Corpo e alma – o mistério da vida. Aristóteles foi o primeiro a tentar explicar as características
próprias de todo ser vivo. Segundo ele, todo ser vivo possui uma alma que é a causa
pela qual esse ser vai mudando ou se movendo sem causa exterior aparente... Um
ser vivo parece comportar-se movido por uma causa interior, a alma, responsável
pelo crescimento, pela tendência à reprodução e até pelo pensamento. A alma
seria como o projeto interior que orientaria um copo para que se desenvolva num
sentido ou em outro. (a palavra “alma” vem do latim anima, que significa
“princípio vital”, isto é, o que faz com
que um corpo esteja animado). Descartes, diversamente do que pensava Aristoteles,
distingue claramente a alma e o corpo. As funções deste último são o resultado
de um funcionamento puramente mecânico e material. O comportamento dos seres
vivos está determinado por um mecanismo definido pelas leis da física. A
originalidade dos seres vivos já não se distingue da do resto do mundo
material. Se aceitamos o modelo animal-máquina de Descartes, somente as funções
superiores e abstratas da alma, como a linguagem ou o pensamento, mantêm o ser
humano no topo da escala da vida. Na sequência destes pensadores, pode se dizer que o ser humano jamais considerou que sua vida
dependia exclusivamente das leis da natureza. De fato, admitir que estamos determinados
somente pelas leis do funcionamento da matéria, mesmo que seja da matéria
orgânica, seria renunciar a nos considerarmos seres conscientes e livres para
decidir nosso destino. ( Atlas básico de filosofia)
Carnal e Espiritual. Em
termos religiosos considera-se carnal o ser humano fechado em si mesmo, sem
abertura para Deus. Espiritual significa o ser humano enquanto aberto para
Deus.
Com esta introdução, a
questão que desejamos refletir agora, diz respeito à duas rotas de
desenvolvimento do homem:
1.
Da extrema dependência à autoconfiança exarcebada. Costuma-se sumarizar este desenvolvimento,
dizendo-se que o homem nasce em condições de extrema dependência, dos demais -
em particular, de seus pais - e ao longo da vida adquire mais e mais
independência, que, numa forma distorcida, manifesta-se através de um extremo
egoísmo, enquanto manipulador de tudo e de todos à sua volta, em aparente
benefício próprio, atenuado às vezes, apenas em relação aos parentes próximos. Aqui
podemos ter o exemplo acabado do homem carnal.
2.
Desenvolvimento sustentável do espírito. Haroldo Walker, editor da revista Impacto, em sua edição de
setembro/outubro 2008, num artigo com este título assim comenta: “Pensamos que podemos nos virar bem com a
própria experiência, sabedoria e estratégias. Por isso, apenas quando as coisa
começam a sair do controle, e entramos em pânico, achamos o tempo e o desespero
para clamar por socorro (a Deus)... Conhecemos
muito bem as necessidades, as dores e os desejos do corpo e convivemos
constantemente com os sentimentos, as motivações e as reflexões da alma – mas, quantos conhecem a voz do próprio espírito?
Por ser algo mais invisível e intangível, muitas vezes o espírito também passa
a ser inaudível “. E, em consonância com a expressão corrente de
desenvolvimento sustentável, que descreve a estratégia que visa conciliar a
produtividade econômica com a conservação do meio ambiente, ele propõe então
uma rota de “desenvolvimento sustentável do espírito”, evitando-se os extremos:
“não precisamos ser reclusos super-espirituais,
mas também não precisamos ser cristãos materialistas”. E, cita Henri
Nouwen, no livro “Espaço para Deus”: “Jesus
não reage ao nosso estilo de vida cheio de preocupação dizendo que não
deveríamos estar tão ocupados com afazeres terrenos... nem sugere que nos afastemos
de nossos envolvimentos para viver vidas calmas, tranqüilas e retiradas das
lutas do mundo... Jesus não quer de forma alguma que deixemos nosso mundo de
muitas facetas. Antes, quer que vivamos nele, mas firmemente arraigados no
centro de todas as coisas. Jesus não fala sobre uma mudança de atividades, uma
mudança de contratos, ou até de uma mudança de ritmo. Ele fala sobre uma
mudança de coração”. Certamente que este enfoque evidencia o reconhecimento
de nossa dependência básica de Deus (por oposição à autosuficiência), a par de
nosso engajamento nos desafios do dia-a-dia; aqui temos uma caracterização do
desenvolvimento sustentável do espírito.
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