério Público e pelo Juiz Sergio Moro.
Termino com algumas colocações da ministra Carmem Lúcia: "Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou que a esperança tinha vencido o medo. Depois, descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a justiça". "O brasileiro está muito raivoso, muito intolerante, sem conseguir ver ou ouvir o outro”. "O papel das lideranças é apelar ao entendimento e fazer a travessia que leve ao encontro. Um povo não pode ficar muito tempo flutuando, sem saber para que lado vai".


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