quinta-feira, 23 de maio de 2013

A VONTADE DE PODER E O CHAMADO PARA SERVIR


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“Não professo religião alguma, mas rezo todos os dias. Acredito no poder da oração. Mas as instituições religiosas, e incluo todas as ordens, estão preocupadas com política e poder”, Gilberto Gil, ex. Ministro da Cultura. A expressão não passaria de um lugar comum sobre as benesses e o apego ao poder, apenas destacada pelo brilho dos holofotes que cercam as celebridades. Publicada na Revista Ultimato (edição mai-junho 2013), que traz também um artigo sobre o “pecado da simonia”, onde se aponta o surgimento no País, de uma “teologia duvidosa, resultando de uma interpretação tendenciosa e altamente seletiva da Bíblia, consoante a qual, os principais lideres desses movimentos vêm demonstrando uma atitude em relação ao dinheiro que em nada difere do velho pecado da simonia (tráfico de poder que derivou o seu nome de Simão, o mágico, um personagem bíblico que tentou comprar dos apóstolos o poder de conceder o poder do Espírito Santo àqueles sobre os quais ele impusesse as mãos). Também podemos encontrar o vírus da vontade de poder, mesmo num pedido aparentemente inocente de dois dos mais próximos Discípulos de Jesus, para que, por ocasião da chegada do seu “Reino de Deus”, que um se sentasse à sua direita e outro à esquerda.  Na base destes, e de muitos outros registros afins, está um velho e arraigado anseio humano de “vontade de poder”, e, que conforma uma cultura, dominante na atualidade, onde a autoridade do mundo é exercida pelos detentores de poder, ensejando, o modo de raciocínio do presente século que impõe sobre o homem, o reino do mando: “manda quem pode, obedece que tem juízo”. Um dos filósofos de maior influência no mundo moderno, Nietzsche, foi um dos maiores apologistas desta cultura, sendo a vontade de potência a ferramenta que utilizou para analisar a motivação humana. Por esta ótica, ele via a “civilização, como tendo sido  criada pelos fortes, pelos inteligentes, pelos homens competentes, os líderes que se destacaram da massa. Moralistas como Sócrates e Jesus, porém, ao propagaram uma moral que protegia os fracos dos fortes, os mansos dos ousados, que valorizava a justiça em vez da força, inverteram os processos pelos quais o homem se elevou acima dos animais e exaltaram como virtudes, características típicas de escravos: abnegação, auto-sacrifício, colocar a vida a serviço dos outros. Mas, segundo Nietzsche, é a vontade de poder que permite ao indivíduo desenvolver seu potencial máximo de modo a se tornar-se um super-homem ou um ser além do homem - isto é, que se coloca acima da massa”. Levado aos seus extremos, este modo de pensar encontrou eco no nazismo que tanto mal trouxe à humanidade. Voltando ao articulista da citada revista, “a forma desse desejo de potência se modificou ao longo dos séculos, mas sua fonte é ainda o mesmo vulcão.. O que antes fazíamos “por amor a Deus” fazemos agora “por amor ao dinheiro”... É isso que no momento confere a mais elevada sensação de potência”.
Na direção oposta desta cultura do poder, destaca-se a genuína “contracultura cristã” alicerçada na vida e nos ensinamentos de Jesus Cristo, dos quais destacamos as motivações que devem embalar seus seguidores: felizes são os humildes de espírito, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os perseguidos por causa da justiça, os mansos, os misericordiosos, os pacificadores, os limpos de coração. Neste sentido, precisamos mesmo ter uma mentalidade diferente da que o mundo tem: a autoridade do mundo provém da posição que se ocupa, a do Reino de Deus vem do serviço que se presta. O modo de raciocínio do mando: “manda quem pode, obedece quem tem juízo” deve ser substituído pelo “manda quem serve, lidera quem dá o exemplo da disponibilidade para servir”.
Finalmente desejo salientar duas situações neste contexto: a primeira diz respeito à tentação, quando não inveja ocasional, em relação àqueles que aparentemente têm o poder. Neste caso podemos encontrar, um insuspeito autor de salmos da Biblia, quando confessava a tentação, que “sem dúvida, Deus é bom – bom para os bons, bom para os de bom coração. Mas quase o deixei escapar; quase deixei de ver sua bondade. Porque eu estava olhando para o outro lado, observando as pessoas que alcançaram o topo, invejando os ímpios que tinham sucesso, que não têm com o que se preocupar e nenhum problema a resolver... Os ímpios estão com tudo: alcançam o sucesso e ajuntam riquezas... Até que entrei no santuário de Deus...e compreendi”. Na segunda situação, destaco, os muitos registros históricos, de uma animosidade dos transtornados pela cultura do poder, em relação àqueles que se orientam pela contracultura cristã. Aparentemente, pelos valores que defendem, de paz e amor ao próximo, o senso comum é de que estes pacifistas, seriam no mínimo objeto de admiração. A realidade é bem outra, e a história mostra as perseguições movidas contra tais, com destaque para os mártires do cristianismo. Não é por outra que, entre os bem-aventurados, Jesus adverte, “considerem-se abençoados sempre que forem agredidos, expulsos ou caluniados para me desacreditar...”.
P.S. por oportuno, acabo de ler, e, recomendo, o romance “O cristo recrucificado”, de Nikos  Kazantzakis (mesmo autor de Zorba, o grego), que mostra um quadro bem composto desta conjuntura hostil, aqui dirigida contra homens simples,  escalados para participarem na encenação da “Paixão de Cristo”, e, que passam a vivenciar os valores da contracultura cristã, sendo doravante objeto da hostilidade e perseguição de sua gente.


Comentário do mano, Pr. Carlos Alberto: Parabens !
Muito bem colocado e muito oportuno. A INVEJA é o pecado mais antigo. Esteve na base da rebelião de Lucifer e o fez tornar-se Diabo(queria o trono de Deus). Esteve na base do pecado de Adão e Eva(queriam o conhecimento de Deus) e está por traz de adultérios, assassinatos, roubos, maledicencia, entre outros. Enviado via iPhone


Um comentário:

  1. Exatamente! E o pior é que em uma sociedade baseada na competição o poder (no sentido mais genérico do termo) é uma condição para a sobrevivência. Quando impera a lei do mais forte, o poder é naturalmente o primeiro e principal objeto de desejo. De modo que aceitar a vocação para servir é, antes de tudo, aceitar a morte. É decidir abrir mão da própria segurança, para ser devorado por aqueles a quem se serve. Foi assim com Cristo...

    PS: Não conhecia ainda este livro do Nikos, só "A Última Tentação de Cristo". Acho que ele tem umas sacadas interessantes, mas não gostei da cristologia dele.

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