terça-feira, 23 de março de 2010

Ser mais pessoa e menos personagem


Escrevendo uma resenha sobre o escritor Paul Tournier intitulado “O poder da relação pessoal”, outro autor, J.K.Miller destaca as alternâncias, normais em nossas vidas, entre o que chama de “relações de um personagem”, e, de “relações de pessoa”. O diferencial é o papel conferido aos segredos que afetam no desenvolvimento da pessoa, desde a mais tenra infância.
Para o autor citado “aprender a administrar segredos – aprender a guardá-los e a revelá-los apenas pela vontade própria - constitui o primeiro momento na formação da pessoa individual...À medida, porém, que vai armazenando segredos, o individuo desenvolve as máscara e fachadas da personagem para esconder os segredos de sua pessoa...A revelação da verdade interior poderia causar embaraço, ou situações ridículas, ou rejeição. A pessoa e a personagem começam a dividir-se”. E finalmente, adverte que “não devemos guardar nossos segredos para sempre”.
Aqui, continuamos refletindo que, talvez, isto explique também nossa rejeição natural por pessoas muito boazinhas (personagens?), e termos mais consideração àqueles tempestivos, ditas de personalidade forte, vide o sucesso dos vilões nas novelas (pessoas mais reais?), com as quais intimamente mais nos identificamos.
Que, nossos netos, ainda na tenra infância, já começam, aparentemente, a desenvolver seus personagens (para surpresa e delícia deste Vô!), a ocultar intenções, a disfarçar atitudes.
Que, na outra ponta estamos nós, adentrando na terceira idade, quando parece que esse processo de alternâncias entre a pessoa e os personagens, que já foi majoritariamente do personagem, começa a ceder terreno para a pessoa. É como se estivéssemos já cansados de representar, e desejosos de se revelar (seria a perspectiva da morte a evidenciar a futilidade dos personagens?).
De uma coisa estamos convencidos: nossa vocação é caminhar sempre para ser cada vez mais 100% pessoas!

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