Na 1ª parte publiquei alguns modelos que ajudam a compreender quem somos; como tal, são antes, tentativas de representação de uma realidade complexa, passíveis portanto de aperfeiçoamentos, ou mesmo substituição por novos modelos que venham a se mostrar mais úteis neste propósito. Nesta oportunidade, desejo registrar minhas crenças afins, naturalmente objeto de fé.
SOMOS CRIAÇÃO
DE DEUS: Segundo a Biblia, Deus uniu o espírito,
semelhante a Ele, com coisas materiais (“pó da terra”), criando algo novo, o
ser humano. Não sabemos que tipo de criaturas Deus pode ter criado nos recantos
longínquos deste universo, ou se criou outros mundos, em outras dimensões que,
para nós, podem ser inimagináveis. E o homem passou a ser alma vivente; alma em grego é psyché,
psique, isto é, a nossa parte psicológica. O homem tem, assim, duas partes
principais: a material e a imaterial. Quanto à constituição da parte imaterial
tem-se duas interpretações possíveis: alma/espírito como uma só coisa, e alma e
espírito como duas dimensões distintas, sendo o espírito a esfera da comunhão
com Deus. Neste contexto, o corpo, que é a nossa parte material, através dos
sentidos, recebe “impressões”, isto é, informações que vêm do mundo físico e
são levadas para a alma. E, na contramão, o corpo influencia o mundo ao nosso
redor por meio de nossas “expressões”. Este homem, assim criado, gozava da
comunhão com Deus, seu Criador. Não obstante ele quebrou esta comunhão,
situação que a Biblia chama de “pecado original”, e, que ensejou a condição do
homem estar doravante, separado de Deus; posteriormente esta comunhão foi restaurada
através de Jesus Cristo, que é Deus. Carnal,
isto é, estar na carne, se refere a
este estado do homem separado de Deus, vivendo unicamente por conta própria. O projeto
original era, assim, da alma em comunhão com Deus, regendo o corpo, através da
vontade, do intelecto e das emoções. Um termo afim, coração diz respeito à personalidade, caráter, ou vida interior do
homem.
DEUS DOTOU-NOS
DE DUAS CAPACIDADES/HABILIDADES: “Capacidade
de percepção, ou entendimento, para discernir, ver e julgar; e, Capacidade de inclinação, na direção do que vê ou avalia; tanto
pode ser de inclinação para aceitar, quanto para rejeitar o que viu. A palavra
“afeição” refere-se à maneira em que algo nos afeta. E isto pode proceder de
duas fontes: Deus, ou “nossa carne”. Na verdade, a apreciação ou inclinação da
alma em direção a alguma coisa, caso seja intensa e vigorosa, é o que chamamos
de afetos de amor, e o mesmo grau de rejeição e desaprovação é o que chamamos
de afetos de ódio. São os afetos que motivam – dão sabor e colorido – aos atos
humanos. A natureza humana é preguiçosa, a não ser que seja influenciada por afetos
como amor, ódio, desejo, esperança e medo. Essas emoções são como fontes que
nos colocam em movimento em todos os aspectos e ocupações da vida. Se fossem
retirados, o mundo acabaria imóvel e morto. Os afetos motivarão a alma a buscar
e a se apegar ao que vê, ou a afastar a alma e se opor o que viu. Amor, desejo,
esperança, alegria, gratidão satisfação motivam a alma. Ódio, medo, raiva e
sofrimento a se afastar. Alguns afetos são a mistura de duas reações”. (Jonathan Edwards).
NOSSA NATUREZA
MORAL E O LIVRE ARBÍTRIO (de “Cristianismo
Simples”, C.S. Lewis) O que distingue,
essencialmente, o homem dos demais animais é a sua dimensão moral. No mundo, tudo
se acha sob o domínio das Leis Físicas, e, exclusivamente o ser humano está
sujeito ainda a uma outra Lei, a Moral, ou
Lei da natureza Humana, ou Regra do Certo e do Errado, mas, com uma grande
diferença: um corpo material não pode escolher se obedece ou não à lei da
gravidade, ao passo que o homem pode escolher se obedece, ou não, à lei da
natureza Humana. A Lei Moral opera apenas na área do livre-arbítrio, e de tudo
que decorre do livre-arbítrio. Quando se trata de seres humanos existem então, os
fatos (o modo como os homens procedem na prática,) e existe algo mais, (o modo
como poderiam proceder). É a Lei da inteligência, da liberdade, da escolha
responsável. Opera com base na persuasão, e não na correção. Ela não obriga
ninguém a nada, mas apresenta, à razão humana, os valores que devem ser
preferidos, e as conseqüências das opões feitas. Ela opera através de
motivações e governa por meio da razão.
Obs. Pontos de vista sobre a moral do homem: perspectiva humanista (veio na onda do Iluminismo do século
XVIII) – o homem é intrinsecamente bom, e tudo que precisa é ser ensinado; perspectiva freudiana – faz dos instintos a
base da nossa personalidade (sexo, fome, segurança e prazer são pressões que
nos moldam); perspectiva materialista – o homem é produto do seu meio, e, nasce
como uma tabula rasa, capaz de ser
totalmente moldado pela sociedade em que vive; perspectiva cristã – o homem foi
criado bom, fez uma opção equivocada, de independizar-se de Deus, tornando-se doravante, por natureza, intrinsecamente
propenso para o mal.
QUEM SOU EU ? (Poema escrito dentro da prisão, de Dietrich
BONHOEFFER, pastor, profeta
que teve a coragem de denunciar e alertar sobre o perigo nazista que a tudo
encobria; condenado à morte, suas
palavras de despedida foram: “este é o
fim, mas para mim é o começo da vida”).
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
Que saio da minha cela
Tão sereno, alegre e firme
Qual dono de um castelo.
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
Que da maneira como falo
Aos guardas, tão livremente,
Como amigo e com clareza
Parece que esteja mandando.
Quem sou eu? Também me dizem
Que suporto os dias do infortúnio
Impassível, sorridente e com orgulho
Como um que se acostumou a vencer.
Sou mesmo o que os outros dizem de mim?
Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente,
Como um passarinho na gaiola,
Sempre lutando por ar, como se me sufocassem,
Faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros.
Sedento por palavras boas, por proximidade humana,
Tremendo de ira a respeito da arbitrariedade e ofensa mesquinha.
Nervoso na espera de grandes coisas,
Em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
Cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,
Desanimado e pronto para me despedir de tudo?
Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou porventura tudo ao mesmo tempo?
Perante os homens um hipócrita?
E um covarde, miserável diante de mim mesmo?
Ou será que aquilo que ainda em mim perdura,
Seja como um exército em derradeira fuga,
À vista da vitória já ganha?
Quem sou eu?
À própria pergunta nesta solidão,
De mim parece pretender zombar.
Quem quer que sempre eu seja,
Tu me conheces, oh, meu Deus,
Sou TEU.
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