segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

EDIFICADOR DE PONTES


Alguém já disse, que muitas pessoas,  em boa parte do tempo, quando falam, estão apenas jogando palavras ao vento, sem nenhuma conseqüência, falando por falar, mas, na realidade, nada comunicando. Modernamente, com a participação da televisão, podemos acrescentar que estariam, apenas, repetindo chavões da mídia. O poder das palavras é, não obstante, destacado, quando se compara  a língua com um leme, capaz de dirigir um grande transatlântico, ou, com uma tocha de fogo capaz de incendiar uma floresta, assim como o autor bíblico: “... nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo.Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa... Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo; ... “.
Aqui chamo de palavras grávidas aquelas que, juntamente com a expressão verbal, carregam subjacentes, pensamentos, sentimentos e emoções intencionadas, as quais, num espectro negativo são capazes de contaminar quem as pronuncia (“o que contamina o homem é o que sai da sua boca”), ou, por outro lado, positivamente, edificar aquele a quem é dirigida. Exemplos da primeira são a calúnia, as agressões verbais, que uma vez vocalizadas, são espalhadas pelo vento da discórdia, tornando praticamente impossível voltar-se atrás; e, da segunda uma palavra de estímulo, o elogio sincero. No dia-a-dia, todos já provamos o veneno de uma crítica injusta, na hora e no lugar errados, e, por outro lado, o bálsamo de uma palavra amiga, na hora e no lugar certos.
A dignidade das palavras é assinalada por Joshua Heschel (um de meus autores preferidos): “As palavras são mais que sinais, mais que combinação de letras. As letras são unidimensionais e só têm uma função: representar os sons. As palavras, pelo contrário, têm plenitude e profundidade, são multidimensionais. É verdade que usamos as palavras para representar as coisas ou como veículos de nosso pensamento e idéias, para nos comunicar com os outros...Distingamos entre substância e função, entre a natureza essencial de uma palavra e sua função, o modo de como nós a usarmos ...”.E destaca o uso das palavras na oração: “o caráter do ato da oração depende da relação recíproca entre a pessoa e a palavra. Não basta, por isso, articular uma palavra. A não ser que uma pessoa entenda que a palavra é mais forte que a vontade, a não ser que saibamos abordar a palavra com toda a alegria, toda a esperança e toda a tristeza que ela possui, dificilmente haverá oração. As palavras não devem cair de nossos lábios como folhas mortas de outono. Elas devem elevar-se como aves do nosso coração para o espaço infinito da eternidade. Quando o coração, cooperando com as forças da fé contra o tumulto e a ansiedade e o barulho exterior, consegue manter viva a tranqüilidade e a solidão interior, sentimos como as palavras podem ser grandes.”
Uma bela comparação para a importância das  palavras, encontro na imagem de um edificador de pontes; pontes pela qual transitamos ao nos comunicar. Por esta ponte das palavras, circulam além de pensamentos, as cargas das emoções e dos desejos associados. Ao compartilhá-la, o sábio pontifica: Tomo alguém pela mão e conduzo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um dialogo” (Martim Buber). Algumas palavras grávidas, depois,  passam a fazer parte do acervo comum da humanidade, tal como no discurso de Luther King: Eu tenho um sonho!”.
Finalmente, gostaria de também ser reconhecido, como prestador de serviço dentre os  edificadores de pontes, da amizade, da paz ( “felizes os pacificadores, porque assim, serão chamados filhos de Deus”).

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