Sobre pessoas inesquecíveis, compartilho
o pensamento do meu caro amigo e médico, Dr. José Luiz Pires (*): “Penso
que cada ser humano é uma síntese
constituída de milhares de pessoas que passam a fazer parte dele. Desses
milhares, um certo número tem uma parte mais significativa nesse
universo-síntese. Entre os que são contados nesse certo número, estão alguns
que, por uma razão ou outra, nos alcançaram de modo mais direto. E nestes, que
nos alcançaram de um modo mais direto, estão os que atuaram em diferentes
áreas, épocas e aspectos da nossa vida.”
Somos
em grande parte, moldados pelas interações com outras pessoas, desde a família,
amigos, colegas de trabalho, professores, líderes espirituais, etc. isto sem
contar de que desfrutamos crescentemente dos avanços tecnológicos propiciados
por muitos outros, ao longo da história; em resumo nossa interdependência, mostra
o quanto somos devedores a tantos, em
meios aos quais naturalmente destacamos aquelas pessoas inesquecíveis, que nos
tocaram de forma diferenciada e marcante.
Esta multiplicidade de influências
converge então para uma singularidade, que é a vida de cada ser humano
consciente. Na composição de cada um entram ingredientes comuns,
mas que, em medidas e condições diferenciadas, em função de circunstancias e do
próprio desenvolvimento de cada um, no seu conjunto enseja um ser único; ninguém
é exatamente igual ao outro. “Cada homem traz algo de novo ao mundo, algo que ainda
não existia, algo sério e único. A obrigação de cada homem... é saber refletir
sobre seu caráter único em seu modo de ser e sobre o fato de nunca ter existido
ninguém igual sobre a terra. Se alguém igual já tivesse habitado a terra, não
precisaria estar aqui.” Para Viktor Frankl, sábio criador da
Logoterapia (corrente da Psicologia centrado na busca de sentido, põe ainda em
evidência a importancia de cada um: “O ser humano é um acontecimento único em todo o cosmo,
por esse motivo ele mesmo se constituiria como um valor em si mesmo e também
seria portador de uma dignidade inalienável. Como um ser irrepetível,
nescessita encontrar e realizar um sentido para a sua vida.”
Por sua vez, a singularidade
desenvolve-se não de forma autocentrada, mas antes pela orientação
para o outro: ainda Viktor Frankl, “compreeende que
a meta mais nobre do ser humano seria a autotranscedência, fenômeno
especificamente humano que significa que quanto mais a pessoa encontra-se
voltada para algo ou alguém, mais humana será”. “Frankl
cita os ensinamentos de Hillel, que sintetizou uma profunda sabedoria de vida
por meio de três perguntas: se eu não o faço, quem o fará? e se eu não o faço
agora, quando se fará? e se só para mim o faço, o que é que eu sou afinal? Para
ele, a primeira pergunta se remeteria à unicidade do sentido e da pessoa
humana. Assim o sentido é intransferível, pois seria dado para um determinado
sujeito. Já a segunda pergunta se relacionaria com a transitoriedade do
sentido; se o ser o humano o realiza, realiza para sempre, salvando na
perenidade do passado. Por fim, a última pergunta despertaria a
autotranscedência do ser humano, desviando o olhar de qualquer vantagem pessoal”.
Isto
destaca a insensatez do egoísta, que se imagina no centro de tudo, em
detrimento dos demais, como um poço que só recebesse água. É típico do egoísta,
o pensamento de que “tudo que tenho é meu, me pertence por direito, e, afinal não
devo nada a ninguém.
Ser, ou, tornar-se também
inesquecível para outros, faz parte afinal de nossa vocação
comum, aquilo para o qual fomos feitos. Aponta
para a transcendência de nossas
ações, onde tudo afinal se resume no amor: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas
forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás
o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” Marcos 12:30,31. Neste resumo do próprio Deus, criador de
tudo, podemos encontrar aqueles para os quais devemos nos tornar pessoas
inesquecíveis: Deus, em primeiro lugar; em seguida, para com o nosso próximo, na
mesma medida de nós mesmos.
(*) escreveu “Sob a Mão de
Deus”, “um relato de casos vividos por um médico numa região pioneira do País.
Tabalhando em condições precaríssimas, esse cristão no seu labor profissional,
foi levado a experimentar, de modo muito real, a mão de Deus – sábia, poderosa
e cheia de amor, repousando sobre a sua”.
Fonte: A presença não ignorada de
Deus na obra de Viktor Frankl, de Thiago Antonio Avellar de Aquino.
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