terça-feira, 1 de maio de 2012

O HOMEM, QUEM ELE É? - 2



Na 1ª parte publiquei alguns modelos que ajudam a compreender quem somos; como tal, são antes, tentativas de representação de uma realidade complexa, passíveis portanto de aperfeiçoamentos, ou mesmo substituição por novos modelos que venham a se mostrar mais úteis neste propósito. Nesta oportunidade, desejo registrar minhas crenças afins, naturalmente objeto de fé.
SOMOS CRIAÇÃO DE DEUS: Segundo a Biblia, Deus uniu o espírito, semelhante a Ele, com coisas materiais (“pó da terra”), criando algo novo, o ser humano. Não sabemos que tipo de criaturas Deus pode ter criado nos recantos longínquos deste universo, ou se criou outros mundos, em outras dimensões que, para nós, podem ser inimagináveis. E o homem passou a ser alma vivente; alma em grego é psyché, psique, isto é, a nossa parte psicológica. O homem tem, assim, duas partes principais: a material e a imaterial. Quanto à constituição da parte imaterial tem-se duas interpretações possíveis: alma/espírito como uma só coisa, e alma e espírito como duas dimensões distintas, sendo o espírito a esfera da comunhão com Deus. Neste contexto, o corpo, que é a nossa parte material, através dos sentidos, recebe “impressões”, isto é, informações que vêm do mundo físico e são levadas para a alma. E, na contramão, o corpo influencia o mundo ao nosso redor por meio de nossas “expressões”. Este homem, assim criado, gozava da comunhão com Deus, seu Criador. Não obstante ele quebrou esta comunhão, situação que a Biblia chama de “pecado original”, e, que ensejou a condição do homem estar doravante, separado de Deus;  posteriormente esta comunhão foi restaurada através de Jesus Cristo, que é Deus. Carnal, isto é, estar na carne, se refere a este estado do homem separado de Deus, vivendo unicamente por conta própria. O projeto original era, assim, da alma em comunhão com Deus, regendo o corpo, através da vontade, do intelecto e das emoções. Um termo afim, coração diz respeito à personalidade, caráter, ou vida interior do homem.
DEUS DOTOU-NOS DE DUAS CAPACIDADES/HABILIDADES: “Capacidade de percepção, ou entendimento, para discernir, ver e julgar; e, Capacidade de inclinação, na direção do que vê ou avalia; tanto pode ser de inclinação para aceitar, quanto para rejeitar o que viu. A palavra “afeição” refere-se à maneira em que algo nos afeta. E isto pode proceder de duas fontes: Deus, ou “nossa carne”. Na verdade, a apreciação ou inclinação da alma em direção a alguma coisa, caso seja intensa e vigorosa, é o que chamamos de afetos de amor, e o mesmo grau de rejeição e desaprovação é o que chamamos de afetos de ódio. São os afetos que motivam – dão sabor e colorido – aos atos humanos. A natureza humana é preguiçosa, a não ser que seja influenciada por afetos como amor, ódio, desejo, esperança e medo. Essas emoções são como fontes que nos colocam em movimento em todos os aspectos e ocupações da vida. Se fossem retirados, o mundo acabaria imóvel e morto. Os afetos motivarão a alma a buscar e a se apegar ao que vê, ou a afastar a alma e se opor o que viu. Amor, desejo, esperança, alegria, gratidão satisfação motivam a alma. Ódio, medo, raiva e sofrimento a se afastar. Alguns afetos são a mistura de duas reações”. (Jonathan Edwards).
NOSSA NATUREZA MORAL E O LIVRE ARBÍTRIO (de “Cristianismo Simples”, C.S. Lewis) O que distingue, essencialmente, o homem dos demais animais é a sua dimensão moral. No mundo, tudo se acha sob o domínio das Leis Físicas, e, exclusivamente o ser humano está sujeito ainda a uma outra Lei,  a Moral, ou Lei da natureza Humana, ou Regra do Certo e do Errado, mas, com uma grande diferença: um corpo material não pode escolher se obedece ou não à lei da gravidade, ao passo que o homem pode escolher se obedece, ou não, à lei da natureza Humana. A Lei Moral opera apenas na área do livre-arbítrio, e de tudo que decorre do livre-arbítrio. Quando se trata de seres humanos existem então, os fatos (o modo como os homens procedem na prática,) e existe algo mais, (o modo como poderiam proceder). É a Lei da inteligência, da liberdade, da escolha responsável. Opera com base na persuasão, e não na correção. Ela não obriga ninguém a nada, mas apresenta, à razão humana, os valores que devem ser preferidos, e as conseqüências das opões feitas. Ela opera através de motivações e governa por meio da razão.
Obs.  Pontos de vista sobre a moral do homem: perspectiva humanista (veio na onda do Iluminismo do século XVIII) – o homem é intrinsecamente bom, e tudo que precisa é ser ensinado;  perspectiva freudiana – faz dos instintos a base da nossa personalidade (sexo, fome, segurança e prazer são pressões que nos moldam); perspectiva materialista – o homem é produto do seu meio, e, nasce como uma tabula rasa, capaz de ser totalmente moldado pela sociedade em que vive; perspectiva cristã – o homem foi criado bom, fez uma opção equivocada, de independizar-se de Deus,  tornando-se doravante, por natureza, intrinsecamente propenso para o mal.
QUEM SOU EU ?  (Poema escrito dentro da prisão, de Dietrich BONHOEFFER, pastor, profeta que teve a coragem de denunciar e alertar sobre o perigo nazista que a tudo encobria; condenado à morte, suas palavras de despedida foram: “este é o fim, mas para mim é o começo da vida”).
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
Que saio da minha cela
Tão sereno, alegre e firme
Qual dono de um castelo.
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
Que da maneira como falo
Aos guardas, tão livremente,
Como amigo e com clareza
Parece que esteja mandando.
Quem sou eu? Também me dizem
Que suporto os dias do infortúnio
Impassível, sorridente e com orgulho
Como um que se acostumou a vencer.
Sou mesmo o que os outros dizem de mim?
Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente,
Como um passarinho na gaiola,
Sempre lutando por ar, como se me sufocassem,
Faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros.
Sedento por palavras boas, por proximidade humana,
Tremendo de ira a respeito da arbitrariedade e ofensa mesquinha.
Nervoso na espera de grandes coisas,
Em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
Cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,
Desanimado e pronto para me despedir de tudo?
Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou porventura tudo ao mesmo tempo?
Perante os homens um hipócrita?
E um covarde, miserável diante de mim mesmo?
Ou será que aquilo que ainda em mim perdura,
Seja como um exército em derradeira fuga,
À vista da vitória já ganha?
Quem sou eu?
À própria pergunta nesta solidão,
De mim parece pretender zombar.
Quem quer que sempre eu seja,
Tu me conheces, oh, meu Deus,
Sou TEU.

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