quinta-feira, 19 de março de 2015

O PEDIDO DE SALOMÃO



O famoso rei Salomão, o terceiro rei de Israel, governando durante cerca de quarenta anos (segundo algumas cronologias bíblicas, de 1009 a 922 a.C. ) passou à história por sua notória sabedoria. Sua fama chegou tão longe que abalou até à rainha da distante Sabá  - a localização deste reino pode ter incluído os atuais territórios da Etiópia e do Iêmen - a empreender uma longa viagem para comprovar a veracidade dos fatos. Ocorre que a origem desta sabedoria, consoante registro bíblico, foi uma resposta de Deus a um pedido acertado de Salomão, por ocasião de sua elevação ao trono, quando, durante à noite, em sonhos, Deus lhe fala: “pede-me o que queres que eu te dê ”, e, Salomão pede então sabedoria para governar bem o povo. Isto é fato, mas não é toda a verdade. Na realidade, o pedido de Salomão foi: “dá, pois, a teu servo coração compreensivo para julgar o teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal.
“A palavra traduzida comumente por sabedoria, é, antes, um coração compreensivo. “A palavra compreensivo, em hebraico, é “shama”, que significa ouvir, escutar, obedecer. Shama é um conceito muito diferente de sabedoria e é uma das mais belas atitudes e que mais agradam a Deus. Sabedoria consiste de um acúmulo de conhecimentos e experiências reunidos dentro de um ser humano. Para exercitar sabedoria, a pessoa precisa vasculhar seu interior à busca de respostas, extraindo do seu reservatório fatos, valores, sistemas, abordagens e ensinamentos recebidos de outrem, além dos frutos de sua própria educação, prática, percepções e experiências de vida armazenados ao longo de sua vida. Sabedoria, de acordo com a bíblia, tem a ver com habilidade, sagacidade e prudência; é a correta aplicação do conhecimento. A memória de ocasiões em que fomos tolos ou vítimas de tolice, resultando em grande prejuízo pessoal, faz-nos prestar profundo respeito à sabedoria, dando-lhe o lugar de honra que merece. A sabedoria é um valioso recurso,... entretanto, em hipótese alguma serve como substituto para um coração que ouve e, sozinha, a sabedoria pode até ser um empecilho...” vide um coração soberbo, inchado de conhecimentos adquiridos.
O coração que ouve, que Salomão pediu, envolve humildade e dependência de Deus:  “sou um menino pequeno que não sabe como sair, nem como entrar”. Com humildade, o coração “shama” confessa ignorância e busca resposta, não a partir dos recursos pessoais de sabedoria, mas, sim, com base num relacionamento dinâmico de dependência com o próprio Senhor Jesus, como o Deus Vivo. A sabedoria, num certo sentido, é estática, completa em si mesma e autoconfiante; um coração que ouve é dinâmico e dependente de Deus”.
(Fonte: Um Coração que Ouve, artigo de Eric Mumford, publicado na Revista “Impacto” nov/dez 2005).
Um exemplo de julgamento de Salomão encontramos no relato bíblico da disputa entre duas mães, uma das quais o filho tinha nascido morto, e o da outra vivo. No julgamento, Salomão vivencia um espirito de empatia com a mãe verdadeira, a qual, até então desconhecia. Assim, ao invés de arrazoar com base em um questionamento e provas, baseado em seu cabedal de conhecimentos e experiências pessoal, o rei Salomão transfere o foco da decisão para ouvir a reação de cada mãe ante uma proposta que poria em risco a vida da criança, teste que a verdadeira mãe jamais aceitaria passar, mesmo em detrimento da perda do filho para a outra mãe impostora. 
Com Salomão, considerado um dos homens mais sábios que já existiu,  aprendemos a lição de que ter um coração que ouve, humildade (“a verdadeira humildade significa respeito aos demais”), e dependência de Deus (não implica que o governo deve ter uma religião, antes professamos a fé reformada que faz separação entre Igreja e Estado), estão entre as principais qualidades de um governante que faz história, para o bem de todos e felicidade geral da Nação.

P.S. uma lição atual sobre a oportunidade de ouvidos que ouçam, os clamores dos movimentos sociais em curso em nosso País, com destaque para as manifestações recentes em praça pública.

Registros tal como estão na Biblia:
O PEDIDO DE SALOMÃO. “E em Gibeom apareceu o Senhor a Salomão de noite em sonhos; e disse-lhe Deus: Pede o que queres que eu te dê. E disse Salomão: De grande beneficência usaste tu com teu servo Davi, meu pai, como também ele andou contigo em verdade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face; e guardaste-lhe esta grande beneficência, e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como se vê neste dia. Agora, pois, ó Senhor meu Deus, tu fizeste reinar a teu servo em lugar de Davi meu pai; e sou apenas um menino pequeno; não sei como sair, nem como entrar. E teu servo está no meio do teu povo que elegeste; povo grande, que nem se pode contar, nem numerar, pela sua multidão. A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este teu tão grande povo? E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, de que Salomão pedisse isso. E disse-lhe Deus: Porquanto pediste isso, e não pediste para ti muitos dias, nem pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos; mas pediste para ti entendimento, para discernires o que é justo; Eis que fiz segundo as tuas palavras; eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti igual não houve, e depois de ti igual não se levantará. E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória; de modo que não haverá um igual entre os reis, por todos os teus dias”.1 Reis 3:5-13
UM JULGAMENTO DE SALOMÃO. “Então vieram duas mulheres prostitutas ao rei, e se puseram perante ele.E disse-lhe uma das mulheres: Ah! senhor meu, eu e esta mulher moramos numa casa; e tive um filho, estando com ela naquela casa. E sucedeu que, ao terceiro dia, depois do meu parto, teve um filho também esta mulher; estávamos juntas; nenhum estranho estava conosco na casa; somente nós duas naquela casa. E de noite morreu o filho desta mulher, porquanto se deitara sobre ele. E levantou-se à meia-noite, e tirou o meu filho do meu lado, enquanto dormia a tua serva, e o deitou no seu seio; e a seu filho morto deitou no meu seio. E, levantando-me eu pela manhã, para dar de mamar a meu filho, eis que estava morto; mas, atentando pela manhã para ele, eis que não era meu filho, que eu havia tido. Então disse a outra mulher: Não, mas o vivo é meu filho, e teu filho o morto. Porém esta disse: Não, por certo, o morto é teu filho, e meu filho o vivo. Assim falaram perante o rei. Então disse o rei: Esta diz: Este que vive é meu filho, e teu filho o morto; e esta outra diz: Não, por certo, o morto é teu filho e meu filho o vivo. Disse mais o rei: Trazei-me uma espada. E trouxeram uma espada diante do rei. E disse o rei: Dividi em duas partes o menino vivo; e dai metade a uma, e metade a outra. Mas a mulher, cujo filho era o vivo, falou ao rei (porque as suas entranhas se lhe enterneceram por seu filho), e disse: Ah! senhor meu, dai-lhe o menino vivo, e de modo nenhum o mateis. Porém a outra dizia: Nem teu nem meu seja; dividi-o. Então respondeu o rei, e disse: Dai a esta o menino vivo, e de maneira nenhuma o mateis, porque esta é sua mãe. E todo o Israel ouviu o juízo que havia dado o rei, e temeu ao rei; porque viram que havia nele a sabedoria de Deus, para fazer justiça”. 1 Reis 3:16-28

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