sábado, 26 de janeiro de 2013

A INSATISFAÇÃO LATENTE E A ALEGRIA DETERMINADA



Passados poucos dias de comemorações do final de ano, oportunidade em que conjugamos em uníssono, votos de muita paz e alegria, dentre outros, e, já começa a desabrochar aqui e ali, raízes de uma insatisfação latente. Descontada a insatisfação com os outros (um risco inerente a qualquer relacionamento humano, mas que pode ser agravada se levado a termos muito pessoais), e, com as circunstâncias, remanescem raízes de uma insatisfação latente para conosco mesmo, que num  extremo, vem associado com uma baixa auto-estima, e pode levar a depressão. A esta se referia Pascal: “Nada é tão insuportável ao homem quanto estar em pleno repouso, sem paixões, sem afazeres, sem divertimentos, sem aplicação. Ele sente, então, o seu nada, o seu abandono, a sua dependência, a sua impotência, o seu vazio. Logo emergirá do fundo de seu ânimo o tédio, a obscuridade, a tristeza, a aflição, o desgosto, o desespero”. A insatisfação latente, até certo ponto é também fonte de criatividade, conforme destacou  na atualidade, o psicólogo e professor, Jesuíta Franco Imoda, que “além da privação de não se ter o que se quer, o indivíduo não apenas não possui aquilo que deseja, como não é aquele que quer ser (relação de tensão entre ser e dever ser, real e ideal, um mundo de aspirações infinitas e um mundo de dados e fatos)...A história humana, individual e coletiva ...  está toda marcada por este atributo de insatisfação que, fazendo experimentar a privação, impulsiona a procura por sempre mais. E faz parte da sabedoria popular a ponderação de que, quanto mais se tem, mais se quer ter, e de que não há limites para o desejo humano. A posse, o sucesso e a realização das mais altas metas humanas não põem fim à busca e à inquietude do coração”. Também C.S.Lewis, relaciona a insatisfação com a busca da verdade: “na religião, da mesma forma como na guerra e tudo o mais, satisfação é uma das coisas impossíveis de se conquistar enquanto procuramos por ela. Mas quando você busca a verdade, é possível que ache satisfação no final. Se você busca a satisfação, não encontrará nem a satisfação nem a verdade – só o que encontrará será um sabão escorregadio e falsas esperanças. Enfim, encontrará apenas desespero”. (de Mero Cristianismo). Santa insatisfação, é aquela que o apostolo Paulo identifica em si mesmo, uma raiz irrigada pelo conflito na alma, entre nossa velha natureza carnal, e a nova natureza redimida, e que ele colocou nos seguintes termos: o que eu faço - o que eu detesto,  o mal que não quero; o que eu não faço - o bem que eu prefiro.
Na contramão da insatisfação tem-se a alegria determinada. É uma santa alegria, aquela que o mesmo apostolo nos exortou: “alegrai-vos”! Até mesmo na adversidade, “tende por bom ânimo o sofrer aflições, pois a aflição produz perseverança....”. Vale ressaltar que ele o faz, em meio às inúmeras perseguições, acusações e prisões, que padeceu, e que assim resumiu: “Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Fui flagelado três vezes; uma vez fui apedrejado”. Certamente que esta alegria não é uma emoção que devemos buscar, ou uma virtude a ser cultivada, e, não se reduz a um sentimento que vai e vem, de acordo com as circunstâncias. Assim as Escrituras não nos dão ordens quanto ao que devemos sentir. Nem sempre podemos decidir ter essa ou aquela emoção. Alegrar-se é assumir a postura de que vale a pena viver.” Deus não ordena que nos alegremos por todas as situações, mas em todas elas. A Biblia não diz “sinta-se feliz”, mas antes adote uma postura alegre de viver. Em vez de deixarmos nosso humor oscilar de acordo com as circunstâncias, precisamos reconhecer que Deus se acha por cima do que acontece, e está ao nosso lado e cuida de nós em meio a tudo por que passamos”. Em certa ocasião, Paulo afirmou que estava entristecido, mas sempre alegre. Alegria determinada é uma decisão, um testemunho, uma terapia, e um hábito que podemos cultivar”. É com este espírito que podemos celebrar cada amanhecer, repetindo com o salmista:Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” .

Um comentário:

  1. Péricles:
    Admiro como v. descobre temas sempre pertinentes, coisas pelas quais nós passamos, sentimentos que muitas vezes nos afligem mesmo. Acho que na fase em que estou, aposentada, a atividade mais importante é a da igreja, dos ministérios aos quais me dedico. Como tudo parou nas férias, fica mesmo aquela convivência só com a gente mesmo, e a tal insatisfação latente!
    Quanto à alegria determinada, é preciso que a gente esteja mesmo muito em comunhão com Deus! É uma batalha...
    Vou me prender às suas últimas palavras. Obrigada.
    Ieda.

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