Uma foto que pesou mais do
que milhões de palavras e discursos, mostra de forma
inequívoca, que há algo de muito errado no mundo. A foto mostra o corpo sem
vida de uma criança, boiando numa praia, após uma tentativa frustrada de sua
família de fugir da morte, e das atrocidades de terroristas que assolam o País,
e que impactou meio mundo, derretendo corações até então insensíveis, protegidos
dentro das fronteiras de seus respectivos países, mais ou menos distantes do
cenário onde se desenrola o drama dos refugiados sírios. Valeu a comoção pública
mundial, ainda que tardia, pois revela que, por baixo desta camada de aparente
insensibilidade e pragmatismo personalista, ainda há corações capazes de irem
além das lágrimas!
Poderia
ter sido mais um flash que acompanha
as tristes estatísticas, infelizmente comuns e crescentes em nossos dias, objeto
de noticiários que diariamente nos invadem a atenção e, que de tão frequentes,
chegam quase a insensibilizar consciências, com o argumento que é mais um problema
de outros, e, já temos os nossos. Neste contexto a reportagem da Veja destaca
que “somente
neste ano, cerca de 2.600 pessoas morreram tentando chegar à Europa pelo mar,
das mais de 300.000 que encararam a travessia. Nos últimos dias, as multidões
atravessando fronteiras com pouco mais do que a roupa do corpo em trens, a pé ou de bicicleta...” (1). Também
a revista Ultimato, em sua edição de setembro/outubro de 2015, mostra o nº expressivo
de pessoas deslocadas com guerra no Mundo, que, elevou-se de 37,5 milhões em
2005, para 43,7 milhões em 2010, 59,5 milhões em 2014.
Do outro lado, a recepção
beligerante de alguns, nos países de destino almejado pelos refugiados, fruto
de um raciocínio pragmático e frio: “Os que sobreviveram à travessia não são
bem-vindos na Europa. Eles são muitos. São pobres. Muito diferentes. São até vistos
como ameaça: “Os que estão chegando cresceram em outra religião e representam
um cultura radicalmente diferente. A maioria deles não é cristã, mas muçulmana.
A Europa tem uma identidade enraizada no cristianismo” (Viktor Orban,
Primeiro-Ministro da Hungria) (1). Por oportuno, uma das
bandeiras de um candidato em evidência nas pesquisas, para a próxima eleição
presidencial nos EUA, é ostensivamente restritiva em relação aos imigrantes
ditos ilegais, e que, se eleito, já “deixou
claro que rescindirá as ordens executivas ... que impedem a expulsão tanto dos
jovens imigrantes ilegais que chegaram ao país sendo crianças (os chamados
"dreamers", ou "sonhadores"), como os pais de cidadãos
americanos ou de filhos com status legal”.
Por fim uma ponderação nua e
crua, do articulista, na referida revista: “Os europeus têm boas razões para reagir defensivamente.
Os imigrantes não têm alternativa. A situação em que os dois lados de um
conflito possuem razões legítimas e lutam para impô-las à força tem o nome de
tragédia” (1). E aqui, complementamos, nesta situação onde aparentemente
todos têm razão, e, por outro lado, ninguém é indesculpável, o Mal encontra
terreno propício onde deita raízes.
A
questão de fundo, que procura envolver Deus, e que também foi destaque na Capa da citada revista - “Deus, sendo
bom, fez todas as coisas boas. De onde então vem o mal? (Santo Agostinho, nas
Confissões). O mal (e o bem) vem do homem? (Czeslaw Milosz, Poeta Polonês
ganhador do Nobel de Literatura) (1)
Teodiceia,
palavra
que se deriva de dois vocábulos gregos que significam “divindade” e “justiça”, diz respeito à discussão do problema da
existência do e de sua relação com a bondade de Deus. Ele pode ser expresso num dilema famoso: ou
Deus é capaz de impedir o mal e não o quer, ou Ele quer impedi-lo e não é
capaz. Se o anterior for verdade, Deus não é misericordioso; se o último, Ele
não é onipotente. Outra versão similar: Se Deus é perfeitamente bom, Ele tem a
vontade de remover o mal. Se Deus é perfeitamente poderoso, Ele é capaz de
remover o mal. Mas, como o mal não tem sido removido, ou Deus não tem vontade
ou é incapaz de remover o mal. Portanto, ou Deus não é perfeitamente bom, ou
Ele não é perfeitamente poderoso”.
Alinhado
com esta última, destacamos a concepção do escritor consagrado Harold Kushner,
que “servindo como rabino de uma pequena cidade, sempre envolvido em levar
consolo às pessoas visitadas pela dor e pelo sofrimento, no instante, em que
soube que seu filho Aaron, de três anos de idade, morreria de uma doença rara
no início da adolescência, ele se deparou com a mais importante e mais terrível
questão que alguém pode enfrentar: “Por que coisas ruins acontecem às pessoas
boas?”, e que ensejou seu livro bestseller
(2). O que ele propõe é que, “Não é Deus que causa a tragédia, a doença, o
sofrimento. Existe uma “aleatoriedade” no universo e a natureza é moralmente
cega. Um terremoto não distingue entre pessoas boas e ruins. Nem o câncer. Nem
o derrame cerebral. Nem a progéria. Não são “atos de Deus”. Deus nos dá força, coragem e paciência para
enfrentarmos os golpes da vida. Deus não é nosso adversário, mas sim nosso
aliado. Deus é a fonte do nosso poder de suportar, nossa capacidade de superar
e nossa determinação de continuar” (2).
Uma resposta fundamentada na
Biblia, e que
compartilhamos, tem como postulados: “Deus
é absolutamente bom; Deus é absolutamente soberano; O Mal é absolutamente mau.
De
onde vem então o mal? Como veio a existir o mal? Quais são suas origens
primeiras? Porque existe o mal? tudo não poderia ser feito sem a possibilidade
do mal? As respostas para tais questões não são encontradas na Biblia. O
mistério permanece oculto. O mal não está lá para ser entendido, mas para ser
resistido e, no final, expulso. O livro de Genesis (cap. 3) não nos fala sobre
a origem do mal em si. Em vez disso, descreve a entrada do mal na vida e na
experiência humana. O mal parece irromper na narrativa bíblica já estabelecido,
sem explicações ou racionalização.
A Biblia nos compele então a
aceitar o mistério da existência do Mal, um mistério que nós, seres humanos não
podemos entender ou explicar. Temos que nos habituar com o entendimento de que Deus escolheu
não explicar a origem do mal; em vez disso, escolheu chamar minha atenção para
aquilo que Ele tem feito para lutar contra o mal e destrui-lo.
Será
que devemos então simplesmente engolir perguntas desesperadas, aceitar que o
mal é um mistério e calar a boca? Certamente que faremos mais do que isso:
- Nós
nos afligiremos; prantearemos, lamentaremos, protestaremos, gritaremos de
dor e raiva, e clamaremos “até quando esse tipo de coisa vai continuar?
- Lutaremos
contra ele com lamento, aflição, raiva, desgosto, e protesto.
A
Biblia permite que lamentemos, protestemos e fiquemos irados diante da
ofensividade do mal. A Biblia nos determina a combatermos o mal, rejeitarmos o
mal e resistirmos a ele. A Biblia nos ensina a orarmos para que Deus nos livre
do mal.”
Se
a causa primária, a origem do mal, não está ao nosso alcance conhecer já, não obstante, é bem conhecida a causa imediata
dos males morais, isto é, daqueles que decorrem do mal uso do livre arbítrio (liberdade
de fazer a nossa vontade):o pecado ou a
rebelião contra Deus; pecado é essencialmente fazer algo em detrimento da
vontade de Deus. Neste sentido, a maioria do sofrimento é resultado do pecado e
da maldade humanos. Esta é a dimensão moral do mal, em que os seres humanos
sofrem em termos e circunstâncias amplas porque são pecadores. O mal moral
seria o sofrimento e a dor que encontramos no mundo, e que está de alguma forma
relacionado com a maldade dos seres humanos, direta ou indiretamente. Esse é o
mal visto em coisas que são ditas e feitas, coisas que são perpetradas,
causadas ou empreendidas pela ação (ou falta de ação) no contexto da vida e da
história da humanidade.” (3)
“Quando o jornal London Times solicitou a diversos
escritores que mandassem ensaios sobre o assunto “O que há de errado
com o mundo?”, Chesterton (4) respondeu mandando a carta mais curta
e direta de todas:
“Prezados Senhores
Eu.
Atenciosamente G.K.
Chesterton”
(1)
Veja, de 09 de setembro de 2015
(2) “Quando coisas
ruins acontecem às pessoas boas”, de Harold Kushner.
(3) “O Deus que eu não entendo”, de Christopher J.H. Wright
(4) Chesterton, 1874-1936, renomado escritor, poeta,
narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, teólogo, filósofo,
desenhista e conferencista britânico
Comentários do Pr. Carlos Alberto: Penso que o Mal é decorrência da ausência do Bem, como as Trevas se estabelecem pela ausência da Luz. Lúcifer não é o criador do Mal mas uma de suas vítimas tornado seu agente. Sendo Deus a fonte de todo o Bem o afastamento de Deus trará como inevitável, e na mesma proporção o Mal. Não confundir o Mal (essência da maldade) com o mal (adversidade), muitas vezes advindo de Deus. “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas”. Isaias 45:7
ResponderExcluirDo meu sobrinho e futuro Pastor Samuel: “quanto a origem do mal creio que em Isaias 14:11-15 e Ezequiel 28:13-19 temos alguma pista. Porém creio que antes de saber de onde vem o mal é bem mais importante TER CERTEZA de onde ele não vem. Para que possamos recorrer a solução sabendo que ele não é e não pode nunca ser a causa. Deus é luz e nEle não há treva ALGUMA (1 João 1.5). Eu vim para dar vida e vida em abundancia o ladrão vem para roubar matar e destruir (João 10:10). Os atores e autores forma bem definidos. Alguém só pode dar o que tem. Deus é BOM!
ResponderExcluirE, em outro comentário, mais à frente: “Na verdade eu não quis dizer que satanás é a origem do mal, muito menos dar a ele qualquer importância (visto que é um inimigo já derrotado - Colossenses 2:14-15), mas sim que, como descrito em Isaias e Ezequiel, Lucifer havia sido criado para um propósito (bom) e decidiu, por livre escolha, sair do propósito pra o qual foi criado. Nesta fuga da vontade e propósito do criador achando que se daria melhor fora dessa vontade, sofreu a consequência (O Mal). Da mesma forma o homem que havia sido criado a imagem e semelhança do criador, para viver em comunhão com Ele, ao sair desse propósito de dependência e comunhão, por conta da desobediências sofre também a consequência (O Mal), afastado da comunhão com Deus (Adão onde você está? Gn3:9). Portanto entendo sim que o Mal é consequência da falta de comunhão com a fonte de vida (Deus), por conta do pecado. O desdobramento dessa falta de comunhão pode ter vários aspectos em todas as áreas do homem (Espírito, Alma e corpo - isto inclui moralidade) como podemos observar no capítulo 3 de Gênesis. A bíblia diz que Deus é amor e esse não é um tipo de amor humano, mas um amor que não impõe ser amado e que não procura seus próprios interesses (1Corintios 13) e sim o interesse do ser a quem se ama. Se houvesse imposição de amar, esse seria um amor contestável, visto que Ele é Justo. Portanto creio sim que o mal vai sempre está presente onde exista um desalinhamento do homem com a vontade de Deus, que é comunhão do homem com Ele e dEle com o Homem.
Eu não pretendi colocar culpa em ninguém, apenas deixar claro que Deus não está envolvido com isso, nem se utiliza desse artifício para coisa alguma, como infelizmente muitos ainda insistem em dizer (- Esse mal é da vontade de Deus. Ou, - Deus está tentando falar e ensinar algo com isso.). Deus não utiliza armas e estratégias do inimigo.
Jesus Cristo é a expressão exata do Seu ser (Hebreus1:2-3), que nos revela com clareza, como ninguém antes O havia descrito ou testemunhado, sem sombra alguma, o caráter (João7:14-9), o discurso (João 12:49-50), a vontade (João 6:38 - Atos10:38) e as obras do Pai (João 14:11). Continuo em afirmar: - Deus é Inocente! Eu conheço o meu Pai Celestial. Deus é a solução, não o problema. Cristo em nós é a esperança da Glória. Jesus é a solução da crise de valores.